Por nicolas.satriano

Rio - Depois de passar parte da madrugada da Sexta-Feira Santa numa vigília, onde relembrou a morte de Jesus Cristo, o eletricista Anderson Luiz Santos da Silva, de 21 anos, passou por sua própria via-crúcis: no caminho de volta para casa, tentou proteger a família de um tiroteio, mas morreu baleado na cabeça. O crime aconteceu no Morro do Caramujo, em Niterói, e deixou ferida de raspão no braço a irmã da vítima, de 9 anos. A polícia afirma que traficantes fizeram os disparos, depois que uma operação do 12º BPM (Niterói) acabou com um baile funk na localidade Mundo Novo, onde estariam traficantes.

Segundo testemunhas, Anderson assistiu a missa e fez orações com a irmã, a mãe, a namorada e amigos. Na saída da Igreja Nossa Senhora de Nazareth, o grupo cruzou com o confronto. O jovem se jogou na frente da mãe e da irmã para protegê-las, mas foi atingido. Anderson foi levado para o Hospital Estadual Alberto Torres, em São Gonçalo, mas não resistiu. O corpo chegou ao Instituto Médico-Legal apresentando ao menos três perfurações no crânio. A irmã do eletricista foi atendida no mesmo hospital.

Em março%2C O DIA mostrou que o Caramujo passou a receber criminosos do Complexo do Alemão%2C no RioSeverino Silva / Agência O Dia

Um policial contou que uma guarnição que estava no Destacamento de Policiamento Ostensivo (DPO) do Caramujo foi ao local e deu ordem para o baile acabar, por volta de 1h. Quando retornaram, os PMs foram surpreendidos por disparos de vários pontos, que atingiram a fachada do DPO e uma viatura. Ainda segundo os PMs, os tiros foram dados de cima para baixo. Às 2h30, eles ouviram gritos de socorro da mãe do jovem.

Para deixar o local pela manhã, os policiais pediram apoio à guarnição que chegava no plantão. “Esse baile é a maior fonte de renda dos traficantes. A venda de drogas é livre e tem muita gente armada. Só que eles sempre nos atacam quando coibimos, já que os traficantes do Rio (que teriam migrado para o local) são mais audaciosos”, disse um PM.

A Delegacia de Homicídios de Niterói e São Gonçalo assumiu as investigações. Os agentes tomaram o depoimento do pai da vítima e dos policiais. As armas deles foram apreendidas para perícia.

No dia 23 de fevereiro, horas após participar de incursão que acabou com uma festa idêntica à de sábado, o sargento do 12º BPM Joilson da Silva Gomes, de 40 anos, foi executado a caminho de casa.

PM foi morto após proibir baile funk

Em fevereiro, a ira dos criminosos do Caramujo se voltou contra o PM Joilson. Na ocasião, ele comandava a equipe de plantão que havia proibido, durante a madrugada, a realização de um baile, que contou, inclusive, com a venda antecipada de abadás.

A ordem para o assassinato do PM teria partido do traficante Luciano Martiniano da Silva, o ‘Pezão’, chefe da venda de drogas do Complexo do Alemão, no Rio, e que também comanda o conjunto de favelas de Niterói. Pelo menos 50 disparos de diferentes calibres foram feitos contra o veículo dirigido pela vítima.

O policial levou pelo menos 20 tiros de pistola 45 milímetros no rosto. Ele tinha acabado de sair do serviço e dirigia seu Siena branco pela Estrada Velha de Maricá, na altura do Morro do Castro, no bairro Tenente Jardim — na divisa entre os municípios de Niterói e São Gonçalo —, quando foi interceptado por vários homens armados. Segundo as investigações, a emboscada contou com a participação de vários bandidos do Rio.

‘Sucursal’ do Alemão

Em março O DIA mostrou que o Complexo do Caramujo, aos poucos, transformou-se em uma espécie de ‘sucursal’ do Alemão, no Rio. Após a pacificação, bandidos da Penha migraram para o conjunto de favelas niteroiense.

Sob o comando de ‘Pezão’, criminosos fortemente armados impõem o terror na região, participando de vários assaltos em bairros próximos. No ano passado eles usaram uma retroescavadeira para demolir um DPO desativado na Lagoinha.

O Disque-Denúncia já recebeu diversas informações do bando. A importância do Complexo do Caramujo para o Comando Vermelho se explica pela sua localização. Concentrando mais de dez morros, o conjunto faz limite com seis bairros e está à beira da Rodovia Amaral Peixoto (RJ-104), que liga as favelas a São Gonçalo e à BR-101. Isso facilita as fugas e o escoamento de armas e drogas para a Região dos Lagos e Macaé.

De acordo com investigações, o complexo é subdividido em cinco fortes pontos de venda de drogas e controle: Lagoinha, Mundo Novo, Caixa D'Água, Morro do Céu e Rua Carvalho.

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