Por tamyres.matos

Rio - A pontada como a principal rede de abortos do Rio, a quadrilha que seria chefiada por José Luiz Gonçalves possuía ginecologistas indicados para todo o tipo de situação. De acordo com a investigação, Bruno Gomes, seria o indicado para fazer abortos mais delicados, quando a paciente tinha mais de 12 semanas de gestação. Mas as intervenções eram feitas em grávidas com até 21 semanas de gravidez. Em uma conversa telefônica interceptada com autorização da Justiça, em 10 de dezembro, Gonçalves recomenda uma grávida com 18 semanas a procurar pelo doutor Bruno.

Residência de um dos suspeitos de integrar a quadrilha. Há suspeita de que no local eram feitos abortosCarlo Wrede / Agência O Dia

Em outra conversa, registrada às 12h20 de 11 de dezembro, Gonçalves fala com o marido de uma mulher com 17 semanas de gravidez pelo telefone. E, mais uma vez, indica Bruno: “Não é arriscado, não. Fica tranquilo. Mas assim tem que ter um suporte. Um suporte cirúrgico. E eu conversei com mais dois colegas e achamos melhor encaminhar vocês para o doutor Bruno, entendeu? É um bom profissional nessa área”, disse.
O marido da gestante reclama do valor cobrado por Bruno: R$ 5 mil. Em seguida, Gonçalves liga para o ginecologista, que aceita reduzir o valor para R$ 3,5 mil.

ATENDIMENTO A DOMICÍLIO
Publicidade
Um ginecologista chegava a atender pacientes a domicílio, levando com ele todos os equipamentos médicos, chamados de ‘kit-aborto’, conforme a investigação. Quando a quadrilha foi desarticulada, em 13 de dezembro, policiais apreenderam instrumentos para fazer cirurgias no carro dele: uma maca portátil, apoios de perna metálicos, caixas de medicamentos e três blocos de receituários em nome da Casa de Saúde Nossa Senhora das Neves.
A 19ª DP (Tijuca), que investiga o caso, tenta identificar outros integrantes da quadrilha, como anestesistas, enfermeiros e colaboradores. “Com os dados das escutas, agendas telefônicas e informações de testemunhas, vamos verificar se outras pessoas que trabalhavam em hospitais tinham conhecimento da atuação da quadrilha”, disse o delegado Roberto Gomes, da 19ª DP.
Publicidade
GRAVAÇÃO
10 DE DEZEMBRO
Publicidade
Em conversa registrada às 12h46, uma gestante informa a Gonçalves, o suspeito de chefiar o esquema, que está com 18 semanas de gestação. Ele indica o doutor Bruno para “fazer uma microcirurgia”.
Gonçalves — Tá com quantas semanas?
Publicidade
M.— Dezoito (...).
Gonçalves — Olha só, presta atenção, M. Você tem que chegar lá. Falar com ele, que você passou pelo Gonçalves. Eu fiz contato com o Gonçalves. O Gonçalves falou que não tinha passagem, entendeu? E tinha que fazer uma microcirurgia, entendeu?
Publicidade
M. — Entendi.
Gonçalves — E ele me deu seu telefone. Eu estou aqui encaminhada pelo Gonçalves, ok?
Publicidade
M. — Entendi. Qual o nome dele?
Gonçalves — Doutor Bruno.
Publicidade
Você pode gostar