Corrida contra o tempo, a cinco meses da Copa do Mundo
Rio tem pressa em concluir obras essenciais para sediar evento. Fifa já criticou o Brasil por atrasos
Por thiago.antunes
Rio - Faltando cinco meses para a Copa do Mundo, o Rio corre contra o calendário apertado para cumprir a tempo os compromissos prometidos para a realização do evento. São três ‘responsabilidades’ que a capital carioca assumiu com a Fifa para a competição: implantar o corredor de ônibus Transcarioca, reformar o Estádio do Maracanã e seu entorno (com a criação de uma estação para passageiros de trem e metrô) e reestruturar o Aeroporto Internacional Antonio Carlos Jobim, o Galeão.
De todas as obras, esta última é a que mais corre risco de ficar apenas no papel — o cronograma chegou a atrasar mais de dois anos. As mudanças, por exemplo, no Terminal 1 já deveriam estar prontas há um ano e quatro meses. A nova data para a conclusão é abril, segundo a Infraero.
No Terminal 2, onde apenas um elevador estava funcionando na última quinta-feira e malas de dezenas de passageiros que tiveram um voo cancelado formavam uma fileira no saguão, a situação não é diferente. Pelo calendário inicial, as intervenções deveriam ter sido executadas até abril de 2011. Mas não ocorreram. A previsão agora também é para o mês de abril.
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O sistema de pistas está passando por reparos e, assim como ocorre nos outros setores do aeroporto, há atrasos. A conclusão deveria ter ocorrido em outubro. Agora, a promessa é para o mês que vem. Atualmente, o Galeão tem capacidade para atender 17,4 milhões de passageiros por ano. A demanda prevista para 2014 é de 18,9 milhões. Se, de fato, ocorrer a conclusão dos trabalhos no Terminal 2, o aeroporto poderá receber mais 13 milhões de pessoas. No entanto, quem frequenta o local tem poucas esperanças de mudanças.
“O ar-condicionado simplesmente não funciona. Acho um absurdo ter um aeroporto internacional em que isso ainda ocorre. O Galeão pode até receber turistas na Copa, mas, do jeito que está agora, vai fazer isso muito mal”, reclamou a fisioterapeuta Mariana Costa. Produtora de uma TV europeia, Luciana Azeredo teme pelo que possa ocorrer. “Teve um dia que o aeroporto estava tão lotado que simplesmente não havia lugar para as pessoas sentarem. Elas se acomodavam no chão mesmo.”
No assunto mobilidade, os riscos de um vexame na Copa também não estão descartados, apesar da garantia do governo do estado de que a estação multimodal do Complexo do Maracanã estará pronta até a competição.
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A estrutura terá cinco plataformas de embarque e desembarque, sendo três para atender os passageiros da Supervia e duas para os usuários do metrô. O estado afirmou que 90% das fundações já foram concluídas. O Portal da Transparência do governo federal mostra maio como prazo de entrega.
Na semana passada, o presidente da Fifa, Joseph Blatter, fez críticas à forma como o Brasil tem conduzido os preparativos para a Copa. Em entrevista ao jornal suíço ‘24 Heures’, ele disse que o país é o que apresentou mais atrasos desde que começou a trabalhar na federação, há sete anos.
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Turistas encontrarão Museu do Índio abandonado
Pivô de uma série de protestos, o prédio do Museu do Índio não vai ganhar um novo visual até a Copa. Os turistas que forem ao Estádio do Maracanã vão se deparar com a estrutura abandonada. Isso porque, em função das alterações nas obras, a Concessionária Maracanã vai revisar o cronograma para o local.
Com isso, os projetos básicos — que dão o escopo para as intervenções — podem ser apresentados ao estado em um prazo de até dois meses, contados a partir da última semana. Com a aprovação, a empresa tem ainda mais três meses para definir o programa de execução.
O imóvel será transformado em um Centro de Referências das Culturas Indígenas. Mas essa mudança não está na matriz de responsabilidades da cidade para a Copa. Também não é exigência da Fifa a construção de vagas de estacionamento sobre a linha férrea, ou em área próxima ao estádio. Por isso, a obra só vai ficar pronta depois da competição.
No BRT Transcarioca, é preciso acelerar
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Orçado em R$ 1,7 bilhão, o Transcarioca está previsto para o primeiro semestre. O corredor, que vai ligar a Barra da Tijuca ao Aeroporto Internacional do Galeão, também não fugiu do atraso. A prefeitura chegou a anunciar que a primeira fase do BRT entraria em funcionamento no ano passado. De acordo com a Secretaria Municipal de Obras, para a conclusão da obra, falta a finalização da implantação do pavimento rígido em alguns trechos e o término da instalação das estações de embarque e desembarque de passageiros.
O município terá que correr. Algum construções, como a ponte estaiada da Ilha do Governador e os viadutos sobre a Estrada do Galeão e do Terminal 1 do aeroporto internacional, ainda estão ainda em fase de execução. “Espero que o corredor não seja concluído de qualquer jeito, às pressas, como o Transoeste, porque depois é o dinheiro público que é usado para consertar os reparos malfeitos”, criticou a universitária Flávia Muniz, 25 anos.
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Na semana passada, O DIA mostrou que o Transoeste, inaugurado há um ano e meio, já tem 270 remendos na pista. A manutenção é paga pelo município, uma vez que o prazo de garantia dado pela construtora Odebrecht já expirou.
O Transcarioca vai passar por Barra da Tijuca, Curicica, Ilha do Governador, Taquara, Tanque, Praça Seca, Campinho, Madureira, Vaz Lobo, Vicente de Carvalho, Vila da Penha, Penha, Olaria e Ramos. Cerca de 440 mil passageiros devem andar diariamente no corredor, que terá 45 estações e 39 quilômetros de extensão.