Rio - Laudo do Instituto Médico Legal (IML) aponta que o dançarino do programa "Esquenta" Douglas Rafael da Silva Pereira, de 26 anos, mais conhecido como DG, morreu de "hemorragia interna decorrente de laceração pulmonar decorrente de ferimento transfixante do tórax. Ação pérfuro-contundente”. O corpo da vítima foi encontrado dentro de uma creche na comunidade do Morro Pavão-Pavãozinho, em Copacabana, na Zona Sul do Rio, na noite desta terça-feira.
Inicialmente, a Secretaria de Segurança divulgou nesta terça-feira pelo Twitter que o laudo de local apontou que as escoriações de Douglas eram compatíveis com morte ocasionada por queda. A informação do laudo do IML foi obtida durante reportagem do 'Jornal da Globo'.
>>>GALERIA: Dançarino é morto e moradores protestam no Pavão-Pavãozinho
Fim de uma carreira em ascensão
O ruído de motores e buzinas deu lugar ao som de bombas e tiros no Túnel Sá Freire Alvim, em Copacabana. Em vez dos carros, havia apenas viaturas e policiais com armas em punho, preparados para o confronto. Às 18h30, uma mulher ignorou as orientações e entrou no túnel, pela passagem destinada a pedestres. Era a técnica em enfermagem Maria de Fátima da Silva Pereira, de 55, mãe do dançarino Douglas Rafael. Até então, ela pensava que o filho estava apenas ferido. A notícia da morte de DG foi dada pela ex-nora, a secretária Larissa de Lima Ignácio, de 20 anos. “Mataram o meu filho! Mataram um inocente!”, repetia Maria de Fátima, já deitada no chão.
Para familiares, DG foi espancado e morto por policiais da UPP Pavão-Pavãozinho por causa de antiga rixa. Há cerca de dois anos, quando ainda trabalhava como mototaxista, DG teve o veículo apreendido pelos PMs. “Os policiais encheram o tanque da moto dele de areia”, contou a mãe. Dias depois, a moto foi furtada. Um morador contou à família que foi levada numa picape pelos próprios policiais da UPP.
Os familiares também afirmaram que DG estava sem os documentos e sem R$ 800 quando o corpo foi encontrado. A carteira de identidade e o passaporte só apareceram na 13ª DP. O dinheiro não foi encontrado. “Ele sempre saía com os documentos”, conta Larissa, ex-mulher de DG.
O dançarino iria atualizar o passaporte porque tinha show marcado para agosto, quando se apresentaria por duas semanas com um DJ francês em Paris. A morte do dançarino interrompeu uma carreira que se aproximava do auge, acreditam amigos e colegas de trabalho. O empresário do grupo de Douglas, o Bonde da Madrugada, Sandro Luziano, conta que o jovem era o líder, coreografava as apresentações e também era o principal compositor. Eles tinham cinco shows marcados, a partir do dia 25, na Região Metropolitana de Belo Horizonte e, no fim de maio, fariam apresentações em Angola. “Amanhã (hoje), iríamos para o estúdio gravar a nova música no grupo”.
De acordo com ele, o Bonde da Madrugada passou a integrar o elenco fixo do programa ‘Esquenta’, da Rede Globo, quando uma manicure da apresentadora Regina Casé falou dos dançarinos há dois anos. Regina chamou os jovens para um teste e aprovou o grupo na hora. Sandro conta, porém, que o grupo já existe há 10 anos. Em maio seria gravado DVD com a participação do cantor Péricles.
O empresário disse que a produção do programa está encarregada do funeral que será amanhã à tarde ou quinta-feira. “A Regina está arrasada, é a madrinha do grupo”.
Apresentadora lamenta a morte de Douglas
A apresentadora do programa "Esquenta", Regina Casé, que está de férias, lamentou a morte do dançarino de seu programa. De férias, ela demorou a receber a notícia e disse que a família Esquenta está devastada.
“Eu estou arrasada e toda a família Esquenta está devastada com essa notícia terrível. Uma tristeza imensa me provoca a morte do DG, um garoto alegre, esforçado, com vontade imensa de crescer. O que dizer num momento desses? Lamentar claro essa violência toda que só produz tragédias assim. Que só leva insegurança às populações mais pobres do país. Agora, é impossível saber exatamente o que houve. Mas é preciso que a Polícia esclareça essa morte, ouvindo todos, buscando a verdade. A verdade, seja ela qual for, não porá fim à tristeza. Mas é o único consolo”, disse.
Protesto interdita Avenida Nossa Senhora de Copacabana por mais de cinco horas
Revoltados com a morte do dançarino, moradores do Pavão-Pavãozinho, em Copacabana, fecharam nesta terça-feira, por volta das 17h, as principais ruas do bairro e fizeram barricadas ateando fogo em objetos. O medo se espalhou pelo bairro. A PM foi chamada, e houve tiroteio. Um homem de 30 anos foi encontrado morto num campo de futebol na favela, e um adolescente de 13 anos, identificado apenas como Mateus, baleado na cabeça. Centenas de pessoas ficaram na rua sem conseguir voltar para casa.
De acordo com a PM, o policiamento foi reforçado na favela com efetivo de diversas UPPs, do 23º BPM (Leblon), 19º BPM (Copacabana), batalhões de Operações Especiais (Bope) e de Choque. O acesso ao metrô pela Rua Sá Ferreira da Estação General Osório foi fechado, assim como o Túnel Sá Freire Alvim, que liga as ruas Raul Pompeia e Barata Ribeiro. O tráfego precisou ser desviado pela Rua Miguel Lemos. A Avenida Nossa Senhora de Copacabana só foi liberada por volta das 23h30.
A confusão começou logo depois que o corpo de Douglas foi encontrado dentro da creche Menino de Luz, na comunidade. Moradores acusam policiais de terem matado o dançarino. Segundo eles, houve um tiroteio na madrugada de ontem entre PMs e traficantes. Douglas teria pulado um muro da creche para fugir do confronto e despencado de uma altura de sete metros. Mas familiares acreditam que o dançarino tenha sido agredido por PMs durante a confusão.
“A polícia matou meu filho. Ele tinha marcas de sangue pelo corpo todo. Isso não é pacificação. Falei com ele pela última vez às 8h de ontem (segunda-feira). Ele queria comprar um ovo de Páscoa para a filha (Laila, de 4 anos). Meu filho foi encontrado sem os documentos. Iam enterrá-lo como indigente”, desabafou a mãe de Douglas, Maria de Fátima da Silva Pereira, de 55 anos. Segundo ela, os documentos do filho foram encontrados molhados na 13ª DP (Copacabana). Fátima ficou sabendo da morte do filho quando chegava da faculdade. “Sabia que estava tendo confusão em Copacabana, mas não sabia a razão disso tudo”, contou ela.
O trânsito é intenso nas avenidas Atlântica, Princesa Isabel, além da Rua Lauro Sodré. Agentes da CET-Rio e da Polícia Militar permanecem na região.