Por thiago.antunes
Rio - O procurador da República no Rio de Janeiro, Orlando Monteiro Espíndola da Cunha,  solicitou que sejam investigadas denúncias de enriquecimento ilícito e sonegação fiscal contra o delegado Cláudio Ferraz, coordenador especial de Transporte Alternativo da Prefeitura do Rio e um dos cotados para a assumir a Chefia de Polícia Civil. Ofícios com as suspeitas foram encaminhados à Receita Federal, ao Ministério Público Estadual, à Corregedoria Geral Unificada e à Corregedoria Interna da Polícia Civil. 
“Recebemos as informações e enviamos aos órgãos competentes para investigação eventual da situação de patrimônio e incompatibilidade”, informou Cunha. Há cerca de um mês, ‘dossiê’ que aponta supostas irregularidades na evolução patrimonial de Ferraz foi entregue ao Ministério Público Federal.
Cláudio Ferraz nega as acusações e diz que vai enviar à Procuradoria documentos que provam sua inocênciaJoão Laet / Agência O Dia

Entre as denúncias estão a aquisição, nos últimos anos, de seis imóveis (entre eles fazenda, apartamentos e terrenos na Ilha do Governador, Recreio dos Bandeirantes e em Minas Gerais); a herança de posto de gasolina que não existia; a administração de empresas de compra e venda de metais preciosos, além de sonegação de impostos nas negociações e pagamentos abaixo dos valores de mercado. O delegado afirma que a aquisição dos imóveis é antiga.

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Foram anexados ainda ao ‘dossiê’ documentos que levantariam a hipótese de envolvimento do delegado com grileiros (exploradores de terra) e milicianos, durante a época em que ele comandava a Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas e Inquéritos Especiais (Draco-IE). À frente por quatro anos da especializada, Ferraz ficou conhecido pelo combate às milícias.
Ferraz garante que também encaminhará à Procuradoria Geral da República documentos que comprovam sua inocência e informou que o término dos processos de aquisição é recente, mas o início é bem antigo. 
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“Esses imóveis passaram para o meu nome em 2009 e 2010, mas o processo de aquisição tinha sido feito há muito tempo. Alguns são de 1993”, disse Ferraz. Sobre as suspeitas de envolvimento com milicianos, o delegado foi enfático. “Não respondo a nada e sequer fui chamado para prestar esclarecimentos na Justiça Federal ou Polícia Federal”, argumentou.
Imóvel teria origem em partilha de bens
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Dos seis imóveis tratados como suspeitos no ‘dossiê’ contra Cláudio Ferraz, estão uma fazenda e uma área no Terreirão, Recreio dos Bandeirantes, território dominado por milícia. Pelas acusações, Ferraz pagou de imposto de transmissão à Prefeitura do Rio pelo terreno de 707 metros quadrados R$ 2.908,73, o equivalente a 2% do valor calculado pelo município de R$ 145.436,08. Imóvel semelhante no local custaria R$ 1,3 milhão.
“Se há erro tributário, é outro papo. Além do mais, esses imóveis não foram adquiridos recentemente, como acusam”, alegou. Ele sustenta que a área foi adquirida em 1994, como crédito de dívida referente a cinema em Marechal Hermes de sua família. A execução foi feita em processo de partilha de bens que tramita na 4ª Vara Cível do Fórum Regional de Madureira.
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A dona da área do Terreirão é Sylvia Carvalho da Silva Pinto, apontada nos como envolvida em grilagem na Zona Oeste. Pela fazenda, Ferraz teria pago R$ 40 mil. “Há erros nos documentos. Mostram áreas que não pertencem, são de vizinhos, como plantões de café e cabeça de gado”, explicou.
Sindicato fará votação
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As acusações contra o delegado coincidem com a escolha de um novo nome para a Chefia de Polícia Civil. A delegada Martha Rocha comunicou que deixará o cargo em breve para seguir carreira política. Ferraz é o preferido e teria aceito o convite. Mas o vazamento do dossiê pode ‘forçar’ mudança na escolha.
Martha sairá na próxima sexta-feira. Por conta disso, o Sindicato dos Delegados de Polícia do Rio de Janeiro (Sindelpol) convocou para hoje e amanhã uma eleição interna para indicar um novo chefe da instituição. A votação poderá ser presencial ou via online.
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O sindicato pretende encaminhar ao Governo do Estado do Rio e à Secretaria de Segurança Pública uma lista com cinco nomes mais votados, de onde espera que o novo nome seja escolhido. “Tal medida demonstrará que o governo deseja uma Polícia Civil mais autônoma, sem interferências políticas, voltada para a excelência no atendimento à população e ao combate sistemático à corrupção e à criminalidade” diz Leonardo Affonso Dantas, presidente do Sindelpol.
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