Por bianca.lobianco

Rio - Jonas Tadeu Nunes, advogado dos envolvidos na morte do cinegrafista Santiago Andrade, afirmou, nesta quarta-feira, que o acusado de ter atirado o rojão na vítima recebia R$ 150 para participar de cada manifestação. Segundo entrevista concedida para a Globo News, Jonas Tadeu revelou que vários ônibus iam buscar moradores jovens, que vivem em áreas pobres, para participar dos atos de vandalismo.

"Quando esses jovens chegam às manifestações, têm outras pessoas que os entregam rojões, máscaras e equipamentos", disse.

Jonas Tadeu também acrescentou que há o envolvimento de partidos políticos no financiamento desses pagamentos, mas não quis dar mais detalhes sobre de onde provém o dinheiro. 

"Eles não apontam se o dinheiro vinha de uma organização. Investiguem determinados vereadores e diretórios regionais de partidos. A presidente Dilma ofereceu ajuda no caso do cinegrafista, que já está concluído. Dilma tem que investigar de onde vem esse fomento. As informações que obtive são de que as manifestações tendem a piorar. Tem manifestações programadas que seriam convocadas e remuneradas. As manifestações cada vez mais vão ficar presentes na sociedade. Daí veio o interesse de Caio. Quanto mais manifestações, mais ele ganharia. O que Caio ganhava nas manifestações ele dava para a mãe", ressaltou, fazendo menção à condição muito humilde que Caio vivia com a família em Nilópolis, na Baixada Fluminense.

Caio confirmou à TV Globo que acendeu rojão. À polícia%2C disse que só falará em juízoCarlos Moraes / Agência O Dia

Durante coletiva de imprensa na Cidade da Polícia na manhã desta quarta-feira, o delegado da 17ª DP (São Cristóvão) Maurício Luciano afirmou que visitou a casa de Caio e se assustou com as condições precárias da família do suspeito. "Realmente a família dele é de uma condição muito pobre, de Nilópolis, na Baixada Fluminense. É de cortar o coração a condição da família dele", disse.

Acusado afirma que não sabia que artefato era um rojão

Preso na madrugada desta quarta-feira em uma pousada na cidade de Feira de Santana, na Bahia, Caio Silva, de 23 anos, confirmou ter acendido o rojão junto com Fábio Raposo, de 22, durante o protesto da última quinta-feira. "Eu acendi sim", revelou. O artefato atingiu na cabeça o cinegrafista da TV Bandeirantes Santiago Andrade, que teve morte cerebral nesta segunda-feira.

Ele afirmou que não tinha nenhum alvo específico e não sabia o que estava acendendo. "Nem sabia que aquilo era um rojão, pensei que fosse um 'cabeção de nego'", disse em entrevista veiculada no RJTV, da TV Globo.

Segundo o acusado, ele decidiu fugir assim que viu suas imagens sendo divulgadas, "Eu fiquei com medo de me matarem, a verdade é essa". Questionado sobre quem o executaria, Caio apenas respondeu: "Pessoas, pessoas envolvidas nas manifestações".

Sobre um possivel aliciamento de jovens nas manifestações, Caio confirmou que há pessoas que são atraídas para os protestos por terceiros. "Alguns vão aliciados sim, outros não". Ele não quis dar detalhes sobre quem o teria aliciado. "A polícia que tem que investigar", disse.

Segundo Maurício Luciano, ambos serão indiciados por crime de homicídio qualificado por emprego de artefato explosivo. A pena pode chegar até 30 anos de prisão. Questionado se os acusados fazem parte do grupo Black Bloc, o delegado afirmou que não é possível ainda ter certeza da participação dos suspeitos no coletivo.

Civil investiga se acusados agiram de forma coordenada

O chefe da Polícia Civil, delegado Fernando Veloso, disse, durante coletiva, que é preciso investigar se os envolvidos estavam agindo de forma coordenada. Segundo ele, ambos negam a ação conjunta.

"A mera análise das imagens já nos induz que as pessoas presentes estão com as vontades conjugadas. Não parecem ser aleatórias". "Não estão soltas, isoladas, como querem nos fazer crer", disse Fernando Veloso. A Polícia Civil confirmou que há outras imagens onde Caio aparece participando de outros protestos.

Delegado Maurício Luciano (à esquerda) ao lado do chefe de Polícia Civil Fernando Veloso na coletiva de imprensaCarlos Moraes / Agência O Dia

Veloso declarou que o delegado Jonas Tadeu só fez com que eles chegassem ao paradeiro de Caio mais rápido, já que o Serviço de Inteligência já possuía informações do local onde o acusado estava. O inquérito da morte do cinegrafista Santiago Andrade será entregue para o Ministério Público do Rio na próxima sexta-feira.

Ele estava acuado, assustado e com muita fome', diz delegado

O delegado Maurício Luciano deu detalhes sobre a prisão de Caio Silva de Souza. De acordo com o titular da 17ª DP, o acusado não resistiu à prisão e foi persuadido pelo advogado e pela sua namorada a se entregar. "Quando o encontramos ele estava acuado, assustado, com muita fome, dois dias sem se alimentar. Estava em um cômodo muito pequeno. Jonas Tadeu estava presente", relatou.

Ainda de acordo com Maurício, as investigações apontam que o suspeito decidiu fugir após a divulgação de seu retrato falado, na última segunda-feira. "Ao saber que foi identificado, decidiu sair do Estado para ir a uma cidade do Nordeste. Ele comprou passagem com destino a Ipu, no Ceará, para a casa de avós paternos".

A ação teve o apoio da Centro de Operações Especiais (COE) da Bahia, que ajudou a conduzir Caio para uma delegacia local. O delegado também ressaltou que a prisão foi um trabalho de inteligência, mas que a intervenção do advogado Jonas Tadeu, que estava em contato com o jovem, foi importante na operação.



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