Roma - No peito de um dos argentinos mais famosos e importantes do mundo bate um coração verde e amarelo. Um coração “roubado” pelo povo brasileiro. Pelo menos foi o que o Papa Francisco disse ontem, no Vaticano, ao arcebispo do Rio, Dom Orani João Tempesta.
O novo cardeal, que chega amanhã cedo ao Rio, foi se despedir do Papa e aproveitou para lhe pedir uma mensagem ao povo brasileiro. Francisco foi bem claro na resposta: “Diga, com todo o meu carinho, que os brasileiros são uns ladrões, eles roubaram meu coração”. Em seguida, completou: “E eles sabem roubar muito bem”, ressaltou, numa referência ao carinho com que foi recebido na Jornada Mundial da Juventude, no ano passado.Segundo Dom Orani, o elogio aos brasileiros foi feito diante de vários cardeais.
Pela manhã, durante a missa que celebrou, na Basílica de São Pedro ao lado dos 19 novos cardeais — entre eles, o arcebispo do Rio —, Francisco mandou uma mensagem direta para todos eles, volta e meia chamados de “príncipes da Igreja”: “O cardeal entra na Igreja de Roma, não entra numa corte”, afirmou. Segundo ele, é preciso evitar “hábitos e comportamentos de corte: intrigas, críticas, facções, favoritismos, preferências”.
À tarde, Dom Orani conversou com jornalistas no Colégio Pio Brasileiro, mantido em Roma pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Foi quando revelou o comentário de Francisco sobre o “roubo” de seu coração. Ele também falou sobre uma bem-humorada provocação feita, na véspera, pelo vice-governador Pezão durante recepção na residência do embaixador brasileiro na Santa Sé.
Pezão afirmou temer que, agora cardeal, o arcebispo aumente a quantidade de e-mails que envia para o governo pedindo solução para diversos problemas. “Não são tantos e-mails assim”, disse Dom Orani. Segundo ele, são pedidos pontuais, feitos também à prefeitura, e relacionados a necessidades de moradores de determinadas áreas da cidade — asfaltamento de ruas, por exemplo.
O novo cardeal disse ter ficado surpreso com a presença, no Vaticano, de cerca de 60 parentes italianos — seu pai nasceu na pequena cidade de Ville Grotti e foi levado com 4 anos de idade para o Brasil. “Não sabia que vinha tanta gente”, comentou.
Dom Orani recebeu também a visita de Herry Rosenberg, representante da Confederação Israelita do Brasil. Ele destacou o papel do cardeal na organização, durante a Jornada Mundial da Juventude, de um encontro entre cristãos, judeus e muçulmanos.
Anel tem São Pedro e São Paulo
?O anel de ouro que os novos cardeais receberam do Papa Francisco no sábado traz as imagens de dois dos mais importantes santos da Igreja Católica — São Pedro e São Paulo — sob um sol que representa a evangelização e que também está presente no brasão papal.
A parte interna do anel reproduz o símbolo adotado pelo Papa Francisco.
Carinho de Dilma com Pezão é imune à crise
Nem Dom Orani, nem Papa Francisco. Nesta viagem a Roma ficou evidente que Pezão (foto) é o chamego de Dilma Rousseff. A crise entre PMDB e PT gerada pelo lançamento da candidatura de Lindbergh Farias ao governo estadual não abalou a amizade da presidenta com o vice-governador do Rio.
Os integrantes da delegação oficial do governo se reuniram na manhã de sábado na sede da embaixada brasileira na Itália, de onde iriam para o Vaticano. Ao ver o vice-governador — futuro adversário do PT na disputa pelo Palácio Guanabara — Dilma não se conteve e o chamou para ficar ao seu lado.
Na hora da saída para a Basílica de São Pedro, a presidenta fez questão que Pezão e a mulher, Maria Lúcia, fossem com ela no elevador — os outros convidados desceram pela escada.
Dilma saiu da cerimônia de criação dos novos cardeais ao lado de Pezão e Maria Lúcia. Fez questão de convidá-los para almoçar no Palácio Caetani, residência do embaixador brasileiro na Santa Sé. Discreto, Pezão não deu detalhes de suas conversas com a presidenta. Mas não economizou nos elogios: “Ela é sensacional.”
Durante um jantar, em Roma, a mulher de Pezão foi provocada por um político aliado, que brincou com o carinho de Dilma por seu marido: “Eu me garanto.”