Rio - Duas das cinco comunidades que vão receber Unidades de Polícia Pacificadoras (UPPs) — anunciadas pelo secretário de Segurança Pública, José Mariano Beltrame, no início do mês — foram definidas. O Complexo da Mangueirinha, em Duque de Caxias, e o Morro da Coruja, em São Gonçalo, vão ser contempladas com a instalação das unidades até o fim do semestre. Enquanto a população dessas regiões vibra com a possibilidade de se ver livre do domínio do tráfico, moradores de áreas já pacificadas não têm a mesma sorte. A guerra voltou a eclodir no Complexo da Penha, com uma policial da UPP morta, outro militar ferido e dois moradores baleados.
A decisão de onde instalar as unidades leva em conta uma série de fatores, como o índice de criminalidade e a ação do tráfico nas regiões. Nos dois casos, os criminosos, reforçados pelo apoio de bandidos da mesma facção que fugiram da capital, estão aterrorizando bairros inteiros com assaltos e assassinatos, levando violência e medo à população.
Estratégico
A comunidade da Mangueirinha está ocupada desde agosto, quando foi instalada no local uma Companhia Destacada. O local era considerado estratégico por traficantes e virou um ponto de alta periculosidade pela migração de criminosos que fugiam das UPPs da capital. Pelo nível de violência, a Mangueirinha recebeu um dos maiores efetivos de companhias, com quase 200 policiais. Pelos planos da Secretaria de Segurança, a companhia vai ganhar reforço de agentes e vai se transformar em uma UPP.
Em janeiro, Beltrame havia anunciado ainda mais duas UPPs para a Baixada que, segundo o planejamento baseado em estudos feitos pelos setores de Inteligência das polícias, devem ser instaladas em comunidades de São João de Meriti e Belford Roxo.
Do outro lado da Baía de Guanabara, o Morro da Coruja também está na mira das forças de Segurança para receber uma UPP. Desde o fim do ano, a polícia vem fazendo diversas operações na região para prender traficantes. O Morro do Salgueiro, também em São Gonçalo, deve ganhar uma Companhia Destacada até junho. A comunidade é uma das mais bem armadas do Comando Vermelho.
Crimes nas comunidades
Há uma semana, traficantes dos complexos da Penha e do Alemão vêm fazendo ataques orquestrados contra policiais nas comunidades dos dois conjuntos de favelas. Terça-feira, bandidos atiraram contra a base e postos das UPPs Alemão e Nova Brasília. O prédio do teleférico da Itararé e a 45ª DP (Alemão) também foram atingidos. O grupo — já identificado pela Polícia Civil — ainda jogou granada em frente à unidade.
Dois dias depois, novo ataque: dois coquetéis molotov foram arremessados no pátio da delegacia, incendiando dois carros de policiais Civil e Militar. Ao mesmo tempo, outro grupo fazia disparos na comunidade do Alemão. Sábado, bandidos travaram intenso confronto no Parque Proletário.
Em novembro, o soldado Melquisedeque Basílio dos Santos, da mesma UPP, foi morto após ação de traficantes.
Traficantes atacam unidade pacificadora do Complexo da Penha
Em uma nova onda de ataques criminosos, bandidos abriram fogo ontem à tarde contra PMs da UPP do Parque Proletário, no Complexo da Penha. Uma soldado, atingida na barriga, morreu e dois moradores e outro PM ficaram feridos a tiros.
Um PM contou que estava em um grupo de cinco agentes fazendo patrulhamento na Praça São Lucas por volta das 15h, quando bandidos armados com fuzis calibre 5.56 e a bordo de um carro abriram fogo. Os agentes reagiram e houve troca de tiros. Policiais contaram que a soldado Alda Castilhos, de 28 anos, foi atingida na barriga e seu colega de farda, Marcelo Gilliard, foi ferido na perna ainda na rua. Já o delegado da Divisão de Homicídios (DH), André Leiras, afirmou que a dupla de PMs foi baleada dentro do contêiner que serve de base da UPP.
Eles foram retirados do local por policiais da UPP, que chegaram a fazer disparos de fuzil para o alto do morro. A imagem foi registrada em vídeo e divulgada em rede social na internet.
A soldado Alda ainda chegou a ser operada, mas morreu no Hospital Getúlio Vargas, na Penha. Já o soldado Gilliard, fez uma cirurgia para a retirada de projétil que atingiu sua perna. Até a noite de ontem, a informação era de que o disparo não atingiu nenhuma artéria.
O local foi isolado e periciado. Marcas de tiro ficaram nas paredes da unidade, assim como um rastro de sangue que, segundo PMs, teria sido deixado pelo policial Marcelo, quando ele tentou entrar no local já ferido. A DH vai solicitar imagens das câmeras de comércios da praça.
Um casal que estava num Marea branco, estacionado na praça, também foi alvejado. Elaine Ribeiro de Albuquerque foi baleada na cabeça e está internada no Getúlio Vargas em estado gravíssimo. Antônio Marco Travasso de Albuquerque, 35, foi atingido no ombro, medicado e liberado.
“Fui buscar uma bolsa dentro da loja que tenho, em frente ao contêiner. Meu filho de 15 anos estava lá dentro. Quando fui manobrar o carro, levei o tiro”, contou Antônio. O adolescente nada sofreu. O delegado André descarta a hipótese de o casal ter sido baleado pelos PMs.
Policiais de outras UPPs reforçaram o policiamento da comunidade durante a tarde e o Batalhão de Operações Especiais fez varredura em buscas dos criminosos. Carros e pessoas foram revistados.
A soldado Alda cursava Psicologia e estava noiva desde julho. Amigos dela se revoltaram com o crime e fizeram desabafos nas redes sociais. “Mais uma amiga de farda morta. Aonde vamos parar?”, escreveu um amigo da policial.