Rio - Uma língua negra na Praia de Icaraí, em Niterói, acendeu o sinal de alerta de ambientalistas e moradores. Ela foi avistada, de helicóptero, pelo biólogo Mário Moscatelli, esta semana. Segundo ele, a mancha de tom avermelhado escuro tinha aspecto de chorume — líquido que resulta da decomposição de lixo orgânico e é altamente nocivo ao meio ambiente.
O língua negra se formou na saída do canal da rua Joaquim Távora, que desemboca na areia da Praia de Icaraí. Moscatelli tem uma hipótese para a origem da mancha. “Naquela periferia há uma estação que faz tratamento do chorume proveniente do Aterro de Seropédica. E o vermelho vinho da mancha é típico deste resíduo. Eu não saberia dizer o que poderia gerar uma coloração tão semelhante à do chorume”, denunciou.
Segundo Moscatelli, o chorume pode causar danos irreversíveis na natureza: “Por onde o chorume passa não nasce absolutamente mais nada de fauna e flora. É um líquido nocivo à existência da vida. A cena me trouxe espanto. Nunca tinha visto algo assim, chegamos ao fundo do posso”.
Uma equipe do Instituto Estadual do Ambiente (Inea) vistoriou o local da mancha na quarta-feira e não constatou presença de chorume ou esgoto. “O local é inundado durante a maré alta. A água do mar misturada aos sedimentos provenientes do próprio canal e da Praia de Icaraí, com a evaporação e consequente concentração, pode adquirir a cor mostrada na foto”, informou o Inea, em nota.
Moscatelli discorda da avaliação. “Não condiz com o padrão de escoamento da maré o que eu observei lá. Provavelmente quando essa equipe chegou a própria água do mar já tinha limpado o chorume”.
Uma vigília feita do alto
Desde 1997, o biólogo Mário Moscatelli comanda o projeto Olho Verde, que monitora a Baía de Guanabara. Sua equipe realiza sobrevoos mensais para identificar problemas e denunciá-los aos órgãos ambientais. Segundo o biólogo, a situação vem piorando. “Rios, que até 15 anos atrás eram limpos, hoje estão poluídos. Vejo projetos bilionários de recuperação ambiental e a degradação continua”, denunciou o biólogo.
A dentista e moradora de Icaraí Regiane Paes Leme, de 29 anos, ficou perplexa com a imagem. “É muito descaso toda essa poluição. A praia vive cheia de urubus e sujeira. O que era pra ser um paraíso virou lixão”, disse.