Rio - A ameaça aos garis que não aderiram ao movimento grevista fez a prefeitura contratar segurança privada e armada para garantir a circulação de 300 caminhões de coleta de lixo, por tempo indeterminado. A notícia foi dada, na noite de ontem, pelo prefeito Eduardo Paes, que afirmou também que vai revogar as 300 demissões, caso a categoria volte ao trabalho hoje. A organização de greve já adiantou que não aceita a proposta. Segundo eles, há uma adesão de 70% dos funcionários.
O prefeito não soube dizer quanto vai custar aos cofres públicos a contratação da empresa de segurança. “Isso ainda está sendo calculado”, afirmou ele, que admitiu que acha “legítima” a reinvidicação por melhores salários. Paes, no entanto, disse que o reajuste pedido pode comprometer o orçamento do município. “Foi a categoria que teve mais aumento no município, 50% de ganho real. Além disso, teve 9% de aumento salarial agora”, argumento Paes, que citou, ainda, a inclusão de benefícios como planos odontológico e de carreira, aprovado em 2012. “Ninguém vai demitir por reivindicar melhores salários, o que não pode é fazer motim, coagir os outros. São grupos criminosos que estão sendo investigados”, afirmou o prefeito.
O movimento quer o piso de R$ 1.200, que com o adicional de 40% por insalubridade ficaria em R$ 1.680. Hoje, o piso é de R$ 803. A proposta de Paes, para suspender as demissões, surgiu após uma reunião com o defensor público geral do Rio, Nilson Bruno, que havia se encontrado antes com dez representantes do movimento grevista. “Nove concordaram com a proposta. Apenas um, Celio Gari, foi contra”, explicou o defensor.
Ontem, em Campo Grande, uma confusão foi parar na delegacia. A briga ocorreu na gerência do bairro, quando um ônibus com cerca de 50 funcionários seguia para o Sambódromo. O gerente Everaldo dos Santos Vargas, 43, acusa o gari Luis Fernando de Sousa de agressão. “Um dos garotos (Luis) tentou quebrar o ônibus e eu o impedi com um empurrão. Nessa hora, ele me deu um soco na cara. Outros ainda me ameaçaram de morte”, contou Everaldo, que estava com um hematoma na parte superior do olho esquerdo.
Em outro caso, homens teria quebrado o vidro de um veículo, na Central do Brasil, que também levava um equipe para trabalhar na Sapucaí. Em Ipanema, três garis foram presos ontem pelo crime de atentado contra a liberdade de trabalho, após terem ameaçado colegas. Segundo Izabela Santoni, delegada da 12ªDP (Copacabana), testemunhas e vítimas seriam ouvidas. “Havia a informação de que eles estariam armados, mas isso não se confirmou”, disse.
Gari Célio Viana, à frente da greve, descarta motivação política
Os garis se amontoavam em frente ao portão da Comlurb, na Tijuca, à espera de um grupo de colegas, reunidos com advogados e um defensor público para definir se seguiriam ou não em greve. Segundo a PM, 300 pessoas estavam lá, com o rosto pintado com tinta laranja, simbolizando a cor do uniforme usado por profissionais responsáveis pela limpeza urbana.
Quando o grupo de garis saiu da Comlurb, as atenções se voltaram para Célio Viana, de 48 anos de idade e 12 como gari. Ele caminhava com passos lentos, braços cruzados e testa franzida.
No lado de fora, ficou ao lado de um colega, que pegou o microfone para dizer que 1,1 mil funcionários seriam demitidos e que a prefeitura teria se comprometido a não demiti-los, desde que voltassem ao trabalho. Segundo ele, a discussão por reajuste salarial ficaria para outro momento. Uma mulher ligada a um movimento que age em manifestações protestou. O gari arregalou os olhos e gritou: “Quem é gari aqui? Gari é quem decide!”
Os gritos pedindo por greve se intensificaram, e os manifestantes ensaiavam um protesto contra os próprios colegas quando Célio pegou o microfone. “A nossa luta é por salário. Se depender de mim, a greve permanece”, afirmou.
Os garis vibraram e Célio foi erguido por colegas. Sorrindo, ergueu os dois braços, exibindo o “V” de vitória. Depois, marcou nova manifestação em frente à sede da Comlurb, hoje de manhã.
Célio não é novato em política. Foi candidato a vereador em 2012 pelo PR, partido do deputado Anthony Garotinho, postulante ao cargo de governador em outubro. Apesar do envolvimento com o PR, o gari descarta uma motivação política. “Eu tenho uma ideologia. Tenho uma religião. Tenho o meu time de futebol. Mas essa luta é só pelos garis”, garantiu.
Célio também ironizou a postura do prefeito no impasse. “Ele diz que os garis são as meninas dos olhos do Rio. Só que está nos vendo com conjuntivite.”