Rio - O empresário Ettore Castelluzzo, pai da estudante italiana de 15 anos, sequestrada no último sábado na Região dos Lagos, não escondeu o alívio ao reencontrar a filha, na manhã desta quarta-feira, na sede da Delegacia Antissequestro (DAS). Falando rápido com a imprensa, ele agradeceu o empenho dos policiais e resumiu seu sentimento nos últimos dias.
"Queria agradecer muito a DAS. O sentimento que vivi nesses dias foi de horror", disse o empresário, agarrado à filha.
A jovem foi libertada por policiais da DAS, em Cabo Frio, na Região dos Lagos, na madrugada desta quarta-feira, após ficar quatro dias no cativeiro em poder dos sequestradores. Dois integrantes da quadrilha, foragidos do sistema penitenciário e que atuavam a pelo menos 20 anos neste tipo de crime, foram mortos em troca de tiros com os agentes. Um suspeito foi detido e um acusado conseguiu fugir. Não houve pagamento de resgate.
De acordo com o delegado Cláudio Góis, diretor da DAS, o empresário, que mora há seis anos no Brasil, foi rendido com a filha na garagem da casa onde moram, em Arraial do Cabo, cidade vizinha a Cabo Frio, por volta das 22h de sábado. Os dois foram levados encapuzados para o cativeiro. No local, segundo Góis, Edson de Sousa, de 60 anos, conhecido como Coronel, apontado como o líder dos sequestradores, estipulou ao italiano o valor de R$ 750 mil pela liberdade da menor. Ela foi mantida no local e o pai liberado em local desconhecido. O prazo para o pagamento seria na terça-feira, quando os bandidos fariam contato por telefone. Segundo Góis, esse tempo foi fundamental para que os policiais conseguissem identificar os marginais e chegar ao cativeiro.
A DAS foi comunicada do caso ao meio-dia de domingo quando o empresário procurou a especializada. Durante os três dias os agentes buscaram pistas e indícios que levassem ao local do cativeiro. O primeiro contanto dos sequestrados foi feito na noite de terça-feira, conforme acordado com o empresário. Os policiais conseguiram indícios de que estavam perto do cativeiro.
Segundo Góis, os policiais localizaram o cativeiro no condomínio de classe média Bosque do Peró, bairro na orla de Cabo Frio. Após verificar que a adolescente estava presa em um tipo de subsolo no quitinete usado pelos suspeitos e que não corria risco, os agentes invadiram o imóvel. Houve reação e troca de tiros. Além de Coronel, Osmar Elias Barbosa, o Escadinha, de 30 anos, foi baleado e morto no confronto.
Polícia busca locatário do cativeiro
A polícia faz buscas agora por Rodrigo Rodrigues da Silva, de 29 anos, que conseguiu fugir pela janela do imóvel. De acordo com a delegada Alice Cunha, da DAS, ele é o proprietário do carro usado pela quadrilha e o locatário do imóvel usado como cativeiro. Ela acredita que a prisão dele é questão de tempo.
A adolescente que mora há apenas cinco meses com o pai no Brasil nada sofreu. Segundo Cláudio Góis, ela contou que ficou acorrentada apenas no primeiro dia, mas foi vítima de intensa tortura psicológica. Por ter se mostrado calma e estar em lugar de fuga improvável, os criminosos tenham decidido mantê-la sem correntes.
"Ela riu muito, ficou extremamente feliz com o nosso resgate. Todos nós da DAS acabamos ficando sequestrados também como a família, sem dormir, sem comer direito. Ficamos no local quase 12 horas investigando e analisando. A emoção só é extravasada quando terminamos o trabalho", disse o diretor da DAS, que atuou com a delegada Alice Cunha e outros cerca de 30 agentes no caso. Às 4h04, o helicóptero pousou na Coordenadoria Adjunta de Operações Aéreas (CAOA) trazendo a estudante italiana.
Durante a espera por notícias do resgate da filha, o empresário estava tenso na sede da DAS, segundo a comissária Lilian Cipriano. Com a informação da libertação a felicidade tomou conta do empresário. Hipertenso, ele foi acompanhado por um médico durante toda a noite. A emoção também chegou aos policiais
"A equipe inteira estava trabalhando em conjunto neste caso para resgatar, para trazer essa menina de volta. A vítima acaba sendo um parente nosso. Mesmo depois de 31 anos de polícia, a gente se emociona", revelou a comissária Lilian.
Veteranos em sequestros
Edson de Sousa, o Coronel, e Osmar Elias Barbosa, o Escadinha, mortos no confronto, eram velhos conhecidos da polícia do Rio no ramo de sequestro. Segundo levantamento da DAS, apenas o primeiro tinha cinco passagens, sendo quatro condenações por este tipo de crime. Ele ainda tinha em sua ficha criminal duas anotações por tentativa de homicídio.
O número de passagens por sequestro de Escadinha também era igual: cinco anotações. Ele também já tinha sido autuado três vezes por roubo, uma por furto e uma por formação de quadrilha. Ainda de acordo com a DAS, ambos atuavam com sequestradores desde 1995.
Para Cláudio Góis, o sequestro da estudante italiana é um evento isolado. "Eles (sequestradores) tentaram a sorte", disse o delegado, informado que os dois últimos casos no Rio aconteceram ano passado, sendo o último em fevereiro. Ele revelou que o slogan da especializada chamou a atenção do empresário italiano: 'A DAS Te Encontra'.