Por daniela.lima

Rio - Pelo segundo dia seguido, fiéis e turistas de vários estados e até do exterior encontraram a Catedral de São Sebastião fechada. A maior decepção, no entanto, foi a de um grupo de moradores de rua que chegou por volta das 7h à igreja para receber o tradicional café da manhã servido aos sábados pelos religiosos. A refeição foi cancelada, assim como toda a programação da Semana Santa que aconteceria na Catedral. A decisão da Arquidiocese do Rio foi tomada após a chegada de invasores dos prédios da Oi, que desde sexta-feira acampam na porta da Igreja.

Ex-ocupantes do terreno da Oi alojados em frente à Catedral compartilharam o café da manhã com os moradores de rua%2C que não receberam da igreja a tradicional refeiçãoHevelin Costa


Sem o lanche, coube aos desabrigados da Favela da Telerj seguir os ensinamentos de Cristo e repartir o pão nosso de cada dia com os moradores de rua. Ao saber que o café da manhã havia sido suspenso, o grupo chegou a responsabilizar os desalojados pela situação, mas foram surpreendidos pelo gesto de compaixão. Os ex-ocupantes do terreno da empresa de telefonia compartilharam as doações que haviam recebido de fiéis.

A confraternização foi acompanhada de longe por policiais militares em quatro viaturas e pela Guarda Municipal, que bloqueavam a entrada principal. A expectativa do grupo é quanto ao almoço de Páscoa, que todos os anos é oferecido à população de rua ao término da missa de domingo. Procurada pelo DIA, a Arquidiocese não deu informações sobre uma possível transferência de local do almoço.

Um pouco mais tarde, com a chegada de turistas, funcionários da catedral abriram uma pequena fresta no portão da igreja para os visitantes entrarem de dois em dois. Durante todo o dia, católicos distribuíram ovos de Páscoa para as crianças que estavam no local.

De manhã, o arcebispo do Rio, Dom Orani Tempesta, participou de uma celebração na Igreja de São Pedro, no Rio Comprido, mas também não quis falar sobre o cancelamento do Auto da Paixão de Cristo e da procissão do Senhor Morto, na véspera. A Vigília que aconteceria ontem na Catedral também foi suspensa.

O arcebispo lembrou os cinco anos à frente da Arquidiocese. Dom Orani reforçou que é preciso passar pelos sofrimentos com Cristo, para se alegrar com Ele. “Assim como Jesus passou pela dor, a Igreja também passa por traições e por julgamentos, mas a última palavra é a ressurreição e a vida. Sabemos que passaremos pela cruz e dificuldades, mas temos a certeza da vitória”, disse o cardeal.

POLÊMICA

Cancelamento da programação recebe apoio e críticas de fiéis 

O anúncio do cancelamento da programação na Catedral Metropolitana do Rio dividiu católicos, que desde sexta-feira, fazem comentários favoráveis e contrários à medida na página da Arquidiocese em uma rede social. “A Igreja deve estar aberta aos doentes e sem-teto. O papa Francisco disse nesta quinta-feira que as igrejas devem sempre ser um refúgio para os pobres, sem-teto e doentes”, dizia um fiel.

Um outro católico aprovou a decisão da Arquidiocese. “A Igreja Católica continua sendo a maior instituição caritativa do mundo! Beijinho no ombro pra vocês que só sabem reclamar no Facebook e não contribuem em nada pra vida de ninguém, parabéns!”. Um terceiro devoto criticou: “Mais uma vez, a Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro reproduzindo o que sempre foi: uma instituição com postura medieval e totalmente distante da Caridade que Jesus Cristo tentou ensinar.”

Uma senhora disse que “é imensamente lamentável que questões políticas orquestradas venham ferir tradições religiosas, populares e sociais”. Um outro fiel ressaltou que “mais do que o cancelamento de um tradicional evento, o Rio de Janeiro sofreu um duro golpe à liberdade religiosa”, postou. Hoje haverá missa de Páscoa em todas as paróquias do Rio, menos na Catedral. No Engenho de Dentro, haverá missa campal, às 7h, na Paróquia Imaculada Conceição, logo após a procissão.

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