Por bianca.lobianco

Rio - "Meu pedido é para que os cariocas sejam guerreiros como São Jorge". A frase é do cardeal arcebispo Dom Orani Tempesta, dita após missa em homenagem ao Santo Guerreiro na manhã desta quarta-feira, na Paróquia de São Jorge, em Quintino. Milhares de fiéis se esforçaram para conseguir um espaço na multidão, pagar promessas e renovar pedidos na tradicional festa, no subúrbio.

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Segundo o diácono José Francisco, responsável pela organização, a expectativa é que 150 mil pessoas passem pelo local durante todo o dia. No Centro, milhares se reuniram desde as primeiras horas da manhã e formaram longas filas para entrar na Paróquia São Gonçalo Garcia e São Jorge para conseguir alguns minutos de prece diante da imagem.

"Tenho um carinho especial por este santo, e o carioca precisa ser guerreiro para lidar com o mal e lutar pela paz", resumiu Dom Orani, antes de sair para missa campal celebrada no Centro. No fim da tarde, o cardeal ainda presidirá missa solene na Capela de São Jorge, em Santa Cruz.

Dom Orani realiza missa na Paróquia de São Jorge em Quintino%2C na Zona Norte do RioPaulo Araújo / Agência O Dia

As ruas do entorno da igreja de São Jorge, em Quintino, já estavam tomadas por fiéis no fim da noite de terça. Durante a missa do arcebispo do Rio. Às 10h, era praticamente impossível se locomover pelo local. Em meio aos fiéis, Selminha Sorriso carregava a bandeira da Beija-Flor de Nilopólis. Porta-bandeira da escola, sétimo lugar no desfile deste ano, ela pediu uma "mãozinha" para o Santo Guerreiro para 2015. "Foram 20 anos entre as campeãs, a Beija tem que estar lá na frente", declarou ela, devota desde 1998. "Venho todo dia 23 para renovar minha fé. Fico emocionada", disse.

Vestindo uma camisa com a imagem de São Jorge, Marta Rocha, ex-Chefe da Polícia Civil e pré candidata a deputada estadual pelo PSD, lembrou da devoção dos policiais com o santo. Ela diz que sua fé aumentou em 2007, quando foi delegada titular da 28ª DP (Campinho) e ia com frequência a Igreja, em Quintino. "Peço as bençãos para os policiais civis e militares, que estão na busca por um Rio de paz e mais solidário", resumiu.

Muitos moradores aproveitaram o intenso movimento nas ruas do bairro para ganhar um dinheiro extra. Glaucio Siqueira transformou a garagem de sua casa, que fica a poucos metros da Igreja de São Jorge, numa lanchonete improvisada, e celebrou o fato de ter faturado com a venda de bebidas e comida. "Desde terça a noite, vendemos 2 panelões de sopa de ervilha, estamos tendo que fazer mais. Estou sem dormir, mas vale a pena", comemorou.

Manhã foi marcada pelo sincretismo religioso

No Centro, os protestos de moradores sem-teto acabaram não acontecendo e a manhã foi tranquila e marcada pelo sincretismo. Duas filas foram formadas: uma dos fiéis que queriam entrar na Igreja, e outra por aqueles que queriam tomar um passe, já que na tradição da Umbanda e do Candomblé, o dia 23 de abril é dia de Ogum.

Fiéis prestam homenagem a São Jorge%2C no CentroPaulo Araújo / Agência O Dia

Há quatro anos no Rio, o baiano Pai Ricardo de Ogum era um dos que davam banhos com arroz e girassol nas pessoas. "Isso é axé, para ter força, fartura, prosperidade", explicou ele, que faz os mesmos trabalhos nos dias de São Sebastião, em 20 de janeiro, e Santa Bárbara, em 4 de dezembro. Na fila dos católicos, Marcelo Galdino, 46 anos, exibia uma tatuagem de São Jorge que lhe cobria todo o braço. "Fiz por devoção mesmo. Só venho pedir saúde e paz, é o necessário".

Nove jovens saídos de São João de Meriti chegaram às 6h da manhã ao Centro, e não foram só pedir as bençãos de São Jorge: queriam juntar dinheiro. Ex-voluntários da Jornada Mundial da Juventude, em 2013, eles foram vender camisas, café, bolos e sanduíches para angariar fundos tendo em vista a próxima edição da JMJ, na Polônia, em 2016. "Já vendemos mais da metade das camisas que trouxemos. Tem gente que dá o dinheiro e nem quer levar o produto, só doa mesmo. Mas vai ser caro ir para lá", indicou João Victor Claus, de 27 anos.

Aos pés da estátua do Santo Guerreiro, Victor Hugo, de 70 anos, segurava uma foto dele com o cantor Emílio Santiago, morto ano passado. A imagem, de 1972, foi feita quando ambos eram cantores iniciantes numa boate no Leblon. Hoje aposentado, o ex-cantor vai ao local há quatro anos, para agradecer pela vitória sobre um câncer de próstata. Ontem, aproveitou para lembrar o amigo famoso. "Ele era muito teimoso, era eu quem acalmava ele. Queria que tivesse gravado mais músicas novas", lamentou, com saudade.

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