Por thiago.antunes

Rio - A Divisão de Homicídios (DH) poderá fazer reconstituição para descobrir de onde partiram os tiros que mataram a dona de casa Terezinha Justina da Silva, de 74 anos. Ela foi baleada nas costas e levou um tiro de raspão no peito segunda-feira, durante ataque a policiais militares que patrulhavam o Complexo da Maré junto com a Força de Pacificação. O delegado Fábio Cardoso disse que ainda aguarda os laudos e depoimentos de testemunhas, mas que não descarta a possibilidade de refazer a cena do crime.

Terezinha, atingida quando foi comprar remédio para o marido, foi enterrada ontem no Cemitério do Caju, sob forte comoção da família. “Nunca fui a nenhum enterro na minha vida, agora tenho que vir no dela. É muito ruim perder alguém de quem se gosta. Não sei como vai ser sem ela”, desabafou o marido dela, Antônio Ricardo Barbosa, de 74. Cerca de 50 pessoas acompanharam o cortejo.

Além da dor da perda, Antônio e os três filhos ainda precisaram esperar mais duas horas além do previsto para sepultar Terezinha, já que não havia carro disponível para fazer o translado do corpo até o cemitério. A filha do meio, Simone da Silva, 44, desmaiou e precisou ser amparada quando o corpo da mãe chegou. Após recobrar a consciência, abraçou o caixão e gritou para a mãe: “Sai daí. Esse não é o seu lugar.”

Simone da Silva%2C filha do meio de Terezinha%2C passou mal durante o velório e desmaiou. Ao recobrar a consciência%2C abraçou o caixão da mãe Carlos Moraes / Agência O Dia

O delegado informou ontem que ouviu três dos sete PMs que estavam nas viaturas atacadas. Cardoso afirmou que os depoimentos foram coerentes e que, em alguns pontos, batem com o depoimento da outra vítima, o comerciante Francisco Oliveira Lemos, 47, atingido de raspão na perna. Os militares negaram ter feito disparos durante a ocorrência.

“Os policiais foram ouvidos separadamente e disseram coisas que o ferido já havia relatado. Afirmaram ter ouvido rajadas e visto fagulhas nos postes e fios de alta tensão. Eles disseram que seguiram em comboio por cerca de 300 ou 400 metros dali e ainda ouviam os tiros, mas que não revidaram e não sabiam de onde saíram os disparos”, contou o delegado. Ainda segundo relatos dos policiais, eles estavam armados com pistolas e, quando os tiros cessaram, pararam no posto da PM e viram que a veículo foi atingido.

O delegado requisitou ontem à Polícia Militar que apresente os três carros que estavam no local naquela noite e as armas dos sete policiais. O comerciante ferido será chamado novamente a depor, assim como testemunhas que estavam no local.

Disque-Pacificação já funciona

O Exército lançou ontem o Disque-Pacificação (3105-9717), um canal para a população denunciar a presença de criminosos, armas e drogas nas 16 comunidades do Complexo da Maré. Conforme O DIA antecipou na segunda-feira, o telefone funciona 24 horas por dia e não é preciso se identificar para fazer as denúncias. 

Segundo o comando da Força de Pacificação, o serviço também é um meio de informar sobre possíveis excessos praticados por militares. “É um meio de melhorar o trabalho e tentar corrigir o rumo da pacificação”, disse o major Alberto Horita, relações-públicas da força.

Ainda segundo o major, não há previsão de mudanças na estratégia de ação na Maré, apesar dos diversos ataques de criminosos contra os militares, ocorridos desde o primeiro dia da ocupação. Além dos tiros, duas pessoas morreram e duas ficaram feridas nos ataques. “A missão de pacificar a Maré é complexa. Mas nossa tropa é experiente, profissional e está realmente preparada para enfrentar qualquer situação dentro da Maré”, ressaltou o major. Além dos 2.500 militares do Exército e da Marinha, 200 PMs atuam em conjunto com a Força de Pacificação nas comunidades em batalhões de campanha.

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