Por thiago.antunes

Rio - Quando o relógio marcar 9h, hoje, o Rio de Janeiro vai ouvir o badalar dos sinos de todas as igrejas. A sinfonia simbólica será o anúncio da canonização de um dos maiores ícones da História brasileira. Após 33 anos de sua beatificação, o padre José de Anchieta, jesuíta responsável por catequizar os índios na metade do século 16, receberá a consagração de santo em decreto a ser assinado nesta manhã, pelo Papa Francisco, no Vaticano.

Em homenagem ao novo santo, o cardeal arcebispo do Rio de Janeiro, Dom Orani Tempesta, celebrará amanhã, às 18h, uma missa em ação de graças na Catedral Metropolitana do Rio. Padre Anchieta nasceu na Espanha, iniciou seus estudos religiosos em Portugal e veio para o Brasil com 19 anos.

Suzana atribuiu a cura do marido às orações dedicadas a José de Anchieta%3A laudo médico chegou a ser anexado ao processo de canonizaçãoJoão Laet / Agência O Dia

Na bagagem, trouxe a missão de catequizar os índios que viviam em São Paulo, mas sua disposição o fez ir além de seu objetivo. “Ele tinha vocação para missionário. Aprendeu a língua nativa dos índios, o tupi-guarani, e percorreu o Espírito Santo e o Rio caminhando”, explicou o provincial da Companhia de Jesus no Brasil, padre Carlos Palácio.

O processo de canonização de José de Anchieta foge às regras da Igreja, que exige pelo menos, dois milagres comprovados para se chegar à santidade. A falta de provas foi um dos motivos que fez atrasar em mais de 400 anos sua proclamação de santo. “O Papa decidiu canonizá-lo extraordinariamente por conta dos pedidos da Conferência Nacional dos Bispos. José de Anchieta não teve milagres comprovados mas será santificado pelo perfil de evangelizador”, declarou o padre jesuíta Luis Correa Lima.

Devota de José de Anchieta, a comerciante Suzana Bedran, de 71 anos, acredita que deve a saúde de seu marido ao padre. Há oito anos, ele sofreu uma infecção na válvula do coração e quase morreu: “O médico disse que ele só tinha 20% de chances de sobreviver. Passei a noite rezando para Anchieta com mais 80 pessoas. No dia seguinte, o médico disse que a infecção havia regredido”. Na época, o médico responsável pelo tratamento de seu marido emitiu um relatório apontando a cura repentina. O documento foi entregue ao arcebispo Dom Aluísio Pena e anexado ao processo de canonização.

“Sou catequista e sempre admirei muito o trabalho que o padre fez com os índios. Ele desenvolvia teatrinhos para ensiná-los. Ele foi e será uma lição de vida para nós”, diz a comerciante. O legado deixado por Anchieta permanece até hoje na Igreja. O lema ‘ir até as pessoas’, que tanto é replicado na religião católica, teve sua origem com o jovem padre. “É a igreja missionária que tanto pregamos na Jornada Mundial da Juventude. Anchieta nos ensinou isso”, aponta o padre Ramon Nascimento, responsável pelos voluntários da JMJ.

Anchieta com esquadra de Estácio de Sá para expulsar franceses%2C em 1565Divulgação

Estado tem cinco na fila da santificação

Mesmo com nacionalidade espanhola, José de Anchieta será classificado como o terceiro santo brasileiro, atrás de Frei Galvão e Madre Paulina. “Dizemos que ele foi um brasileiro naturalizado”, brinca o padre Ramon Nascimento. De acordo com relatos da época, Anchieta amava estar no Brasil. “Tem cartas que ele enviou aos jesuítas portugueses relatando que estava muito satisfeito nas terras brasileiras e dizendo que gostaria de terminar sua jornada aqui”, detalha o padre Palácio, da Companhia de Jesus.

No Rio, cinco candidatos estão à espera da canonização. O mais avançado deles é o de Maria José Capistrano de Abreu, solicitado pela Ordem dos Carmelitas. A menina Odetinha e o casal Jerônimo e Zélia estão em fase de pesquisas. E o seminarista Guido Schäffer ainda aguarda o início da beatificação.

O padre José de Anchieta iniciou sua jornada missionária em São Paulo, em 1553. Dez anos depois, chegou ao Rio de Janeiro, em expedição liderada por Estácio de Sá. Na época, ele foi o mais importante interlocutor entre os índios e os portugueses, que estavam tomando o território dos franceses. No Rio, Anchieta participou de grandes acontecimentos.

A inauguração da Santa Casa de Misericórdia

O hospital geral foi fundado pelo padre jesuíta em 1582. A missão da unidade, na época, era acudir os homens da esquadra do espanhol Diogo Flores Valdez, que foi atacada pela peste.

Colégio Jesuíta

Entre os anos de 1570 e 1573, o sacerdote assumiu a direção do colégio da Companhia de Jesus, no extinto Morro do Castelo, derrubado no início do século passado.

Poema sobre os feitos de Mem de Sá

Escreveu uma extensa obra sobre Mem de Sá na luta dos portugueses para expulsar os franceses. A publicação foi considerada como o primeiro poema brasileiro impresso.

Bairro Anchieta

Localizado na Zona Norte, o bairro fundado em 1896, foi uma homenagem às realizações do padre espanhol, que fez diversos trabalhos de evangelização na região.

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