Rio - "O momento mais difícil para mim na prisão foi não ter notícias aqui de fora. Fiquei 15 dias sem ver minha família. Eu orei muito”. Abatido,magro e com a cabeça raspada, o ator e psicólogo Vinícius Romão, de 26 anos, contou ontem o drama que viveu durante os últimos dias que ficou preso por engano na Casa de Detenção Patrícia Acioli, em São Gonçalo.
Ele foi detido após ser apontado pela copeira Dalva da Costa Santos como o ladrão que roubou sua bolsa, que não foi encontrada. Depois, a copeira mudou o seu depoimento, admitindo que não tinha certeza de que Romão era o suspeito que atacara.
O ator perdoou a copeira. “Não tenho raiva dela. Ela sofreu um assalto, estava nervosa, acabou me confundindo. Desejo muita luz e felicidade para ela”, disse o ator. Romão deixou a cadeia ontem às 13h30, embora a Justiça tenha expedido a ordem para soltá-lo na terça-feira. Mesmo assim, o alvará de soltura de Romão demorou a chegar porque a Central de Mandados de Alcântara estava sem luz. Com isso, o oficial de justiça teve que ir buscar o documento no Fórum de São Gonçalo.
Ao sair da unidade, ele ergueu os braços em sinal de liberdade e saiu de cabeça erguida em companhia do pai, Jair Romão de Souza, e do advogado Rubens Nogueira de Abreu. Do lado de fora, vários amigos do ator o esperavam segurando cartazes com frases de apoio.
De fala mansa e pausada, Romão revelou que teve medo. Dormiu no chão em cima de um papelão, dividiu a cela com 15 criminosos porque não conseguiu apresentar a declaração da conclusão do curso de Psicologia para ficar em cela especial. Ficou junto a traficantes, assaltantes e presos pela Lei Maria da Penha, mas disse que sua inocência não o deixou entrar em desespero. "Assim que cheguei tive medo, mas tive mais medo quando fui abordado porque a arma estava apontada para mim e podia disparar. Eu sou inocente e sabia que a Justiça seria feita. Por isso não me desesperei e nem chorei, lembrou.
Nos 15 dias, disse que não saiu na cela nem para tomar banho de sol. Romão criticou as condições da cadeia e disse que tinha que tomar banho em menos de um minuto. “A água cai quatro vezes ao dia por 10 minutos. Como éramos muitas pessoas o banho era em menos de um minuto e ainda tínhamos que encher os copos para beber água. Lá, tem muitos outros Vinícius”, disse ele.
Plano de ajudar os presos
Vinícius Romão disse que pretende voltar ao presídio para ajudar os ex-colegas de cela. “Quero levar para eles coisas que precisei lá e não tínhamos, como material de higiene pessoal, por exemplo”, disse o ator.
Ele falou do programa de ressocialização da cadeia. “Vestíamos roupa onde estava escrito ressocialização. Mas para mim ressocialização seria alguém conseguir sair de lá melhor do que quando entrou. Só que isso acaba não acontecendo porque não tem palestras, biblioteca”, criticou.
Flamenguista, o primeiro programa que Romão fez após deixar a prisão foi ir ontem à noite ao Maracanã com amigos assistir ao jogo do Flamengo contra o Emelec pela Copa Libertadores.
