Por tamyres.matos

Rio - A Polícia Civil do Rio indiciou ontem Fábio Raposo Barbosa, de 22 anos, como coautor da explosão do rojão que atingiu o cinegrafista da TV Bandeirantes Santiago Andrade no protesto contra o aumento das tarifas de ônibus na última quinta-feira. Ele já tem registros de ameaça, dano ao patrimônio público e associação criminosa na polícia por seu envolvimento nas manifestações do ano passado.

Ele se apresentou espontaneamente na madrugada de ontem na 16ª DP, da Barra, depois que imagens divulgadas pela TV Brasil na noite de sexta-feira apontavam para a participação de uma segunda pessoa no lançamento do explosivo. No vídeo, poucos minutos antes do ferimento, Barbosa aparece segurando o rojão para o rapaz de camiseta cinza e calça jeans que tinha o rosto coberto e que é apontado por testemunhas como o autor do disparo. Este ainda não foi identificado. Barbosa diz que encontrou o artefato no chão e apenas o repassou para outra pessoa.

Imagem mostra a fuga do suposto manifestante que teria atirado o rojãoBBC / Band

“Ele (Barbosa) estava extremamente nervoso, gaguejando, e diz que não conhece o outro. As imagens mostram que eles tinham uma certa intimidade”, afirmou o delegado Maurício Luciano de Almeida, titular da 17ª DP, em São Cristóvão.

Segundo o delegado, Barbosa foi indiciado por tentativa de homicídio qualificado por uso de explosivos e pelo crime de explosão. Os crimes podem chegar a 35 anos em regime fechado. Ele prestou depoimento e foi liberado por ter se apresentado espontaneamente, mas sua prisão preventiva ainda não está totalmente descartada. A polícia disse que o outro envolvido responderá pelos mesmos crimes.

Os policiais montaram uma força-tarefa para identificar o outro suspeito. Serão avaliadas imagens que chegaram da imprensa, do Comando Militar do Leste e da CET-Rio para identificar o rapaz de camiseta cinza. Com afundamento de crânio, Santiago continua em estado muito grave e em coma induzido no Souza Aguiar.

ACUSADO JÁ FOI AUTUADO EM PROTESTOS

Por volta da 1h30 de ontem, Fabio Raposo chegou nervoso ao prédio onde mora sozinho, no Lins, e comentou com o porteiro que sua foto tinha sido divulgada e que um advogado havia mandado ele se apresentar, porque a polícia viria atrás dele. Em poucos minutos, o rapaz foi até o seu apartamento, no segundo andar, pegou alguns documentos e voltou correndo. Teria pegado um ônibus, segundo conhecidos, e partido para a delegacia da Barra da Tijuca.

No condomínio, onde mora desde criança, Fabio é considerado uma pessoa calada, de poucos amigos. Isso explica o fato de ele ir sem companhia para se apresentar como o rapaz que aparece nas fotos divulgadas na imprensa. Aliás, esta não foi a primeira passagem dele na polícia. No dia 7 de outubro, Fabio foi autuado na 5ª DP (Mem de Sá) por dano ao patrimônio público e associação criminosa, após participação em um protesto. Um mês depois, no dia 22, ele voltou para a delegacia. Desta vez, na 14 ª DP (Leblon), responder por suposto crime de ameaça ao ser pego em uma manifestação.

Fabio se apresentou espontaneamente na DPReprodução Globo News

Fabio enfrenta problemas também em casa. A relação com os pais, que são separados, é tumultuada. O jovem não quis morar com a mãe, porque ela se casou de novo. O pai, que mora em outro bairro, teria pressionado Fabio, após ele largar a faculdade de Contabilidade. O apartamento no Lins foi deixado para o filho como solução do impasse. No estúdio onde fez algumas das suas tatuagens, colegas contaram que ele estava interessado pela profissão e já tinha comprado até uma máquina para começar os desenhos.

‘O artefato não era meu’

Fabio Raposo concedeu entrevista à TV Globo, logo que deixou a delegacia. “Eu era o de camisa, bermuda e tênis, com as tatuagens. Era eu passando o artefato, mas ele não era meu”, disse. “Jogaram uma bomba de gás lacrimogêneo próximo a mim. Eu coloquei a minha máscara, porque a bomba de gás machuca o peito.”

O acusado explicou como o rojão foi parar em suas mãos: “Vi que um rapaz que estava correndo deixou uma bomba cair. Não sei exatamente o que era.” Fábio afirmou ter passado o rojão: “Veio um cara e disse ‘passa aí para que eu jogo.’” Ele disse que não teve intenção de machucar o cinegrafista. “Eu quero o bem do repórter que está em coma. Eu não sei o que falar, mas é isso. Melhoras aí.”

O estudante explicou por que procurou a polícia. “Eu só vim porque minha foto foi divulgada em mídias internacionais, e eu recebi ligações de pessoas desconhecidas falando para dizer que fui eu mesmo”, disse o acusado.

Queima, só se for autorizada

O rojão treme-terra, semelhante ao que feriu o cinegrafista Santiago Andrade, custa R$ 8,50 e pode ser comprado facilmente em casas do ramo por qualquer pessoa acima de 18 anos. O Decreto Federal 3.665, de 2000, é claro em seu Artigo 4º: fogos de classes C e D (da qual pertence o artefato) só podem ser queimados “com licença da autoridade competente, com hora e local previamente designados, nos casos de festa pública, seja qual for, e dentro do perímetro urbano, seja qual for o objetivo”.

A Lei Estadual 5.972, de 2011, determina que a comercialização de fogos de artifício obedeçam ao decreto citado acima e à Lei Federal 4.238, de 1942. Neste sábado, equipe do DIA constatou a venda de rojões treme-terra numa casa de fogos em Duque de Caxias. Nenhum documento que comprovasse licença do Exército — que disciplina a fabricação e venda do produto — era solicitado pelos vendedores.

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