Por thiago.antunes

Rio - Uma ação orquestrada por traficantes de drogas contra três Unidades de Polícia Pacificadoras (UPPs) deixou ontem a Polícia Militar de prontidão em todas as 38 comunidades pacificadas e nos quartéis da Região Metropolitana. O ataque mais violento aconteceu na base da Arará/Mandela, em Manguinhos. O contêiner, que serve de base para os policiais, foi incendiado. Viaturas também foram apedrejadas e queimadas. Dois policiais acabaram feridos, entre eles, o comandante da UPP de Manguinhos, capitão Gabriel de Toledo.

A PM convocou policiais do Batalhão de Operações Especiais (Bope) e do Batalhão de Choque que estavam de folga, além dos Grupamentos de Ações Táticas (GAT) do 3º BPM (Méier) e do 22º BPM (Maré). De acordo com os militares, a ação do bandidos começou depois que PMs retiraram invasores de um prédio do Programa Minha Casa, Minha Vida, em Manguinhos.

Policiais interditam a Avenida Leopoldo Bulhões por medida de segurançaJoão Laet / Agência O Dia

O tumulto começou por volta das 19h. Policiais usaram armamento não-letal para tentar conter a multidão, que fechou com barricadas de fogo a Avenida Leopoldo Bulhões, a principal da região. Um trecho da Avenida Dom Helder Câmara, na altura da favela do Jacarezinho, também foi interditado. Na sequência, granadas foram arremessadas na direção dos policiais. Um soldado foi ferido na cabeça por uma pedrada. Os militares pediram reforço. Houve intensa troca de tiros.

Para conseguir socorrer o capitão Toledo e o soldado feridos no confronto, foi necessária a intervenção de equipes dos 22º BPM. O comandante foi ferido de raspão na perna e levado para o Hospital Geral de Bonsucesso. No fim da noite, ele foi transferido para o Hospital Central da Polícia Militar, no Estácio, onde ficou internado em observação. Agentes da Divisão de Homicídios e da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core) foram para o local ajudar no reforço.

Capitão Gabriel de Toledo foi baleado em uma das pernasSeverino Silva / Agência O Dia

Por volta das 20h30, o medo e o confronto chegaram também à comunidade Camarista Méier, no Complexo do Lins, onde bandidos atacaram a base da UPP. Mas a situação foi rapidamente controlada. Quase no mesmo horário, no Morro dos Macacos, em Vila Isabel, moradores receberam alerta de policiais para que ficassem em casa por informações de um possível ataque.
Para conter a onda de violência em áreas pacificadas até agentes do Grupamento de Polícia de Proximidade foram acionados.

Circulação de trens é interrompida

O ataque na UPP Arará/Mandela, em Manguinhos, refletiu na circulação de trens no ramal de Saracuruna. O fluxo foi interrompido durante duas horas. 

“As pessoas não chegaram a ficar em pânico, mas preocupadas porque não tinha previsão de quando seguiriam viagem”, contou o estudante Gustavo Pereira, que seguia de Duque de Caxias para a Central do Brasil. Muitos trens chegaram a retornar para o ramal de Gramacho.
A tensão com os ataques nas UPPs também teve reflexo no Complexo do Alemão. O policiamento foi reforçado na região. O coordenador da UPPs, coronel Frederico Caldas, foi ao local verificar informações de possíveis ataques.

Ontem, policiais de UPPs diziam ter recebido informações de que hoje novos ataques estariam sendo programados na Rocinha e no Alemão. Esses PMs informavam ainda que poderiam ser canceladas as aulas do Programa Educacional de Resistência às Drogas (Proerd), no Alemão. Para garantir a segurança, houve reforço também na Tijuca e Rocinha.

Bando fere dois policiais

No início da madrugada de ontem, dois policiais da UPP do Morro do Alemão ficaram feridos de raspão ao trocarem tiros com traficantes. Segundo a PM, por volta da 1h, equipe com 20 policiais fazia patrulhamento pela Rua Joaquim de Queiroz quando foi atacada por bando na localidade Areal. Os agentes reagiram.

Um militar teve um ferimento na altura da cintura e foi socorrido para o Hospital Central da PM, no Estácio. O segundo policial foi alvejado pelas costas, e a munição ficou alojada entre o colete e a farda.

Container da UPP pegando fogoDivulgação

O Bope e o Choque procuraram criminosos, mas não localizaram suspeitos. O caso foi registrado na 45ª DP (Alemão). Ontem à noite, através de nota oficial, o governador Sérgio Cabral declarou que ‘essa é mais uma tentativa da marginalidade de enfraquecer a política vitoriosa da pacificação, que retomou territórios historicamente ocupados pela bandidagem para o controle do Poder Público’.
No texto, a assessoria do governo afirma que ‘Cabral mantém o firme compromisso assumido com as populações das comunidades de não sair, em hipótese alguma, desses locais ocupados’.

O governador Sérgio Cabral e o secretário de Segurança Pública, José Mariano Beltrame, se reuniram em caráter de urgência com o comando da Segurança Pública no Centro Integrado de Comando e Controle, no fim da noite. De acordo com Secretaria de Estado de Governo, o encontro foi providenciado para avaliação e providência em relação à ameaça de novos atentados nas UPPs.

Reportagem de Adriana Cruz, Flávio Araújo, Roberta Trindade e Vania Cunha

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