Rio - Os 25 policiais militares acusados de tortura e desaparecimento do corpo do ajudante de pedreiro Amarildo de Souza, de 47 anos, em julho do ano passado, começaram a ser ouvidos por volta das 14h desta quinta-feira. A audiência de instrução e julgamento ocorre no Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJ-RJ), no Centro. A mulher do ajudante de pedreiro, Elizabeth de Souza está presente junto com o filho Anderson e a prima Lucélia.
O Ministério Público convocou 19 testemunhas de acusação e 20 foram indicadas pela defesa. Os policiais envolvidos no caso respondem pelos crimes de tortura, ocultação de cadáver, fraude processual, omissão imprópria e formação de quadrilha.
Rivaldo Barbosa, titular da Divisão de Homicídios, foi o primeiro a depor. Ele falou por três horas. Segundo o delegado, a ação coordenada foi uma tramoia bem arquitetada. "A ação dos policiais foi uma manobra ardilosa para imputar a terceiros a tortura contra o Amarildo. Os policiais perceberam que o major Édson Santos pressionava os PMs a darem a mesma versão. Ele demorava dias para liberar os PMs para depor", alegou Barbosa que teve que recorrer à corregedoria unificada.
Ainda sobre a liberação dos PMs, Barbosa contou que os militares tinham medo de depor e só conseguiu informações de que Amarildo havia sido torturado por meio de uma conversa informal.
O delegado também admitiu que a investigação falhou em algum momento porque o local da tortura não foi periciado. Rivaldo ainda disse que os moradores da Rocinha prestaram depoimento e tentaram justificar que Amarildo foi morto pelo traficante Catatau. Porém, os depoimentos eram diferentes das oitivas que aconteceram no Ministério Público Militar, ou seja, os moradores foram coagido por policiais.
O titular da DH afirmou que não se recorda da participação do sargento Lourival no episódio. A família do sargento está presente no local e na saída de Barbosa, os parentes questionaram o delegado se o militar era inocente, mas não obtiveram respostas.
De acordo com o advogado da família, João Tancredo, houve problemas na entrega de intimações. A testemunha de acusação Julio, o dono do bar que Amarildo frequentava, recebeu o documento apenas na noite desta quinta. Apesar disso, ele conseguiu comparecer em juízo.
Delegada critica Operação Paz Armada
Segunda testemunha a depor, a delega Ellen Souto, responsável pelo setor de ?busca de paradeiro da DH, relatou que reuniu provas técnicas que mostram que a vítima não saiu da UPP Rocinha por livre e esponatânea vontade. A tese desmonta a versão do major Edson Santos, que afirmou que Amarildo passou pela escadaria que dá acesso à Rua Dioneia.
Antes de a delegada explicar toda a dinâmica de tortura e desaparecimento do pedreiro, ela criticou a operação Paz Armada, deflagrada em 13 de julho de 2013, com o objetivo de realizar a prisão de 57 criminosos e coibir o tráfico na comunidade. Um dia depois, Amarildo, foi detido por PMs da UPP e levado para averiguação. "A operação "Paz Armada" foi um fracasso. Poucas e inexpressivas prisões e nada de armas e drogas", enfatizou.
O delegado Orlando Zacone, que na época era titular da 15ª DP (Gávea) e inicialmente assumiu as investigações do caso, também irá prestar depoimento.
O crime
Amarildo desapareceu após ser levado por policiais militares para a sede da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) em julho do ano passado, para averiguação de envolvimento com o tráfico.
A denúncia, apresentada pelo Ministério Público, aponta que o tenente Luiz Medeiros, o sargento Reinaldo Gonçalves e os soldados Anderson Maia e Douglas Roberto Vital torturaram o ajudante de pedreiro. Outros policiais militares, entre eles o major Edson Santos, antigo comandante da UPP da Rocinha, são acusados de fazer vigília da base, no momento do ato, e de serem omissos, por não terem impedido a tortura.
Edição: Bianca Lobianco