Por tamyres.matos
Rio - Mergulhadas numa crise financeira e sem funcionar há dois meses, a Universidade Gama Filho (UGF) e o Centro Universitário da Cidade (UniverCidade) podem ser descredenciados pelo Ministério da Educação. A informação foi dada nesta quarta-feira pelo ministro Aloizio Mercadante, um dia após alunos das duas universidades ocuparem as dependências do MEC, em Brasília. Nesta quarta-feira, a Prefeitura do Rio também decidiu recuar no processo contratual de R$ 108 milhões com a Organização Social (OS) Ação MedVida, que tem como um dos fundadores o controlador do grupo Galileo Educacional, mantenedor da Gama Filho e UniverCidade.

Após a coluna ‘Informe do DIA’ divulgar nesta quarta que a ganhadora da licitação para gerenciamento de 125 leitos de um hospital na Barra da Tijuca era a Ação MedVida— que responde a uma auditoria na Prefeitura de Maricá por danos aos cofres públicos —, a Secretaria Municipal de Saúde decidiu paralisar o processo e assinar o contrato com a empresa apenas quando tudo estiver esclarecido.

Tumulto na Gama Filho%3A cerca de 50 estudantes foram ao campus de Piedade para buscar declarações que garantam a transferência para outras instituiçõesUanderson Fernandes / Agência O Dia

Além da auditoria em andamento na Prefeitura de Maricá, o SUS também investigou recentemente a Ação MedVida por conta do mesmo convênio. No relatório, a comissão conclui que a OS não tem como assumir contratos milionários, por não ter receitas e despesas compatíveis — o contrato com Maricá era de R$ 21 milhões, bem abaixo do convênio com a Prefeitura do Rio, no valor de R$ 108 milhões.

O hospital que a Ação MedVida firmaria convênio com a Prefeitura do Rio aparece no site da empresa como Hospital Social Humanizado Verde, localizado na Avenida das Américas 3.250, na Barra. Neste mesmo endereço funcionou o Hospital Universitário Gama Filho, também antiga Clínica São Bernardo. Outro hospital da MedVida, que consta na página da OS, é o Hospital Social Humanizado na Taquara. Nesta unidade, ainda fechada, uma placa na entrada descreve a parceria da MedVida com a Gama Filho, com a inscrição de ‘Hospital Escola conveniado com o SUS’, mas no cadastro nacional do SUS a unidade não é encontrada.
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O vereador Paulo Pinheiro (Psol) solicitou à Prefeitura do Rio, baseado na Lei de Acesso à Informação, esclarecimentos sobre a ligação da MedVida com a Gama Filho. “Como uma instituição que anda mal das pernas, como o Grupo Galileo, tem parcerias com a OS que a prefeitura vai contratar?”, questionou o vereador.

Um dos fundadores da MedVida e também controlador do grupo Galileo, o pastor Adenor Gonçalves dos Santos, foi denunciado pela CPI das Universidades Privadas, na Assembleia dos Deputados do Rio em 2013 por contribuir com a má administração da Universidade Gama Filho. No relatório final, que já foi encaminhado para o Ministério Público Federal, Adenor foi apontado pelos crimes de apropriação indébita tributária e estelionato.

Comissão definirá esquema para transferência de alunos

Se a Universidade Gama Filho e a UniverCidade não cumprirem as melhorias firmadas com o MEC em outubro do ano passado, como o pagamento dos professores, ambas serão descredenciadas pelo Ministério. Ontem, após conversa com 50 alunos das instituições, que ocupavam a sede do MEC, o ministro Aloizio Mercadante anunciou que criará uma comissão para discutir a aplicação de uma política de transferência assistida para outras instituições, caso as duas faculdades do grupo Galileo Educacional sejam de fato descredenciadas. A comissão contará com cinco representantes do MEC, sete alunos do grupo Galileu e um da União Nacional dos Estudantes (UNE).

Unidade de saúde da MedVida na Taquara mostra%2C na placa%2C a relação com a Universidade Gama Filho Divulgação

Durante seu discurso, Mercadante foi enfático. Disse que já tinha suspendido o vestibular das duas universidades e não tolerava a continuidade delas nas condições de crise. “Se não cumprirem (as melhorias ajustadas em outubro), está no acordo que nós fizemos e que eles assinaram, fecha!”, declarou. A crise do grupo Galileu vem se arrastando desde 2011, quando as duas universidades foram vendidas. Em outubro do ano passado, o grupo anunciou a demissão de 310 professores.

ALUNOS RECLAMAM DO ABANDONO E DA FALTA DE INFORMAÇÕES
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Com campus abandonado, a única movimentação que se via durante a tarde de ontem na Universidade Gama filho, em Piedade, era uma aglomeração de cerca de 50 alunos com os ânimos exaltados na porta da secretaria. Eles tentavam conseguir uma declaração da faculdade, necessária para a transferência de matrícula para outra universidade, após a notícia de possível descredenciamento da Gama Filho pelo MEC.
Mas com poucos funcionários disponíveis para o atendimento, muitos tiveram de esperar durante horas e um princípio de tumulto se instalou no local. O estudante de Medicina Rafael Kuerques, de 23 anos, disse que muitos dos seus colegas que estão para se formar sofrem dramas por não conseguirem transferência. "Estou aqui desde as 10 horas da manhã. Fomos informados que iríamos receber a declaração, mas agora disseram que só vão carimbar nosso histórico escolar. É um absurdo, tem gente que passou em concurso para residência de Medicina mas vai perder a vaga por conta disso. Muitas faculdades não estão aceitando transferência”, disse.
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Luciana Dutra, 21, formanda de Administração, contou que a direção não oferece transparência aos estudantes. “Nossa documentação está presa, eles mandam boleto, mas ninguém consegue se comunicar com a diretoria. Não atendem os telefonemas, estamos abandonados”, reclamou.
Sofrendo com a terceira greve do ano, os estudantes da universidade estão mobilizados para cobrar uma solução do Ministério da Educação para a situação. Na terça-feira, cerca de 150 alunos e funcionários se reuniram na Candelária e seguiram pela Avenida Rio Branco até a Cinelândia como forma de protesto. Cartazes com pedidos de doação para funcionários que estão sem receber estão espalhados ao longo do campus.
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Durante a tarde de ontem, todo o comércio de restaurantes e lanchonetes das redondezas da faculdade estava fechado. Alunos contam que assaltos continuam frequentes na região e não há reforço no policiamento.