Rio - Yvone Bezzerra de Melo, coordenadora do Projeto Urerê, que ajudou o menor torturado por um grupo de jovens no Flamengo, disse estar sendo ameaçada pela Internet. Em depoimento, na tarde desta quarta-feira, na 9ª DP (Catete), Yvone afirmou que 'está de saco cheio dessa sociedade'. "Estou sendo ameaçada por várias pessoas e acusada de estar defendendo bandido. Estou de saco cheio dessa sociedade, p*** que pariu", desabafou à imprensa.
A delegada-titular da 9ª DP, Monique Vidal, revelou que Yvone foi chamada por um vizinho para socorrer o adolescente. "Segundo ela, PMs estavam por perto, mas ela já havia acionado os bombeiros, que levaram o rapaz para o hospital". Sobre o grupo 'Justiceiros do Flamengo', Vidal afirmou que a polícia trabalha para identificar os agressores do menor. "Estamos investigando e tentando identificar os reponsáveis. Procuramos os garotos que fazem parte da gangue e o adolescente que é vítima e infrator, já que ele tem duas passagens pela polícia, para ajudar a reconhecê-los".
Vidal ainda condenou os justiçamentos feito pelo grupo. "Ninguém pode fazer isso, prender uma pessoa a um poste. É trabalho da polícia, que deve ser acionada em qualquer caso". Sobre os assaltos recorrentes no bairro da Zona Sul, Vidal afirmou que é preciso estender o patrulhamento na região. "É o trabalho da Polícia Militar que precisa ser ampliado", finalizou.
Suspeitos foram presos
Os "Justiceiros do Flamengo" foram presos na madrugada da terça-feira e encaminhados à 9ª DP. Os suspeitos estavam na pista de skate do Parque do Flamengo quando foram surpreendidos pelos policiais.
Os presos maiores de idade foram autuados por formação de quadrilha e corrupção de menores. Já os menores de idade foram enquadrados por formação de quadrilha. Eles pagaram fiança e foram liberados. Segundo moradores, o grupo vem atuando no bairro desde o ano passado. Eles agridem e torturam pessoas que julgam suspeitas.
A imagem chocou organizações sociais, usuários do Facebook e moradores da área, que reconheceram o menor como um assaltante da região. Segundo a autora da foto, a coordenadora do Projeto Uerê, Yvonne Bezerra de Mello, que é moradora do bairro, o garoto foi encontrado por volta das 23h, na sexta-feira, próximo à esquina das avenidas Oswaldo Cruz e Rui Barbosa, com um corte na orelha e marcas de tortura nas costas.
Ele teria dito que um grupo de três motoqueiros mascarados, intitulados de “Os justiceiros”, foi o responsável pela agressão. Um amigo que estaria com ele também teria sido espancado, mas não foi localizado. O adolescente, que precisou da ajuda de bombeiros para se libertar do local, foi levado para o Hospital Souza Aguiar. Em uma das fotos divulgadas, o menino aparentava chorar.
O fato dividiu opiniões na página na rede social da artista plástica. Enquanto muitos apoiaram a atitude de Yvonne de resgatar o jovem, outros criticaram a iniciativa. Em um dos comentários, um internauta postou que o fato foi “simbólico” porque, se a polícia não faz seu papel de prender, a população faz. Já outro afirmou que também poderia ter sido a vítima, porque é negro, morador da região e frequentemente não usa camisa.
“Muitas pessoas me mandaram mensagem com aqueles argumentos do tipo ‘está com pena, leva para casa’. Mas, se ele assaltava, a polícia tinha que ter prendido. O que não posso aceitar é que, em um bairro residencial, tenha acontecido isso”, disse Yvonne.
Caso ganha repercussão internacional
O site do tabloide britânico 'Daily Mail' destacou nesta terça-feira a imagem do rapaz com o título: "Vigilantes brasileiros pegam 'ladrão' e usam trava de bicicleta para prendê-lo pelo pescoço em um poste (após deixá-lo nu)". Na reportagem, o jornal destaca a atitude de algumas pessoas nas redes sociais, que apoiaram a violência contra o jovem.