Rio - Bancos trepidando, vidros balançando e um barulho ensurdecedor. A cena é recorrente dentro dos ônibus cariocas. Quem usa sabe: estar fora do congestionamento pode significar alta velocidade. Um ônibus no Rio tem 50 vezes mais multas de excesso de velocidade que na maior e mais movimentada cidade do país, São Paulo.
Só em 2013, os coletivos do Rio foram multados 25.755 vezes por ultrapassar o limite permitido nas vias. Na capital paulista, a frota é de 15 mil, quase o dobro da carioca (8,7 mil), e o número de multas por esta infração no período foi de apenas 979, segundo a SPTrans.
“Esses dados são bastante expressivos. Quanto mais velocidade você imprime, menos controle existe, ainda mais se o carro é pesado. O excesso de velocidade em um ônibus gera uma probabilidade maior de se ter feridos e mortos”, alerta Luiz Carlos Néspoli, superintendente da Associação Nacional de Transporte Público.
O levantamento sobre as multas foi obtido pelo por meio de um pedido de Lei de Acesso à Informação atendido parcialmente pela Secretaria Municipal de Transportes. Em média, é como se a cada 20 minutos um ônibus da frota fosse autuado por excesso de velocidade.
Néspoli afirma, porém, que a comparação das capitais precisa ser relevada em relação à proporção de radares para medir as infrações e do volume de congestionamento. “Mesmo assim, o número demonstra que o motorista no Rio aparenta ser mais afoito”, finaliza.
Para o pesquisador de Transporte e Logística da PUC-Rio, José Eugenio Leal, a quantidade também sinaliza para a falta de punição efetiva. “Isso só se explica pela impunidade. Não sei se as empresas pagam essas multas e nem se os motoristas são identificados, já que muitos ficariam impossibilitados de dirigir se a multa fosse aplicada”, observa Leal.
Outro problema constatado é falta de acompanhamento dos acidentes envolvendo ônibus. A prefeitura não possui dados específicos sobre colisões, feridos e mortos em acidentes que envolvem os coletivos públicos. De acordo com a prefeitura, o Instituto de Segurança Pública, responsável por capturar os dados, registra os acidentes sem especificar as colisões com ônibus.
O DIA também tentou saber quais são os coletivos e linhas que mais receberam infrações por excesso de velocidade, mas não obteve a resposta durante quase dois meses de apuração da reportagem.
A técnica de enfermagem Kelly Braz, 38 anos, vem de 335 de Brás de Pina para trabalhar no Centro todas as noites. Ela relata que são os idosos que mais sofrem.“Uma vez uma senhora mal acabou de entrar e o motorista já arrancou em alta velocidade. Quando ela reclamou, ele disse: Então vá de táxi”, lembra.
O OUTRO LADO
Fase é de transição
Em relação às multas, a Rio Ônibus, entidade que representa os quatro consórcios que operam no transporte público da cidade, informou, por meio de nota, que o motorista multado é identificado e avisado sobre a infração. Já a defesa é sua responsabilidade.
A Rio Ônibus diz acreditar que a conclusão dos novos BRTs até 2016 trará um novo conceito de transporte, com viagens totalmente monitoradas. Os ônibus serão equipados com câmeras e sistema GPS, como já acontece no corredor Transoeste. Além disso, terão dispositivos que não permitem que excesso de velocidade. No sistema convencional, há empresas adotando o mesmo sistema.
A Secretaria Municipal de Transportes informou, por meio de nota, que exige a informação do infrator das empresas e os consórcios têm regularmente encaminhado a relação dos motoristas. A prefeitura lembrou ter determinado, no ano passado, a reciclagem dos 18 mil motoristas que atuam no sistema de ônibus. Até agora, 8.500 já passaram pelo programa. A previsão é de que, até o fim do primeiro semestre de 2014, todos tenham concluído o curso. De acordo com o município, os consórcios têm por responsabilidade treinar os motoristas e exigir cumprimento das regras de trânsito.
A Rio Ônibus disse não saber quantos motoristas perderam a carteira por excesso de pontos em 2013. A prefeitura informou que apenas o Detran teria o dado. O Detran também disse desconhecer a informação.