Rio - O coro pela legalização das drogas, antes feito principalmente por consumidores, vem ganhando força entre políticos, sociólogos, juristas e até policiais. Eles defendem a liberação como um fator para a diminuição da violência, a chamada guerra ao tráfico, e para o controle do consumo. Também apontam a apresentação de projetos de lei, como o do deputado federal Eurico Júnior (PV-RJ), que propõe a liberação do cultivo da maconha com alguns limites, como um passo para a legalização.
Para a socióloga e coordenadora do Centro de Estudos de Segurança da Cândido Mendes, Julita Lemgruber, a apresentação do projeto significa que começa a acontecer no Brasil um pouco do que está acontecendo no mundo. Estados dos EUA já legalizaram a maconha para uso medicinal e recreativo. O Uruguai estatizou a produção. “O Brasil precisa de um choque de realidade para acordar para a hipocrisia. Está mais do que na hora de o Congresso Nacional legalizar as drogas para começarmos a diminuir a violência relacionada ao tráfico”, diz a socióloga.
O juiz Rubens Casara, da 43ª Vara Criminal do Rio, argumenta que a melhor maneira de controlar o consumo de qualquer substância de seu uso abusivo é a legalidade dela: “Hoje, é mais fácil um adolescente comprar um cigarro de maconha do que um normal. Além disso, o número de mortes relacionadas aos confrontos ao tráfico supera o relacionado ao uso da droga. Portugal diminuiu muito o consumo depois de medidas de legalização, o que comprova que a droga também tem a ver, em parte, com o desejo de que o proibido é mais gostoso”.
Segundo o inspetor da Polícia Civil, Hildebrando Saraiva Jr., o projeto é um avanço, mas incompleto, pois deveria abranger todas as drogas. “Deve-se desmantelar todo o poder econômico com os envolvidos com esse comércio. Acabar com o modelo proibicionista poderá reduzir mortes de policiais, jovens envolvidos com o tráfico e até de vítimas que sequer consomem drogas. Isso não é experimentalismo sem responsabilidade, é romper com uma experiência fracassada”, disse.