Por camila.borges

Rio - O retorno do Exército às comunidades provoca opiniões distintas, entre especialistas em Segurança Pública. Se por um lado o momento de crise e afronta de criminosos merece uma ação mais ampla, o reforço também pode transparecer a fraqueza de alguns processos de ocupação.

“É um retrocesso. Sai da linha do planejamento e retorna ao campo da resposta imediata. Eles não podem passar a sensação de insegurança, então dão um passo atrás”, afirmou Ignacio Cano, coordenador do Laboratório de Análise da Violência da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj).

Policiais circulam por região onde contêiner da UPP foi queimado em ManguinhosCarlos Moraes / Agência O Dia

Outro especialista em Segurança Pública, o ex-capitão do Batalhão de Operações Especiais (Bope) Paulo Storani acha a atitude correta. “A melhor opção é a solicitação das Forças Armadas até que consigam debelar essa situação articulada, atípica. E existe a prevenção legal para solicitação em casos de desordem pública”, disse Storani.

O Exército ajudou o governo do Rio no processo de pacificação no Alemão e na Penha, entre dezembro de 2010 e julho de 2012. Nesse período, a Força prendeu 263 pessoas e deteve outras 470. Também apreendeu 70 quilos de cocaína e outros 60 de maconha. Em 2008, quando ocupou o Morro da Providência, o Exército teve a missão de proteger o canteiro de obras do projeto Cimento Social. Na ocasião, eles também prenderam suspeitos e apreederam drogas, segundo registros na 4ª DP (Central)

Dilma coloca Exército nas ruas para combater ataques a UPPs

O Rio receberá reforço do Exército para combater o tráfico em comunidades pacificadas. O pedido, feito pelo governo do Rio à União, foi aceito ontem pela presidenta Dilma Rousseff em reunião, no Palácio do Planalto, com o governador Sérgio Cabral e o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo. A presença de generais num encontro no Palácio Guanabara, segunda-feira, quando as ações serão definidas, evidencia a intervenção das Forças Armadas.

“Este é um momento em que as UPPs estão sendo checadas, provocadas, há uma tentativa clara de desmoralizar uma política de pacificação. Essa marginalidade enxerga, agora, uma possibilidade de fragilizar esse projeto. Solicitamos à presidenta o apoio no combate ao crime organizado, que se faz necessário. Estão gerando pânico e fazendo vítimas entre policiais militares e civis”, disse Sérgio Cabral.

Rastros de destruição podiam ser vistos ontem em vários pontos da Favela do Mandela%2C que está pacificada desde janeiro do ano passadoCarlos Moraes / Agência O Dia

O anúncio foi feito menos de 24 horas após novos episódios de violência em áreas de UPPs. Na noite de quinta-feira, o comandante da unidade de Manguinhos, capitão Gabriel Toledo, foi baleado na perna em confronto com traficantes, e um outro policial ficou ferido após levar pedrada na cabeça. No Mandela/Arará, duas viaturas e cinco contêineres, que serviam de base de apoio, foram incendiados.

Pouco depois, bandidos atiraram na direção de uma base de apoio da UPP Camarista Méier, no Lins, e um ônibus foi incendiado na região. Na UPP Nova Brasília, no Alemão, houve troca tiros na localidade conhecida como Chuveirinho. Nos últimos quatro meses, cinco policiais de UPPs, nos Complexos da Penha e Alemão, foram mortos em serviço.

“Os órgãos de Inteligência dos governos federal e estadual estão integrados e fazendo uma análise para que medidas possam ser tomadas. Mas o governo já estará, neste fim de semana, apoiando eventuais ações. Mesmo antes da reunião de segunda, estamos juntos”, afirmou o ministro Cardozo.
A definição de como os homens do Exército irão atuar será tomada entre as cúpulas da Segurança nas esferas estadual e federal. Na ocasião, o governo do Rio irá definir o número necessário de homens e as áreas prioritárias. Após os ataques simultâneos, os plantões de policiais militares foram estendidos.

Ontem, dois novos contêineres foram instalados no Mandela. Homens da Comlurb trabalharam pela manhã na limpeza do local. Moradores tentaram garimpar restos de entulho e crianças e adolescentes, apesar do perigo, se penduraram nos fios de alta tensão.
As secretarias Municipal e Estadual de Educação suspenderam as aulas de aproximadamente seis mil alunos ontem em Manguinhos e no Lins. Parte do comércio das comunidades também ficou fechado.


Presos teriam ordenado atentados

Informações do Setor de Inteligência da Polícia Militar apontam para ataques orquestrados por líderes do Comando Vermelho. Do presídio teriam partido ordens de Aldair Duarte, o Aldair da Mangueira, e Alexander Mendes da Silva, o Polegar, para que criminosos da Vila Kennedy, em Bangu, recém-ocupada, recuperassem territórios em Manguinhos e Mandela. Luiz Claudio Machado, o Marreta, que está solto, teria sido outro a ordenar o atentados.

Suspeito de ferir oficial identificado

Em Manguinhos, PMs já teriam chegado à identidade do autor do disparo de pistola 9mm que atingiu o comandante. O traficante, que não possui passagem e é da região, teria ferido o capitão Toledo, que passa bem, no Beco do Barrinho.
Na 21ª DP (Bonsucesso), que investiga o caso em Manguinhos e Mandela, os PMs serão ouvidos. “Existem várias versões, mas como não há nada concreto, somente os policiais poderão explicar melhor”, informou o delegado Delmir Gouvêa.


Você pode gostar