Por thiago.antunes

Rio - Do cadastro social para a ficha criminal. De desalojados a acusados de invasão a propriedade particular. O cadastramento feito pela prefeitura com as famílias que ocuparam o prédio da empresa de telefonia Oi para serem inseridas em programas habitacionais poderá ser usado pela Polícia Civil para indiciar os envolvidos na ocupação da Favela da Telerj.

O pedido foi feito pelo delegado Niandro Ferreira, titular da 25ª DP (Engenho Novo). Ele aguarda a lista do município para ouvir todos os invasores. O delegado quer saber como cada pessoa soube que o prédio estava sendo ocupado e se há líderes na invasão ao terreno. A prefeitura disse que ainda não recebeu a solicitação e que vai analisar o pedido, quando ele chegar, uma vez que os dados são sigilosos.

Dezenas de pessoas que participaram da ocupação do prédio da Oi%2C no Engenho Novo%2C permanecem nas proximidades da sede da prefeituraAlexandre Vieira / Agência O Dia

A ação do delegado deixou indignado o advogado Rodrigo Mondego. Membro da Comissão de Direitos Humanos da OAB-Rio, Rodrigo afirmou que a tentativa de incriminar os ex-ocupantes não será aceita pelo órgão. “Se alguém deve ser indiciado é o comandante do Batalhão de Choque, que permitiu a agressão de mulheres e crianças”, disse Mondego.

Os ex-ocupantes do prédio contestam os números anunciados pela prefeitura. A Secretaria de Desenvolvimento Social alega que já cadastrou 1.486 famílias. Para eles, a prefeitura tem que respeitar a lista feita pelos próprios desalojados desde o início da ocupação. O grupo critica a falta de controle em relação a quem diz que estava no prédio. Segundo a prefeitura, a análise do cadastro das famílias será feita somente após o feriado, na quinta-feira.

A secretaria já descartou o pagamento do aluguel social. O benefício só é dado para pessoas que precisam deixar suas casas em caso de risco ou obras. O auxílio é temporário, até a entrega de moradia pelo programa Minha Casa, Minha Vida.

No cadastro da prefeitura%2C o declarante afirma que ‘ocupou o prédio da empresa de telefonia Oi’Alexandre Vieira / Agência O Dia

Há uma semana, dezenas de pessoas, entre crianças e mulheres, estão acampadas em frente a prefeitura, na Cidade Nova. Ontem à tarde, manifestantes fecharam pistas da Av. Presidente Vargas. No início da noite, o grupo, com apoio de black blocs, saiu em caminhada pela Presidente Vargas e fechou as pistas da Av.Rio Branco. Não houve feridos.

R$ 30 milhões para moradias

O governo estadual desapropriou ontem os últimos seis terrenos de um total de 81 na região das comunidades do Jacarezinho, no Engenho Novo, para a construção de 2.240 moradias já anunciadas no início do ano passado, logo após a instalação da Unidade de Polícia Pacificadora na região. O custo das desapropriações é de R$ 30 milhões.

Grande parte das pessoas que ocuparam os prédios da Oi vieram do Jacarezinho. Muitas delas deixaram a comunidade por causa da alta nos aluguéis, que teriam aumentado depois da pacificação, com a valorização dos imóveis.

O governo do estado informou, por meio de nota, que estas novas unidades farão parte do programa Minha Casa Minha Vida e irão abrigar cerca 1.500 famílias retiradas de áreas de risco ou removidas de lugares destinados à execução de obras. Ou seja, estas desapropriações já estavam programadas e não têm relação direta com os conflitos referentes à desocupação da Favela da Telerj, nem são, a princípio, destinadas aos ex-ocupantes. “As desapropriações em questão fazem parte de um cronograma do estado de enfrentamento ao déficit habitacional, já em andamento, não tendo ligação com o caso da desocupação do terreno da empresa Oi, no Engenho Novo”, informou a nota.

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