Por thiago.antunes
Rio - O nó no trânsito do Centro sem a Perimetral fez com que a chegada e saída do trabalho fosse mais difícil nesta segunda-feira tanto para motoristas quanto para quem seguiu os conselhos da prefeitura e optou pelo transporte público, especialmente os ônibus. “Levei quase duas horas para chegar ao estágio no Detran. O trânsito parou na descida da Ponte e nada andava. Praticamente perdi o dia de trabalho e não consigo voltar para Niterói, já que não passa ônibus”, relatou Bettina Lenziard, de 20 anos, que leva cerca de uma hora para vir de Niterói e aguardava, à tarde, condução na Presidente Vargas.
No novo ponto de ônibus%2C na Praça Mahatma Gandhi%2C os passageiros fazem fila para embarcar. O tráfego parado na região da Lapa%2C de tarde%2C retardou a chegada dos coletivosJoão Laet / Agência O Dia

O diretor do Clube de Engenharia, Luiz Carneiro, considerou que a prefeitura foi precipitada quando decidiu mudar o tráfego de maneira tão incisiva na cidade. Ele lembrou que o fechamento da Perimetral não poderia acontecer antes da entrega das vias subterrâneas alternativas. “O Carlos Alberto Muniz (então vice-prefeito) esteve lá com a gente e garantiu que o Elevado só seria fechado quando tivesse alternativa. Mas fizeram tudo ao contrário”, disse.

O secretário Municipal de Transportes, Carlos Roberto Osório, explicou que a definição do cronograma obedeceu questões técnicas. “Olha, os engenheiros disseram que não tinha como a obra seguir sem estas interferências”, concluiu.
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Moradora de Imbariê, em Duque de Caxias, a supervisora de atendimento Mariana Soares, 21, trabalha na Lapa. Normalmente, leva cerca de uma hora para chegar em casa, se não houver engarrafamento. Em pé na fila do ponto de ônibus que mudou para a Praça Mahatma Gandhi, ela parecia pouco otimista. “Hoje? Ah, do jeito que está eu vou levar mais de duas horas para voltar.”
Em seu veículo, o taxista Paulo Nobre, 38, só queria sair da região.

“Demorei três horas para vir de Olaria até o Centro e agora vou levar um passageiro para Jacarepaguá e não volto para cá nem por uma fortuna. Do jeito que está o trânsito, acabo pagando para trabalhar”, criticou ele, preso no engarrafamento da Presidente Vargas, no fim da manhã. Muitos passageiros também desistiram de ficar nos táxis. O advogado Giulli Andrei Lira, 33 anos, desceu no Centro e continuou a pé até o Aeroporto Santos Dumont.

O advogado Giulli Andrei Lira desistiu do táxi na Avenida Rio Branco%2C ao ver tudo parado%2C e seguiu a pé para o Aeroporto Santos Dumont Alexandre Vieira / Agência O Dia

“Tenho uma audiência no Espírito Santo e meu voo está marcado para as 10h. Passei na Avenida Rio Branco e vi tudo parado. Tive que vir andando e suando por causa dessa ação descabida da prefeitura, que só causa transtornos à população”, reclamou.

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Cancelado Esquenta do Bola Preta

Pela primeira vez, o tradicional bloco do Cordão da Bola Preta não vai aquecer os foliões no ‘Esquenta’ que sempre acontece uma semana antes do Carnaval, na Avenida Rio Branco. O cancelamento da tradição, segundo a Prefeitura do Rio, será necessário para não prejudicar o tráfego de veículos em dia útil, já que a via estará operando em mão dupla apenas para circulação de ônibus e táxis. 

A auxiliar administrativa Roberta Alexandre%2C de 21 anos%2C aprovou a sinalização da prefeitura e as informações sobre os novos pontos de ônibusAlexandre Vieira / Agência O Dia

A Riotur garantiu, no entanto, que o desfile oficial do Bola, que acontecerá no sábado de Carnaval, está mantido. Os desfiles do Monobloco e do Bloco da Preta, também na Rio Branco, não serão alterados. Por conta das intervenções no trânsito, o Rio Folia, no palco montado nos Arcos da Lapa, será transferido para a Praça 15.

Movimento das Barcas aumentou

A CCR Barcas informou que o movimento na linha Niterói - Praça 15 aumentou em 6% na manhã de ontem. Já na linha Cocotá (Ilha do Governador) - Praça 15, o número de passageiros quase dobrou: 94% a mais.

Porém, se por mar a população parece ter atendido ao pedido da prefeitura em usar o transporte público, na Ponte Rio Niterói não houve mudança no fluxo de veículos. De acordo com a concessionária, a rodovia manteve a mesma quantidade de carros de uma segunda-feira normal.

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Funcionários da Prefeitura retiram canteiro na saída do MergulhãoAlexandre Vieira / Agência O Dia

Caos sem a Perimetral

O primeiro dia útil sem a Perimetral foi marcado por caos no trânsito na chegada ao Centro, durante a manhã, para quem vinha de todas as regiões. Além dos engarrafamentos, que fizeram com que os cariocas demorassem até o dobro do tempo para chegar ao trabalho, as novas inversões de sentido de seis vias também confundiram motoristas e pedestres. Pequenas colisões de trânsito ainda contribuíram para piorar o tráfego na zona central da cidade.

Um dos pontos mais críticos era o acesso para quem vinha da Zona Sul pelo Aterro do Flamengo. Uma das opções para estes motoristas era seguir o mergulhão da Praça 15, que não aguentou o fluxo maior e formou um grande congestionamento na Avenida General Justo, que parou nos dois sentidos. A alternativa, que era contornar a alça em frente ao Aeroporto Santos Dumont para seguir pela Avenida Antonilo Carlos não foi diferente. Tudo parado.
Cariocas encontraram dificuldade para chegar ao Centro após o fechamento total da PerimetralAlexandre Vieira / Agência O Dia

Os motoristas que vinham da Zona Norte encontraram também as pistas sentido Candelária da Avenida Presidente Vargas paradas até cerca de meio-dia. As retenções chegaram à Avenida Francisco Bicalho e impactaram a Ponte Rio Niterói e a Avenida Brasil, cujas obras no Caju já prejudicavam quem tentava chegar ao Centro.

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Os transtornos levaram a Secretaria Municipal de Transportes a fazer uma agulha emergencial na saída do Mergulhão da Praça 15 para a Avenida Presidente Vargas, liberando mais uma faixa para veículos. Segundo o secretário de Transportes, Carlos Roberto Osório, a medida faz parte dos “pequenos ajustes” que o órgão vai implementar ao longo da primeira semana das mudanças.

“Essa foi uma decisão tomada hoje (ontem) de manhã como medida para dar mais fluidez ao tráfego naquela área, baseada na experiência e observação de campo”, declarou Ósório, afirmando também que novas alterações, como ajuste de tempo de sinal e realocação de funcionários ainda podem ser feitas.

Cariocas encontraram dificuldade para chegar ao Centro após o fechamento total da PerimetralAlexandre Vieira / Agência O Dia

Contrário ao fechamento da Perimetral, o professor de Engenharia de Transportes da Coppe/UFRJ, Paulo Cezar Ribeiro, afirma que o carioca precisará de paciência. Segundo ele, a solução só virá com a finalização do projeto da Via Expressa, em 2016.

“A Perimetral só poderia ter sido fechada pelo menos quando o túnel da Via Binario ficasse todo pronto. Só podemos eliminar uma via quando a alternativa dela fica pronta”, declarou Ribeiro. Já Osório, otimista, acredita que a população vai incorporar as mudanças aos poucos: “Qualquer alteração de grande porte gera estranhamento do motorista, por melhor que seja a sinalização. À medida que o tempo passa, ele compreende as alternativas novas e as incorpora ao seu dia a dia”, afirmou.
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Corrida mais cara 50% e o triplo do tempo de viagem
O presidente da Associação dos Taxistas do Brasil (Abrataxi), Ivan Fernandes, disse que a Prefeitura do Rio está inviabilizando a circulação de táxis no Centro. De acordo com ele, ontem, pela região, uma corrida chegou a levar o triplo do tempo normal.
Trânsito no Centro no primeiro dia útil após fechamento da Perimetral fica complicadoAlexandre Vieira / Agência O Dia

“Ficou tudo parado o dia inteiro. Só isso aí já aumenta em cerca de 40% o custo com combustível. Mas não é só isso, não. Porque tem passageiro que desce do carro e deixa o motorista no meio do engarrafamento. Preso ali não dá para ganhar dinheiro. E quem precisa pagar diária, faz como?”, indagou.

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E, se a vida dos taxistas ficou mais complicada por causa das mudanças no tráfego, os usuários também vão sentir no bolso um aumento nas corridas. “Não tenha dúvida que a corrida no Centro ficou mais cara. Acho que uns 50% pelo menos. Estava todo mundo perdido ontem. Está sendo comum ver profissional fugindo da Região Portuária, da Lapa e do Centro”, disse.
Agentes batem cabeça
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Enquanto os motoristas ficaram mais perdidos que cego em tiroteio com as mudanças no Centro, muitos dos agentes de tráfego pareciam cachorro em mudança quando cai do caminhão. “Eu estou aqui o dia todo e já vi cinco colisões. São esses guardinhas de verde que atrapalham tudo”, disse um segurança da Escola de Música da UFRJ, que fica na entrada da Lapa, um dos pontos com mais alterações no trânsito, e nas paradas de ônibus.
O secretário municipal de Transportes, Carlos Roberto Osório, informou que, só no Centro, a operação contou com 800 agentes, divididos entre equipes da CET-Rio, Guarda Municipal e da Concessionária Porto Novo. “A gente dividiu a cidade por áreas, demos treinamento para todo mundo. Mas é claro que uma mudança tão grande como esta ia precisar de ajustes,” ponderou Osório, que participou da operação nas ruas desde 5h30.
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Nas esquinas do Centro era comum ver as equipes responsáveis por dar informação aos motoristas “batendo cabeça”. Na Avenida Presidente Antônio Carlos, o operador da CET-Rio, Diogo da Silva, de 27 anos, que estava em uma moto da prefeitura, chegou a ser atingido por um ônibus e foi levado para o Hospital Miguel Couto.
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