Rio - A fotografia de um adolescente negro nu, de aproximadamente 16 anos, preso pelo pescoço por uma trava de bicicleta, em um poste no Aterro do Flamengo, já ganhou a imprensa internacional. O site do tabloide britânico 'Daily Mail' destaca a imagem do rapaz com o título: "Vigilantes brasileiros pegam 'ladrão' e usam trava de bicicleta para prendê-lo pelo pescoço em um poste (após deixá-lo nu)".
Na reportagem, o jornal destaca a atitude de algumas pessoas nas redes sociais, que apoiaram a violência contra o jovem.
No Brasil, a imagem chocou organizações sociais, usuários do Facebook e moradores da área, que reconheceram o menor como um assaltante da região.
Segundo a autora da foto, a coordenadora do Projeto Uerê, Yvonne Bezerra de Mello, que é moradora do bairro, o garoto foi encontrado por volta das 23h, na sexta-feira, próximo à esquina das avenidas Oswaldo Cruz e Rui Barbosa, com um corte na orelha e marcas de tortura nas costas.
Ele teria dito que um grupo de três motoqueiros mascarados, intitulados de “Os justiceiros”, foi o responsável pela agressão. Um amigo que estaria com ele também teria sido espancado, mas não foi localizado. O adolescente, que precisou da ajuda de bombeiros para se libertar do local, foi levado para o Hospital Souza Aguiar. Em uma das fotos divulgadas, o menino aparentava chorar.
O fato dividiu opiniões na página na rede social da artista plástica. Enquanto muitos apoiaram a atitude de Yvonne de resgatar o jovem, outros criticaram a iniciativa. Em um dos comentários, um internauta postou que o fato foi “simbólico” porque, se a polícia não faz seu papel de prender, a população faz. Já outro afirmou que também poderia ter sido a vítima, porque é negro, morador da região e frequentemente não usa camisa.
“Muitas pessoas me mandaram mensagem com aqueles argumentos do tipo ‘está com pena, leva para casa’. Mas, se ele assaltava, a polícia tinha que ter prendido. O que não posso aceitar é que, em um bairro residencial, tenha acontecido isso”, disse Yvonne.
A assessoria de imprensa da Polícia Civil afirmou que a delegada Monique Vidal, titular da 9ª DP (Catete), registrou o fato, mediante a notícia veiculada pela mídia, como lesão corporal. “O adolescente foi identificado, e os agentes estão realizando diligências para localizá-lo para ele prestar depoimento”, disse a nota.