Rio - O cineasta Eduardo Coutinho, de 81 anos, foi assassinado a facadas na manhã deste domingo em sua casa na Lagoa, Zona Sul do Rio. Segundo o delegado Rivaldo Barbosa, titular da Divisão de Homicídios (DH), um dos filhos do documentarista, o jornalista Daniel de Oliveira Coutinho, de 41 anos, teria sido o responsável pelo crime. Daniel também teria tentado matar a mãe e se matar.
O crime aconteceu por volta das 11h. Quando os bombeiros chegaram, minutos depois, o cineasta já estava morto. Em entrevista coletiva na noite deste domingo, o delegado afirmou que Maria das Dores de Oliveira Coutinho, mulher de Eduardo, só conseguiu se salvar porque se trancou no banheiro e de lá ligou para outro filho. Ela levou duas facadas na altura dos seios e três no abdômen e está internada em estado grave no Hospital Municipal Miguel Couto, na Gávea, onde passou por cirurgia.
Ainda segundo Rivaldo, após o crime, Daniel se esfaqueou duas vezes e então bateu na porta de vizinhos. Uma das testemunhas ouvidas pela DH relatou que ele repetia a frase “eu libertei o meu pai e tentei libertar a minha mãe e a mim”. Segundo relatos, Daniel teria problemas mentais e sofreria de esquizofrenia. Ele também passou por uma cirurgia no Miguel Couto e seu estado de saúde é estável.
“O que aconteceu hoje é a expressão genuína da palavra tragédia. Um filho mata o pai, tenta matar a mãe e cometer suicídio. Não há dúvidas de que Daniel é o autor dos crimes”, disse Rivaldo.
O filho do cineasta foi preso em flagrante e está sob custódia da Polícia Militar até que receba alta. Ele deverá responder por homicídio doloso e tentativa de homicídio. Ainda de acordo com Barbosa, não é possível diagnosticar qualquer doença psicológica em Daniel já que não há indícios de que ele tenha tido outros surtos no passado.
Até a noite deste domingo, quatro testemunhas foram ouvidas na DH. A Polícia Civil já pediu imagens do sistema de vigilância do prédio e aguarda a perícia técnica do local do crime, que deve ficar pronta em 24 horas. No apartamento, foram apreendidas duas facas de cozinha, que estavam no banheiro de empregada. Nos próximos dias, o delegado pretende ouvir moradores do prédio e os bombeiros que fizeram o socorro de Daniel e Maria das Dores. Imagens das câmeras de vigilância também serão analisadas.
Parentes do cineasta foram neste domingo ao Instituto Médico Legal fazer o reconhecimento do corpo, que não pode ser liberado pela falta de apresentação de documentação original do cineasta. O corpo de Eduardo Coutinho será velado a partir das 10h, na Capela 3 do Cemitério São João Batista, em Botafogo. O enterro está marcado para as 16h.
Cineasta premiado em festivais internacionais
Respeitado no mundo do cinema, Eduardo Coutinho é considerado um gênio do documentário no Brasil. Figura querida também por trás das câmeras, ele reinventou o gênero, dando voz a personagens e acontecimentos, revelando um país, até então, desconhecido.
Premiado no país e em festivais internacionais, o cineasta deixou pelo menos 24 obras. Uma delas, ‘’Cabra marcado para morrer’ (1984) é responsável por 9 prêmios, como o Hours Concours no Festival de Gramado, em 1985.
O documentário marcou sua carreira e conta a vida de um líder camponês da Paraíba,assassinado em 1962. As filmagens foram interrompidas em 1964, no Regime Militar, e retomadas 17 anos depois.
Eduardo Coutinho também trabalhou no Globo Repórter entre as décadas de 1970 e 1980. Entre tantos filmes que marcaram sua carreira, ‘Babilônia 2000’ (2000) — 11 prêmios —, ‘Edifício Master’ (2002) — cinco — e ‘Jogo de cena’ (2007), com as atrizes Marília Pêra, Fernanda Torres e Andréa Beltrão, são lembrados.