Responsável por anúncio racista afirma ter sido motivado pelas cotas
Adolescente que publicou anúncio de venda de negros a R$ 1 diz que foi injustiçado em prova
Rio - A desculpa dada pelo adolescente que publicou anúncio com conotação racista no site de vendas Mercado Livre foi sua revolta por não ter conseguido ingressar em um curso técnico de Informática no Centro Federal de Educação Tecnológica (Cefet) Celso Suckow da Fonseca. Segundo ele, a adoção de cotas para estudantes negros prejudicou seus planos.
Identificado na tarde desta quarta-feira pela Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática (DRCI), X.., 15 anos, confessou a autoria de uma postagem que anunciava a venda de pessoas negras por R$ 1. O jovem disse ainda ter usado o e-mail da irmã de 11 anos para publicar o anúncio.
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Depois de duas horas de depoimento na DRCI, o adolescente foi liberado, deixando a delegacia à noite, acompanhado pelo avô e pela mãe. “Ele está arrependido do que fez. Meu filho não é racista. E pede desculpas diante das pessoas negras. Foi um ato impensado porque ele foi reprovado na primeira fase do exame”, disse a mãe, uma professora de 43 anos. Com uma fisionomia de preocupação, M. se limitou a perguntar: “Tem imprensa aí fora?”.
O adolescente foi localizado por agentes da DRCI na casa onde mora, em uma favela, e conduzido com a mãe. O silêncio no trajeto até a delegacia, na Cidade da Polícia, no Jacarezinho, só foi interrompido pelas lágrimas. “Ele não tem nenhum histórico de agressividade. No seu perfil, não há nada que indique preconceito ou racismo”, explicou o delegado Gilson Perdigão, da DRCI.
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O caso repercutiu há duas semanas, quando internautas divulgaram o episódio. Como o autor é menor de idade, o caso foi registrado como ato infracional, enquadrado no Artigo 20 da Lei 7.716, por ‘praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional”. X. será encaminhado à Vara da Infância e da Juventude.
Garoto tinha esperança de não ser identificado
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Em depoimento, a mãe do adolescente disse que só ficou sabendo do envolvimento do seu filho no episódio no último domingo, devido à repercussão do caso. Ela contou que pretendia apresentá-lo numa delegacia, mas ele teria pedido para esperar, porque tinha a esperança de não ser identificado. Em meio ao depoimento, o garoto chegou a ser repreendido pelo avô: “Você não pode falar de negros. No Brasil, todo mundo é mestiço.”
O adolescente foi localizado por meio de uma ronda virtual, com o cruzamento de dados numa rede social da internet. O método de rastreamento, segundo o delegado Gilson Perdigão, é mais trabalhoso, mas evita um rastreamento feito com base em ordem judicial.
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O caso também está sendo acompanhado pela Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, que divulgou uma nota ontem elogiando a Polícia Civil, por identificar ‘de forma rápida e diligente o responsável pelo anúncio racista.’
A Secretaria também cobrou providências do site de vendas Mercado Livre pelo episódio. Depois do alerta dado pelos próprios internautas, o site removeu o anúncio do seu conteúdo.