Por tamyres.matos

Rio - A Secretaria de Estado de Governo, responsável pela Operação Lapa Presente, divulgou as imagens gravadas pela câmera de uma das viaturas que atenderam à solicitação da estudante de direito Maria Clara Bubna, de 20 anos - que acusa de assédio e agressão um homem ainda não identificado. A confusão ocorreu por volta das 4 horas da última sexta-feira, dia 14 de fevereiro, em um bar na Lapa.

A estudante alegou em seu perfil em uma rede social que os policiais não quiseram ajudá-la. Uma cópia também foi entregue à Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam) do Centro do Rio. A unidade está responsável pelas investigações. De acordo com a Polícia Civil, os policiais que atenderam ao chamado do grupo de jovens terão que prestar depoimento.

Leia abaixo o relato da universitária:

Acabei de chegar em casa depois de uma das situações mais frustrantes e absurdas da minha vida. Depois de uma noite super bacana e produtiva, eu e um grupo de amigos (quatro mulheres e um homem) nos dirigimos pra Lapa para tomar uma cerveja. Chegando lá, por volta das 4 da manhã, ficamos em um bar logo em frente ao Bar da Cachaça. Pedimos uma cerveja, tudo ok.

Eis que um homem de camisa rosa (vou postar fotos logo mais), fica rondando nosso grupo, jogando olhares e gestos desagradáveis e obscenos. Sendo ignorado, ele decide então passar a mão em uma das meninas, puxa-la bruscamente pelo braço e dizer algo como "você é linda, vem aqui".

A questão é que eu não aceito mais assédio. NUNCA MAIS na minha vida eu vou me calar vendo uma mulher ser assediada. Corri até uma viatura da "Lapa Presente" que estava próxima e, ingenuamente, pedi socorro enquanto o homem segurava a menina no meio do bar, com o aval e as risadas de todos os homens ao redor.

O policial correu até o bar. Porém, chegando lá, ele mudou de postura. Agiu com indiferença, enquanto o homem me ameaçava dizendo coisas como "você se meteu com a pessoa errada, sua puta, eu sou da região, nunca mais você pisa aqui".

Mesmo ouvindo isso, os policiais (sim, eles foram surgindo) ignoraram e não faziam a menor questão de afastar o assediador. Enquanto isso, os amigos do homem berravam ofensas extremamente discriminatórias que não acho válido reproduzir.

A situação chegou no nível máximo no momento em que uma outra amiga sacou o celular para filmar o homem, que ficava tentando encostar na gente dizendo "tá vendo??? Te assediei???" (sob os olhos dos policiais). O homem ficou totalmente transtornado e deferiu socos e empurrões em minha amiga, que teve o celular totalmente destruído.

Eu, tentando cumprir o meu papel cívico, dei voz de prisão ao homem por agressão em flagrante e pedi que os policiais o encaminhassem para a DP mais próxima (no caso a 5a DP na Lapa).

Os policiais deixaram o homem ir embora. Os policiais recolheram nossas identidades, os policiais quase nos atropelaram com o furgão do "Lapa Presente". Um major tentou dar voz de prisão em uma das meninas que bradava por ajuda, mas desistiu da ideia quando lembrei que ele podia tomar voz de prisão por abuso de autoridade.

Os policiais foram embora. Fomos deixados no meio da Lapa, sob xingamentos do bar.
Decidimos ir até a Delegacia da Mulher mais próxima com duas pessoas que assistiram tudo e se indignaram com a situação. Para variar, nosso caso foi visto com apatia pelos inspetores da delegacia, que demoraram quase duas horas para concluir Boletins de Ocorrência cheios de erros de português e nomes errados. Aliás, enquanto minha amiga que foi agredida narrava o ocorrido, um dos inspetores falou "você tá agressiva demais pro meu gosto, abaixa teu tom de voz".

Cheguei em casa agora com uma cópia do BO na bolsa, sabendo que provavelmente o original foi jogado no lixo quando fomos embora. Cheguei em casa sabendo que eu não tenho voz nenhuma dentro dessa sociedade machista onde até a Delegacia da Mulher é monopolizada por homens.
Mas cheguei em casa tendo a certeza que eu não me calo mais.

Eu e meus amigos somos provas vivas da FALÁCIA que é o tal LAPA PRESENTE, de como essa operação da polícia militar é um TEATRO, de como todas as agressões sofridas foram e serão devidamente IGNORADAS pelos "homens da lei". LAPA PRESENTE é só mais um coadjuvante nesse filme da opressão policial.

Eu fui ameaçada. Eu ouvi policial falando pro meu amigo "deixa só eu tirar minha farda pra você ver". Se acontecer qualquer coisa comigo ou com qualquer amigo meu envolvido, esse post tá aqui pra elucidar. E pra alertar.

Machismo mata. Machismo oprime. Machismo silencia, agride, viola e impede o progresso. Nós estamos fadados ao fracasso com esse modelo doente de Estado.

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