Rio - O Rio pode começar a Copa do Mundo driblado pela falta de organização. Ontem, a prefeitura admitiu que a única obra de responsabilidade dela para o Mundial, o BRT Transcarioca, só vai ficar pronta em junho, no mês que começa a competição esportiva. No portal Transparência, do governo federal, consta que a inauguração do corredor de ônibus, que vai ligar a Barra da Tijuca ao Aeroporto Internacional do Galeão, iria acontecer este mês. Não é a primeira vez que o município muda a data.
A situação da construção do corredor exclusivo de ônibus é preocupante. A prefeitura chegou a anunciar que a primeira fase do BRT entraria em funcionamento no ano passado. A Secretaria Municipal de Obras explicou que, apesar do término previsto para junho, não há data definida ainda para a abertura ao público. No entanto, a assessoria do prefeito Eduardo Paes garante que o Transcarioca estará em funcionamento no dia 12, quando haverá a abertura da Copa, com o jogo entre Brasil e Croácia, em São Paulo.
Fato é que, se o projeto terminar mesmo a poucos dias do Mundial, quem deve passar por dificuldade é a população. A experiência do Transoeste indica que é preciso pelo menos um mês para que os passageiros se adaptem às mudanças no sistema de ônibus.
Pelas informações do portal Transparência é possível ter uma dimensão do atraso do BRT. Na atualização, feita a partir de dados do Ministério do Esporte, em novembro de 2013, o cronograma mostra que o corredor já deveria ter sido concluído em maio de 2013. Na mesma tabela, a data foi reprogramada para este mês, o que não vai acontecer.
Segundo a Secretaria Municipal de Obras, 88% da execução do corredor já foram concluídos. Em alguns trechos, no entanto, como no Tanque, ainda há muito a ser feito. No local, haverá um ‘bolsão’ para receber as linhas alimentadoras do sistema. Mas o que se vê ainda é terra batida. A prefeitura alega que há uma demora no local porque é preciso fazer o remanejamento da viação de concessionárias de luz e telefonia.
Orçado em R$ 1,7 bilhão, o BRT vai passar por Barra, Curicica, Ilha do Governador, Taquara, Tanque, Praça Seca, Campinho, Madureira, Vaz Lobo, Vicente de Carvalho, Vila da Penha, Penha, Olaria e Ramos. Além do Transcarioca, o Rio assumiu com a Fifa outras duas responsabilidades: reformar o Estádio do Maracanã e seu entorno (com a criação de uma estação para passageiros de trem e metrô) e reestruturar o Aeroporto Internacional Antonio Carlos Jobim, o Galeão.
Trinca e outros problemas
Como O DIA mostrou, com exclusividade, a construção do Transcarioca está sendo marcada por problemas. Auditoria feita pelo Tribunal de Contas do Município pediu à Prefeitura do Rio a devolução de R$ 66 milhões referentes a obras do corredor. O dinheiro foi um ‘extra’ usado na construção de dois mergulhões na Barra, que custaram R$ 133 milhões, o dobro do valor previsto no projeto. O documento revela ainda que há estação do BRT com trincas na estrutura e asfalto remendado.
O encarecimento na construção dos mergulhões, que ficam próximos à Cidade da Música, ocorreu porque a prefeitura decidiu usar a técnica ‘jet grouting’ — injeção em alta pressão da mistura de cimento e água no subsolo. Com isso, as estruturas que estavam programadas para custar R$ 67 milhões ganharam um acréscimo de mais R$ 66 milhões na obra, totalizando os R$ 133 milhões.
A secretaria alega que a técnica usada foi a melhor opção para o local, de solo mole. Além disso, disse que a método evitou a interdição total da Av. Ayrton Senna, o que causaria um colapso no trânsito, além de impactos no lago do Bosque da Barra.