Por nara.boechat

Rio - Em meio à crise do programa de Segurança Pública implementado por seu antecessor Sérgio Cabral, o recém-empossado governador Luiz Fernando Pezão prometeu rigor na apuração do assassinato do dançarino Douglas Rafael, em Copacabana. Em visita à redação do DIA, onde participou de sabatina, Pezão afirmou que o governo não vai recuar na política de combate ao crime organizado. Admitiu, no entanto, a falta de policiais em áreas da cidade.

Confiante no sucesso da Copa do Mundo, Pezão garantiu a renovação da frota de trens para a Supervia, com a compra de 200 novos equipamento, todos com ar-condicionado, até março de 2015. Candidato à reeleição, o governador prometeu entregar quase três mil ruas urbanizadas na Baixada e em São Gonçalo nas próximas semanas.

Luiz Fernando Pezão prometeu cobrar rigor máximo Polícia Civil na investigação da morte do dançarino Douglas Pereira%2C em CopacabanaFernando Souza / Agência O Dia

Participaram da sabatina com o governador o editor-chefe do DIA, Aziz Filho, os editores Karla Rondon Prado, Eugênia Lopes, Fernanda Portugal e Marco Aurelio Reis, o colunista Fernando Molica, a chefe de reportagem Marita Boos, o repórter Caio Barbosa e o estagiário Leandro Resende, além do editor-chefe do Meia Hora, Humberto Tziolas, e do repórter do Brasil Econômico Eduardo Miranda.

ODIA: Como o senhor pretende agir diante dos acontecimentos em Copacabana e da suspeita de que o jovem dançarino foi morto pela polícia?

PEZÃO: Determinei empenho total à Policia Civil na investigação da morte do Douglas Pereira. Vou aguardar o resultado das investigações para tomar as medidas cabíveis. Quero reafirmar que, apesar das tentativas de desestabilização, não vamos recuar na nossa política de pacificação. É um grande desafio, mas vamos seguir em frente, levando UPPs a outras comunidades, contratando mais policiais, reforçado áreas que necessitam de reforço.

Tivemos recentemente problemas em várias áreas, como Tijuca, Niterói e Baixada. Está havendo um retrocesso na Segurança Pública?

Acho que estes casos têm acontecido porque ocupamos todas as grandes comunidades e estas pessoas estão reagindo. Conforme vão perdendo território, vêm para o asfalto cometer outro tipo de delito. Mas quanto mais eles deixam as comunidades, mais fácil a gente pega. Quando nós entramos, havia 21 mil presos no estado. Hoje, temos 37 mil presos e dos grandes caíram quase todos. Faltam uns dois aí (o traficante e xará Pezão, do Complexo do Alemão, e Alvarenga, da Maré).

Mas este sistema carcerário não é muito mais uma escola de crimes doque de ressocialização?

Houve uma inspeção recente da ONU que avaliou o sistema carcerário do Rio como o melhor do país. Acabamos com presos em delegacias e estamos construindo presídios sistematicamente, além de ampliar os que já existem em Bangu. Inauguramos dois em São Gonçalo. Infelizmente, vamos fazer mais. Fico muito mais feliz quando entrego uma escola, mas, para combater a violência, temos que construir presídio também. Temos que investir mais nisso.

A pacificação não vive seus melhores dias. O senhor achar possível recuperar aquela sensação de confiança que havia?

Se compararmos os números do início do projeto aos de agora, veremos que são significativos. Esse recrudescimento se deu após as manifestações do ano passado.

Por quê?

Houve uma política de tentar enfraquecer o governo. Foi um teste para todos nós, que precisávamos entender o que era tráfico, o que era manifestação. Ando direto em comunidade e onde eu ando pedem UPP. Na Zona Oeste, em Campo Grande, e em diversos locais. Hoje, a gente sobe o Alemão, a Rocinha e vê policiais nas vielas. Mas aceito a crítica sobre falta de policial no asfalto.

É cobertor curto?

É. Mas também estamos colocando policial onde não havia nenhum. E estamos contratando. Quando entramos, havia 33 mil policiais militares. Hoje, são 47 mil. E dão baixa e morrem quase mil e quinhentos por ano.

E quanto à remuneração. Há insatisfação grande. Há margem para a recuperação salarial?

Estou vendo esses números. Demos mais de 120% de aumento real nos últimos sete anos e três meses. Claro que não é o ideal e tenho conversado com os sindicatos. Mas tenho que me situar melhor para ver se podemos dar um ganho. Não se faz segurança pública se não tiver o servidor motivado e bem remunerado. Tem que valorizar mais. Mas tem que ter dinheiro para isso.

O senhor associou a violência às manifestações e estamos às vésperas da Copa, quando são esperados protestos, e os holofotes do mundo todo estarão voltados para cá. Será um teste de fogo.

Não acredito que haverá esta violência toda, e sim um congraçamento.

E se houver? Qual vai ser a recomendação do novo governador à polícia? Com o Cabral não funcionou bem.

Garantir o direito de as pessoas se manifestarem. Os que se excederem, a polícia vai tomar as providências que tem que ser tomadas. Ninguém tolera depredação de patrimônio ou fogo em ônibus. Vou sempre colocar a PM para combater essa chaga. Isso não houve nas primeiras manifestações, que queriam mudar a política, o sistema, reivindicar mais participação. Isso é supernatural e temos que saudar, porque é da democracia e o Brasil sofreu muito para poder chegar a este momento.

Além da segurança, qual seria o outro foco nesses poucos meses que faltam para o fim do seu mandato?

Tenho me dedicado muito à Saúde para reabrir a Santa Casa de Misericórdia. Já fui tratado ali e vi diversos amigos serem tratados. A Santa Casa é uma referência para o Brasil. É um lugar onde temos que fazer alguma coisa, porque a Estácio está aí com 3 mil pessoas. Ali era um hospital-escola da Gama Filho. Temos que resolver isso.

Há um grande problema, hoje, com a falta de leitos para internação e UTI no Rio de Janeiro. A Santa Casa sozinha resolveria esse problema?

Sim. Se eu conseguir reabrir entre 150 e 200 leitos dos 700 fechados, resolvo a questão das pessoas que estão hoje nos corredores das enfermarias. O déficit é de cento e poucos leitos.

Há o problema da falta de profissionais de Saúde. O senhor tem pouco tempo pela frente e disse que focará na situação dramática da falta de leitos. Mas e a questão dos profissionais, sobretudo na área da Pediatria?

Colocamos as OSS (Organizações Sociais de Saúde) dentro das UPAs e melhorou muito. Eles deram agilidade até para pagar melhor os pediatras. Montamos, principalmente na Baixada Fluminense, em parceria com Alexandre Cardoso (prefeito de Duque de Caxias), uma unidade de pediatria de emergência. Agora, volto a repetir: temos que fazer um grande esforço para ver a questão dos hospitais federais aqui no Rio, porque dependemos muito deles.

'Não vou esconder o Sérgio (Cabral). Me orgulho de ter trabalhado ao lado dele'Fernando Souza / Agência O Dia

E em relação aos transportes? Criou-se muita expectativa com a compra de novos trens, barcas. No entanto, o sistema de transporte, hoje, é reprovado pela população.

O que fizemos em sete anos e três meses não se fazia há 50 anos. Nunca se comprou tantos trens, barcas e se investiu no metrô. Trem não tem na prateleira, nem dinheiro se arranja imediatamente. Primeiro, é preciso gestão para conseguir o espaço fiscal e ir, então, ao mercado, conseguir o dinheiro e fazer licitação. Conseguimos com o Banco Mundial. A cada mês, vão chegar quatro trens novos. Estamos com 100 trens com ar-condicionado, vamos chegar a dezembro com 150 e em março de 2015 com os 200 trens.

A gestão da Supervia agrada ao senhor?

Não é questão de agradar. Acho muito melhor estar com a Supervia do que com a RioTrilhos, que era nada mais nada menos que um cabide de emprego, de ações trabalhistas que estamos pagando até hoje. Nas barcas é a mesma coisa. A Conerj tem milhões de ações, um passivo gigantesco. Prefiro não estar com o estado administrando barcas e trens e estar com uma Odebrecht.

Mas eles estão atendendo aos deveres?

Eles pegaram o sistema sucateado. Mudaram todo o sistema. É um choque. Foram 50 anos sem comprar trens, 53 sem comprar barcas. Estou vendo se é legal, no tempo que resta, comprar mais quatro barcas.

Houve a indicação de novos conselheiros da Agetransp, mas os perfis são muito parecidos com os anteriores. Um caso, por exemplo, em que era o marido e depois a mulher. Não falta autoridade?

As indicações melhoraram muito. Estamos vendo uma Agetransp mais atuante. Se houvesse algo errado, não teria sido aprovado.

O presidente da Agetransp, Cesar Mastrangelo, é ex-vice-presidente do Metrô.

Isso não é um problema. Ele passou, foi aprovado e conhece muito de transporte.

Mas pode ser pelo viés do interesse privado.

Se for pelo viés do interesse público, ele vai defender o interesse público.

Até o prazo previsto pela lei eleitoral, que obras o governo vai entregar?

Muita coisa. Até junho, cerca de 500 ruas pavimentadas por mês para entregar na Baixada e em São Gonçalo. No total, são 2.950 ruas com calçada, drenagem, meio-fio e asfalto. Vou entregar a parte estadual do Arco Metropolitano. Há muitas obras de estradas no Norte e no Noroeste, apartamentos na Região Serrana, em Benfica, na Frei Caneca e na Cidade de Deus. Há obras de saneamento e abastecimento de água em Caxias, vamos entregar o reservatório JK, em Mesquita, há escolas, centros de vocação tecnológica e equipamentos na Saúde.

O ex-governador Sérgio Cabral deixou o cargo com a imagem desgastada. Qual será o papel dele na campanha?

Não sei se ele vai ser candidato ao Senado, mas, se quiser, ótimo para mim. Eu me orgulho muito de ter trabalhado ao lado dele, que fez um grande governo. Nunca vi um governador com tanto poder de enfrentamento para passar pelo que ele passou, com tanta determinação para enfrentar a questão da segurança pública como ele enfrentou.

O PMDB não foi intransigente ao exigir que o PT não lançasse a candidatura de Lindbergh Farias?

Sempre fui a favor da candidatura do Lindberg. Acho natural o PT ter candidato. A gente queria manter a aliança porque o maior ativo que se tem neste estado foi a aliança com as prefeituras e o governo federal. Mas, a partir do momento que o PT rompeu esta aliança, é natural que apresente candidato. Ninguém tem medo de disputar eleição.

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