Por bferreira

Rio - Moradores do Pavão-Pavãozinho/Cantagalo fizeram ontem à tarde, na Praia de Copacabana, homenagem a Douglas Rafael da Silva Pereira, o DG, de 26 anos, dançarino do programa ‘Esquenta’, da Rede Globo. Ele foi morto terça-feira durante confronto entre policiais da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) da favela e traficantes. Cerca de 200 pessoas compareceram à passeata, que também pedia paz na comunidade. A mãe de DG, a enfermeira Maria de Fátima da Silva Pereira, participou do evento, que terminou em samba, tocando surdo. Antes disso, ela agrediu a repórter do DIA.

Maria de Fátima (à direita)%2C mãe de DG%2C toca surdo no protesto que terminou com passista adolescente sambando no asfalto da orlaCacau Fernandes / Agência O Dia

Policiais militares acompanharam o protesto e também reforçaram o policiamento na entrada da comunidade. Os moradores levaram cartazes com fotos de DG e com frases pedindo justiça e paz.

“Quero agradecer o que vocês estão fazendo. Baderneiros ou não, vocês evitaram que meu filho fosse enterrado como indigente. Essa é a comunidade que meu filho adorava. E essa é a conexão que ele fez da favela com o asfalto”, disse Fátima, que mora na Rua Barata Ribeiro.

Ela e moradores da comunidade acusam PMs da UPP de terem matado DG. Eles caminharam do posto 5 ao posto 4 aos gritos de ‘Chega de chacina, polícia assassina’ e cantaram funks e hinos acompanhados por ritmistas da favela. O protesto terminou na Barata Ribeiro onde os manifestantes chegaram a fechar a rua por alguns minutos.

Segundo as investigações da 13ª DP (Ipanema), DG foi morto com um tiro, mas o primeiro laudo divulgado pela Secretaria de Segurança e Polícia Civil não havia apontado o ferimento. O laudo cadavérico, divulgado posteriormente, atestou ainda escoriações pelo corpo, que só foi encontrado dentro de uma creche na favela no dia seguinte.

Um projétil, que seria de ponto 40 e um estojo do mesmo calibre, tipo de munição usada pela PM, achados perto do corpo de DG, foram para a perícia. Quatro fuzis e dez pistolas dos PMs que participaram do confronto em que DG morreu também serão periciados. Seis PMs admitiram em depoimento que trocaram tiros com bandidos, mas negaram ter atirado em DG. A polícia deve fazer esta semana a reprodução simulada do caso.

Durante a manifestação, moradores hostilizaram a imprensa e expulsaram da passeata a repórter do DIA, que também foi rechaçada pela mãe de DG, Maria de Fátima.

“Não quero falar sobre isso, me dá licença”, gritou ela, empurrando a profissional, após ser perguntada se estava acompanhando as investigações sobre o caso do filho. “Sai daqui”, continuou ela. Os manifestantes foram em direção à repórter aos gritos de “Você não é gente, você é lixo, você não é bem-vinda aqui. Tem que respeitar. Fora, fora, fora”, gritaram. A TV Globo, onde DG trabalhava, e a Band também foram rechaçadas. Cercada pelos manifestantes, a repórter do DIA foi retirada do local com ajuda de jornalistas que cobriam a manifestação e que também deixaram o protesto, acuados.

Ex-mulher fala da relação do dançarino DG com a filha Laila, de 4 anos

O Programa ‘Esquenta’, da Rede Globo, levou ontem ao ar uma homenagem ao dançarino Douglas Rafael da Silva Pereira, o DG. Familiares, amigos e artistas, como Fernanda Torres e Carlinhos de Jesus, participaram da gravação, que relembrou passagens do dançarino pelo programa e também momentos da sua vida.

Todos os presentes vestiam branco. A apresentadora Regina Casé explicou o motivo do programa especial. “Um dos nossos dançarinos, talvez o mais alegre, o mais querido pelas crianças, foi brutalmente assassinado com um tiro pelas costas”, disse.

Regina Casé perguntou para a plateia, a maioria moradores do Pavão-Pavãozinho, em Copacabana, quem tinha o sobrenome Silva. Então, o MC Bob Rum, autor do ‘Rap do Silva’, que diversas vezes foi cantado durante o velório e no enterro, apresentou a música.

A mãe de DG, Maria de Fátima Silva, também participou do programa e contou a história do filho através de fotos. Ela disse que o rapaz era extrovertido e estiloso: “Quero lembrar dele rindo, porque ele não era triste”.

Um dos depoimentos mais emocionantes foi o da ex-mulher, Larissa de Lima, ao falar da relação dele com a filha, Laila, de 4 anos. “Ele a amava mais que tudo nesse mundo. Está muito difícil, eu não sei como falar para ela. Eu disse que ele tinha virado uma estrelinha no céu e que a gente tinha que orar todos os dias. Ela diz que não, que o pai é só dela”.

Os amigos do grupo de dança Bonde da Madrugada também prestaram homenagem a DG. E artistas variados deram depoimentos sobre o dançarino.

PONTO DE VISTA: 'Não aceitamos a agressão. Ela não faz parte do debate'

Não há justificativa para a agressão sofrida ontem pela repórter Maria Inez Magalhães, em pleno exercício de sua profissão. Ela estava identificada, tinha às mãos apenas bloco, caneta e um celular, e foi agredida depois de fazer uma pergunta à mãe de DG sobre o curso das investigações. O jornal O DIA se solidariza com a dor da família, entende a tensão que tem sido enfrentada por ela nos últimos dias, mas rejeita qualquer tipo de agressão a seus profissionais, e aos de qualquer outro órgão de imprensa, por princípio.

Nossos profissionais vão para as ruas todos os dias para levar aos leitores um jornal que busca o equilíbrio nas matérias, dando voz a todos os lados envolvidos. Assim agimos em casos como o do pedreiro Amarildo de Souza, na Rocinha, e o de DG, no Pavão-Pavãozinho. Não nos deixamos intimidar na busca da notícia. Por mais poderosos que sejam os envolvidos, por mais rumorosos que sejam os casos.

Seguiremos assim, por entender que esse é o jornalismo que o leitor espera de um jornal independente. Por isso não aceitamos a agressão. Ela não faz parte do debate, não ajuda a esclarecer nada, não edifica. A agressão sofrida pela Maria Inez, por sinal uma profissional exemplar, é um safanão não apenas contra a imprensa, mas contra toda a sociedade.

Alexandre Medeiros, Editor-executivo do DIA

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