Rio - Pela internet, integrantes do jornal local ‘A Voz da Comunidade’ narraram o terror enfrentado pelos moradores do Complexo do Alemão nesta terça-feira. Protesto contra a prisão — supostamente injusta, segundo manifestantes — de dois moradores da Favela Nova Brasília terminou em confusão e tiroteio ontem à noite no Complexo do Alemão, em Bonsucesso. A Estrada do Itararé, próximo à comunidade da Grota, foi fechada. Os moradores protestavam contra a prisão de Kleyton da Rocha Afonso e Hallan Marcilio Gonçalves, que integravam, segundo a polícia, um grupo de seis supostos criminosos detidos.
Os tiros, que teriam sido disparados por bandidos, começaram por volta das 18h e só cessaram duas horas depois. Por precaução, o Teleférico ficou uma hora com circulação interrompida, entre 20h e 21h. Duas pessoas teriam sido atingidas por balas perdidas.
Numa postagem escreveram: “O ‘bagulho’ tá doido. Cenário caótico, grupos armados impondo toque de recolher, comércio fechado, troca frenética de tiros e bombas”. O protesto interrompeu o trânsito na região: “Vim visitar um primo e fiquei parado uma hora dentro do ônibus. O pavor maior dos motoristas e passageiros era que colocassem fogo nos veículos”, contou Y., 30.
Pais de estudantes que voltavam para casa ficaram apavorados, sem notícia dos filhos. “A van dele não chegava nunca. Foi desesperador. Fui para o início da Estrada do Itararé e o encontrei lá, chorando, com outros colegas. Parecia até o Alemão de uns anos atrás”, desabafou uma moradora do Nova Brasília.
Confusão começou quando PMs reagiram após barricada ter sido incendiada
A ação policial tinha o objetivo de apreender armas e drogas e localizar envolvidos na morte do PM Rodrigo de Souza Paes Leme, na última quinta-feira. A confusão começou quando policiais militares reagiram após uma barricada ter sido incendiada na Estrada do Itararé. Homens do Batalhão de Choque (BPCHq) usaram bombas de gás e spray de pimenta para conter os ânimos. Um homem foi detido e levado para a 45ª DP (Alemão).
Após a desobstrução da via, às 18h30, tiros começaram a ser ouvidos no conjunto de favelas. Apavorados, moradores se trancaram em casa e muitos colocaram panos brancos nas janelas. Outros, ficaram nas ruas ou presos no trânsito. A Estrada do Itararé foi fechada para ônibus e vans, por causa das ameaças de incêndio a veículos.
O coronel Frederico Caldas, coordenador das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), informou que houve pedido de apoio para o Choque e Batalhão de Operações Especiais (Bope), por conta do fechamento da Estada do Itararé. Uma negociação foi feita, mas após a recusa dos manifestantes em liberar a via, os PMs usaram bombas. Às 21h, o clima ainda era tenso na região.
Dois teriam sido baleados
O estudante Rodrigo Oliveira, de 20 anos, levou um tiro no pé que, segundo ele, teria partido da polícia. Rodrigo contou que teria visto o policial que efetuou o disparo. “Estava indo para a escola quando aconteceu”, disse. À noite, um homem de 54 anos também teria sido atingido, mas sobreviveu, segundo moradores.
O coronel Frederico Caldas negou que a polícia recebera informações de que bandidos preparavam ataques à bases das UPPs e à 45ª DP. “Hoje (ontem), especificamente, não. Mas não desprezamos informes, nem vamos recuar (no combate à criminalidade)”, disse. Em nota, o comando das UPPs informou que bandidos atiraram contra uma equipe da UPP Nova Brasília, mas não havia informações sobre feridos.