Por bferreira

Rio - O subcomandante da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) da Vila Cruzeiro, tenente Leidson Acácio Alves Silva, de 27 anos, morreu no fim da noite desta quinta-feira, após um ataque simultâneo de bandidos a PMs no Parque Proletário, no Complexo da Penha, na Zona Norte do Rio. O oficial da PM foi ferido por um tiro transfixante na testa e chegou a ser levado para o Hospital Estadual Getúlio Vargas (HGV), no mesmo bairro, mas não resistiu. Ele é o 18º PM morto este ano no Rio, o 11º desde a implantação das UPPs em 2008 e o quarto lotado nas unidades na primeira quinzena de março. Um contêiner da UPP também foi alvo de disparos.

Leidson foi baleado na teste em ataque de bandidos no Parque ProletárioReprodução Internet

Segundo um PM que trabalha no patrulhamento da Vila Cruzeiro e do Parque Proletário - que juntamente com os morros da Fé e Sereno e das comunidades da Grota e da Chatuba formam o Complexo da Penha - o ataque ocorreu ao mesmo tempo a quatro grupos de PMs que patrulhavam a pé as duas comunidades, por volta das 22h30. O tenente Leidson comandava uma equipe de nove militares que foram alvo de um grupo de pelo menos 20 marginais fortemente armados, na Rua 10, divisa entre as duas comunidades. Houve troca de tiros e os PMs tiveram que se refugiar em uma casa, enquanto solicitavam socorro para o oficial ferido.

Sob intenso fogo cruzado, uma ambulância do Samu conseguiu chegar meia hora depois e resgatar o tenente. No HGV, ele ainda foi submetido a uma cirurgia, mas acabou não resistindo. PMs lotados nas UPPs da Vila Cruzeiro e do Parque Proletário, familiares e amigos de Leidson se solidarizaram na porta do hospital ao saber da morte do oficial.

Após a ação dos criminosos, um menor foi apreendido com uma moto próximo a uma pedreira na parte alta do Parque Proletário. O local é uma tradicional rota de fuga de bandidos após atacar PMs, segundo policiais da UPP. Ele foi ouvido na 22ª DP (Penha) e liberado. Policiais do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope) e do 16º BPM (Olaria) reforçaram o policiamento durante a madrugada na Vila Cruzeiro e no Parque Proletário em busca dos marginais que realizaram os ataques. A Divisão de Homicídios (DH) assumiu as investigações e vai realizar uma perícia no local do confronto na manhã desta sexta-feira.

Parentes e colegas de Leidson estavam inconsoláveisOsvaldo Praddo / Agência O Dia

De acordo com o delegado Flávio Rodrigues, da 22ª DP (Penha), inicialmente o confronto entre traficantes e a equipe do tenente Leidson teria sido ocasional e não premeditado. Ele disse que a delegacia vai auxiliar a DH nas investigações sobre a morte do oficial. O delegado informou ainda que já existe uma investigação da 22ª DP, com interceptação eletrônica, sobre outros ataques ocorridos contra PMs no Complexo da Penha.

PMs são alvos simultâneos de 'bondes'

Ataques a PMs das UPPs da Vila Cruzeiro, do Parque Proletário e da Chatuba se tornaram rotina nos últimos meses. A informação é de um policial militar lotado em uma das unidades. Segundo ele, os criminosos que se reuniam em grupos de cinco para atacar policiais em patrulhamento a pé, agora fazem as ações em número maior e simultaneamente. O objetivo é evitar que as patrulhas partam em apoio umas às outras durante os confrontos.

Segundo o policial, os ataques ocorrem a cada dois ou três dias. Os bandidos seguem pela mata que divide os complexos do Alemão e da Penha, e acessam uma antiga pedreira. No local ermo, eles entram no Parque Proletário pela localidade conhecida como Vacaria. Fortemente armados de pistolas, fuzis e até granadas, os criminosos se dividem em grupos de no mínimo 10 bandidos e seguem para a própria comunidade, a Vila Cruzeiro e a Chatuba, onde ocorrem os ataques. A fuga é feita pelo mesmo caminho.

Familiares chegam ao hospital Getúlio VargasOsvaldo Praddo / Agência O Dia

"A gente não aguenta mais ver colega baleado", desabafou o PM. Segundo ele, os policiais que atuam nas UPPs do Complexo da Penha estão insatisfeitos com a escala de serviço de 12 horas de trabalho por 36 de folga, que muitas vezes pode ser dobrada para 24 horas. O militar disse ainda que a atuação quase que diária dos PMs na comunidade acaba os deixando expostos a identificação pelos marginais e ataques. Eles também sofreriam hostilidades por parte dos moradores.

Ainda de acordo com o PM da UPP, a quadrilha nunca entra no Complexo da Penha com menos do que 30 marginais. O número de criminosos pode chegar a 60, dependendo da importância de marginais da quadrilha que participam da ação. O policial afirmou que um deles é o traficante Luiz Cláudio Machado, o Marreta, de 39 anos. Foragido do sistema penitenciário, ele é considerado o 'homem de frente' da facção nas ações da quadrilha nas ruas, como ataques a PMs, e nas compras de armas e drogas. O Disque-Denúncia oferece R$ 5 mil por informações que levem a sua captura.

Outro traficante apontado pelos PMs como atuante nos ataques no Complexo da Penha é Bruno Eduardo da Silva Procópio, o Piná, de 33 anos. Ele é apontado pela polícia como o gerente de vários pontos de venda de drogas na região. Segundo o Disque-Denúncia, ele seria primo do traficante Luiz Fernandes Procópio Ferreira, o Escobar, preso por policiais da 22ª DP. Piná seria o segundo homem na hierarquia do tráfico na Penha. A recompensa também é de R$ 5 mil.

Quatro baixas em março

A cada quatro dias, um policial foi morto no Rio de Janeiro em 2014. Antes do tenente Leidson , o alvo mais recente da guerra tinha sido o soldado Titus Lucius Bessa de Farias, de 31 anos. Reconhecido por assaltantes que faziam um arrastão em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, no último domingo. Lotado na UPP do Caju, Titus estava há pouco mais de dois anos na corporação e foi o 17º policial morto este ano no Rio.

O militar era morador de Caxias e foi abordado pelo bando que assaltava vários veículos na Rua Silva Fernandes, no bairro Parque Duque. Titus ainda tentou esconder a pistola que carregava, mas os ladrões a encontraram e atiraram duas vezes na cabeça dele.

Três dias antes, o soldado Rodrigo de Souza Paes Leme, 33, foi morto com dois tiros no peito quando fazia patrulhamento na Favela Nova Brasília, no Complexo do Alemão, onde servia na UPP. No mesmo dia, o soldado Wagner Vieira Cruz, 33, morreu no HGV, onde estava internado desde o dia 28 de fevereiro, quando foi baleado na cabeça em ataque de bandidos a militares da UPP Vila Cruzeiro.

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