Por tiago.frederico

Rio - Sem algemas, de bermuda e aparentemente nervoso, Fábio Raposo Barbosa, de 22 anos, chegou à 17ª DP, de São Cristóvão, na manhã deste domingo. Ele estava acompanhado de um advogado e do delegado Maurício Luciano, responsável pelo caso. O tatuador foi preso, no início da manhã deste domingo na casa de seus pais, no Recreio dos Bandeirantes, após ter a prisão preventiva decretada.

Fábio Raposo%2C que passou rojão a suspeito de ferir cinegrafista%2C chega à 17ª DP%2C de São Cristóvão. Ele foi indiciado por tentativa de homicídioCarlos Moraes / Agência O Dia

Fábio deverá prestar um longo depoimento antes de ser conduzido até uma casa de custodia. Nas próximas horas, o delegado deverá conceder nova entrevista aos jornalistas. Ontem, a Polícia Civil indiciou o tatuador como coautor da explosão do rojão que atingiu o cinegrafista da TV Bandeirantes Santiago Andrade durante protesto contra o aumento das tarifas de ônibus, realizado na última quinta-feira. Fábio já tem registros de ameaça, dano ao patrimônio público e associação criminosa na polícia por seu envolvimento durante as manifestações do último ano.

O jovem se apresentou espontaneamente na madrugada de sábado na 16ª DP, da Barra, depois que imagens divulgadas pela TV Brasil na noite de sexta-feira apontavam para a participação de uma segunda pessoa no lançamento do explosivo. No vídeo, poucos minutos antes do ferimento, Barbosa aparece segurando o rojão para o rapaz de camiseta cinza e calça jeans que tinha o rosto coberto e que é apontado por testemunhas como o autor do disparo. Este ainda não foi identificado. Barbosa diz que encontrou o artefato no chão e apenas o repassou para outra pessoa.

Imagem mostra a fuga do suposto manifestante que teria atirado o rojãoBBC / Band

“Ele (Barbosa) estava extremamente nervoso, gaguejando, e diz que não conhece o outro. As imagens mostram que eles tinham uma certa intimidade”, afirmou o delegado Maurício Luciano de Almeida, titular da 17ª DP, em São Cristóvão.

Segundo o delegado, Barbosa foi indiciado por tentativa de homicídio qualificado por uso de explosivos e pelo crime de explosão. Os crimes podem chegar a 35 anos em regime fechado. Ele prestou depoimento e foi liberado por ter se apresentado espontaneamente, mas sua prisão preventiva ainda não está totalmente descartada. A polícia disse que o outro envolvido responderá pelos mesmos crimes.

Os policiais montaram uma força-tarefa para identificar o outro suspeito. Serão avaliadas imagens que chegaram da imprensa, do Comando Militar do Leste e da CET-Rio para identificar o rapaz de camiseta cinza. Com afundamento de crânio, Santiago continua em estado muito grave e em coma induzido no Souza Aguiar.

ACUSADO JÁ FOI AUTUADO EM PROTESTOS

Por volta da 1h30 de ontem, Fabio Raposo chegou nervoso ao prédio onde mora sozinho, no Lins, e comentou com o porteiro que sua foto tinha sido divulgada e que um advogado havia mandado ele se apresentar, porque a polícia viria atrás dele. Em poucos minutos, o rapaz foi até o seu apartamento, no segundo andar, pegou alguns documentos e voltou correndo. Teria pegado um ônibus, segundo conhecidos, e partido para a delegacia da Barra da Tijuca.

No condomínio, onde mora desde criança, Fabio é considerado uma pessoa calada, de poucos amigos. Isso explica o fato de ele ir sem companhia para se apresentar como o rapaz que aparece nas fotos divulgadas na imprensa. Aliás, esta não foi a primeira passagem dele na polícia. No dia 7 de outubro, Fabio foi autuado na 5ª DP (Mem de Sá) por dano ao patrimônio público e associação criminosa, após participação em um protesto. Um mês depois, no dia 22, ele voltou para a delegacia. Desta vez, na 14 ª DP (Leblon), responder por suposto crime de ameaça ao ser pego em uma manifestação.

Estudante se apresentou à polícia e admitiu ter passado rojão que feriu cinegrafistaReprodução Globo News

Fabio enfrenta problemas também em casa. A relação com os pais, que são separados, é tumultuada. O jovem não quis morar com a mãe, porque ela se casou de novo. O pai, que mora em outro bairro, teria pressionado Fabio, após ele largar a faculdade de Contabilidade. O apartamento no Lins foi deixado para o filho como solução do impasse. No estúdio onde fez algumas das suas tatuagens, colegas contaram que ele estava interessado pela profissão e já tinha comprado até uma máquina para começar os desenhos.

‘O artefato não era meu’

Fabio Raposo concedeu entrevista à TV Globo, logo que deixou a delegacia. “Eu era o de camisa, bermuda e tênis, com as tatuagens. Era eu passando o artefato, mas ele não era meu”, disse. “Jogaram uma bomba de gás lacrimogêneo próximo a mim. Eu coloquei a minha máscara, porque a bomba de gás machuca o peito.”

O acusado explicou como o rojão foi parar em suas mãos: “Vi que um rapaz que estava correndo deixou uma bomba cair. Não sei exatamente o que era.” Fábio afirmou ter passado o rojão: “Veio um cara e disse ‘passa aí para que eu jogo.’” Ele disse que não teve intenção de machucar o cinegrafista. “Eu quero o bem do repórter que está em coma. Eu não sei o que falar, mas é isso. Melhoras aí.”

O estudante explicou por que procurou a polícia. “Eu só vim porque minha foto foi divulgada em mídias internacionais, e eu recebi ligações de pessoas desconhecidas falando para dizer que fui eu mesmo”, disse o acusado.

Queima, só se for autorizada

O rojão treme-terra, semelhante ao que feriu o cinegrafista Santiago Andrade, custa R$ 8,50 e pode ser comprado facilmente em casas do ramo por qualquer pessoa acima de 18 anos. O Decreto Federal 3.665, de 2000, é claro em seu Artigo 4º: fogos de classes C e D (da qual pertence o artefato) só podem ser queimados “com licença da autoridade competente, com hora e local previamente designados, nos casos de festa pública, seja qual for, e dentro do perímetro urbano, seja qual for o objetivo”.

A Lei Estadual 5.972, de 2011, determina que a comercialização de fogos de artifício obedeçam ao decreto citado acima e à Lei Federal 4.238, de 1942. Neste sábado, equipe do DIA constatou a venda de rojões treme-terra numa casa de fogos em Duque de Caxias. Nenhum documento que comprovasse licença do Exército — que disciplina a fabricação e venda do produto — era solicitado pelos vendedores.

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