Por thiago.antunes

Rio - Mais uma caso de criança morta por suposta omissão médica na Maternidade Municipal Maria Amélia Buarque de Holanda, no Centro, foi registrado ontem, na 5ª Delegacia de Polícia (Mem de Sá). Segundo o estudante de engenharia Rafael Rodrigues, de 22 anos, sua filha Beatriz nasceu morta na sexta de manhã, depois que sua mulher, Helena Maria Mallett, 30, agonizou durante a madrugada inteira, sem atendimento médico.

De acordo com Rafael, enfermeiros disseram que a dor que Helena sentia era normal, e só chamaram os médicos na manhã seguinte, quando foi constatado que não havia mais batimentos cardíacos na criança. 

Rafael Rodrigues%2C pai do bebê morto%2C leva atestado de óbito à 5ª DP%3A denúncia de omissão médicaCarlo Wrede / Agência O Dia

“No desespero porque minha mulher não encontrava mais uma posição em que não sentisse dor, urinava sangue e os enfermeiros já não nos atendiam, cheguei a ir para o corredor perguntar se alguém era médico. Só na sexta de manhã, quando ela já berrava de dor, enfermeiros vieram e constataram que não havia mais batimentos cardíacos na criança, e chamaram os médicos, que levaram ela para fazer a cesária e retirar minha filha morta. Estava tudo certo com ela, fizemos todos os exames”, disse Rafael, que também pretende acionar a Justiça e o Ministério Público.

Segundo Rafael, a delegada Karina Regufe pediu a necrópsia do bebê e disse que encaminharia as informações para a Justiça. O caso já seria o 11ª na delegacia contra a maternidade em oito meses, todos ainda sendo investigados. De acordo com o MP, há um procedimento sobre as mortes na maternidade tramitando na 4ª Promotoria de Justiça de Tutela Coletiva da Saúde.

Pai quer evitar novas tragédias

Mesmo com a dor da perda de sua filha, Rafael ontem se desdobrava para divulgar o fato, segundo ele, para que nenhum caso semelhante com o seu ocorra. “Não quero que ninguém mais passe pelo sofrimento que passei, de ver minha filha morta no colo da minha mulher, com ela pedindo ‘acorda, filha, eu te amo’. Essa imagem não sai da minha cabeça, não estou conseguindo dormir. Também não temos força para entrar no quatro de Beatriz, mas vamos entrar com a mesma a alegria que construímos, porque a culpa não foi nossa. Em nenhum momento as enfermeiras cogitaram que a gravidez seria de risco. A gestação foi tranquila, foi tudo tão gostoso”, desabafou, às lágrimas.

Segundo a polícia civil, a documentação das mães e dos bebês dos outros casos registrados e as escalas de plantão de funcionários destes dias, solicitadas pela delegacia para identificar os funcionários e intimá-los a depor, não foram entregues.

Hospital nega haver omissão

A direção do Hospital Maternidade Maria Amélia Buarque de Holanda afirmou que Helena Maria Coelho Mallet não apresentava qualquer sinal clínico de infecção ou de complicação do trabalho de parto e às 9h25 do dia 31, ao primeiro sinal de anormalidade, foi iniciada a cesariana, “constatando-se óbito fetal e líquido amniótico com presença de pus.”

“A cultura realizada no sangue do cordão umbilical do natimorto identificou presença de infecção por Streptococcus, bactéria não detectada nos exames preconizados pelo Ministério da Saúde para o pré-natal”, disse a nota. Segundo assessoria de imprensa da Secretaria Municipal de Saúde, todos os óbitos materno-infantis são investigados por comissões. Quanto à denúncia de omissão de socorro por médicos feita pelo pai da menina morta, a secretaria justificou que as enfermeiras da unidade “são enfermeiras obstetras.”

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