Por thiago.antunes
Rio - O acidente com o caminhão basculante na Linha Amarela terça-feira, causando cinco mortes, deixou apreensivos moradores que dependem diariamente desse tipo de travessia sobre vias de grande movimento no Rio. A preocupação maior é com relação às precárias condições de segurança de boa parte delas, que apresentam ferrugem, vigas expostas,degraus soltos e concreto desgastado.
O risco de as instalações serem atingidas por veículos altos também amedronta. A instalação de sensores ou estruturas para indicar altura desapropriada são recursos simples que evitam acidentes e já são usados em alguns países. 
Publicidade
Um dos retratos do descaso com a manutenção é a passarela improvisada com tábuas, cabos de aço e tubos de ferro, em frente à Vila do João, no Complexo da Maré, sobre as pistas centrais e laterais da Avenida Brasil, que tem um fluxo de 250 mil veículos a cada 24 horas. A estrutura, por onde passam pelo menos 15 mil pessoas todos os dias, tem sérios problemas.
Construída provisoriamente com precárias tábuas e andaimes de aço%2C a passarela em frente à Vila do João%2C na Maré%2C assusta pedestres Fabio Gonçalves / Agência O Dia

“Todos os dias alguém se acidenta aqui. Eu já quebrei o pé ano passado, porque os degraus de madeira e o piso estão soltos. Idosos e crianças têm pavor, mas são obrigados a passar”, lamentou o vendedor Ronaldo Santos, 30 anos. Segundo moradores, o improviso já dura mais de três anos. Na mesma via — que tem 60 travessias ao longo de seus 58,5 quilômetros de extensão —, na altura de Bonsucesso, faltam barras de ferro na proteção de subida numa das passarelas.

Sem fiscalização adequada, é comum se ver, ao longo da via, motos e até cavalos cruzando as estruturas, que deveriam ser exclusivas para pedestres. Na Linha Vermelha, o aspecto da passarela existente em frente ao Hospital do Fundão, na Ilha do Governador, também é de total abandono. Por ela circulam, por exemplo, pacientes que precisam acessar a unidade e estudantes da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Na Linha Vermelha%2C a passarela em frente ao Hospital do Fundão tem corrosão e lixo em sua estruturaFabio Gonçalves / Agência O Dia

Sem iluminação, a passagem está com a estrutura enferrujada em toda sua extensão, que atravessa quatro pistas sentido Centro e Baixada. Há lixo sobre a estrutura e até escada de acesso improvisada com andaimes.

“Os responsáveis deveriam ter mais zelo com esse elevado e respeito conosco, que o utilizamos todos os dias”, prosteta o chefe de almoxarifado, Roberto Soares, 51. “À noite, quem se arrisca a passar aqui é louco”, lamenta a estudante Joanízia Torres da Silva, 25. Desde 2010, a Comissão de Vistoria de Pontes e Viadutos do município cobra a manutenção mais intensificada desses tipos de estruturas. Em regra, a vistoria de passarelas deve ser feita a cada dois anos, mas isso não é cumprido à risca, segundo a comissão.

Publicidade
Prefeitura promete fazer reparos
Em nota, a Prefeitura do Rio informou que atualmente tem sob sua responsabilidade, por meio da Coordenadoria Geral de Projetos (CGP), 315 passarelas. A CGP garantiu que todas elas são “fiscalizadas e monitoradas periodicamente” pelo órgão, por meio de quatro contratos de manutenção, mas não informou a peridiocidade exata.
Tábuas soltas e pregos expostos na travessia em frente à FiocruzFabio Gonçalves / Agência O Dia

“As intervenções de conservação das estruturas são realizadas de acordo com as necessidades específicas de cada região e em função do tipo de estrutura”, diz um trecho da nota, garantindo que só na Avenida Brasil, 41 das 60 passarelas foram recuperadas desde 2010, além da reconstrução de outras duas, em Bangu e Cidade Alta.

Sobre a passarela na altura da Vila do João, na Avenida Brasil, a Secretaria Municipal de Obras informou que a travessia é provisória e que deve ser substituída por uma estrutura definitiva nas obras da Transbrasil. “A CGP vai vistoriar o local amanhã (hoje) para verificar a estabilidade estrutural”, diz o texto.

Publicidade
Quanto à passarela localizada na Linha Vermelha, em frente ao Hospital do Fundão, a CGP ficou de enviar uma equipe ao local hoje para vistoriá-la. Já a fiscalização do tráfego de motos e animais é da CET-Rio e da Guarda.
Falta de fiscalização transforma as passarelas em territórios sem lei
Publicidade
Não só tábuas e estruturas de aço soltas apavoram moradores residentes próximos a passarelas no Rio. A falta de fiscalização também torna algumas delas um território fértil para vendedores ambulantes, que transformam os acessos às travessias em camelódromos e até pontos de vendas de drogas, segundo moradores. Uma das principais reclamações é em relação ao lixo deixado pelos camelôs .
“A sujeira deixada por aqui atrai ratos e baratas. Parece filme de terror”, lamenta o aposentado Joanilson Pereira, de 56 anos, que usa com frequência a passarela 9 da Avenida Brasil, na altura da Favela Nova Holanda. Em outras localidades, como nas proximidades do Parque União, as travessias servem também como abrigo para consumidores e vendedores de crack. Elas também encurtam a distância para quem quer comprar drogas nas bocas de fumo na mesma região, entre os bairros da Penha e Bonsucesso.
Publicidade
“O movimento de carros particulares e taxistas por aqui é frenético, dia e noite. Param nas pistas laterais, enquanto viciados cruzam as passarelas para comprar cocaína, maconha e crack”, testemunha Y., de 42 anos.
Publicidade