Rio - Em 30 dias de ocupação da Maré, quatro líderes das duas facções criminosas que dominam o território foram presas. Integrantes do primeiro escalão das quadrilhas, eles viviam escondidos, mas continuavam a dar ordens aos comparsas sobre a venda de drogas e até mesmo para reagir à presença dos militares nas favelas. Conforme O DIA mostrou neste domingo, a polícia tem informações de que pelo menos 100 fuzis ainda estão na Maré, o que pode ser confirmado pelos constantes confrontos ocorridos no primeiro mês de ocupação.
O primeiro da lista a ser capturado foi Marcelo Santos das Dores, o Menor P. O líder da facção Terceiro Comando Puro fugiu da comunidades quatro dias antes da chegada do Bope. Menor P estava em um apartamento duplex de luxo em Jacarepaguá, quando agentes da Delegacia de Repressão a Entorpecentes da Polícia Federal entraram pelo teto do imóvel.
Na última quarta-feira, foi a vez de Eduardo Herculano da Silva, o Avião, cair no cerco da polícia. Maior fornecedor de cocaína do Comando Vermelho no Rio, ele foi preso por policiais da 21ªDP (Bonsucesso) dentro da comunidade Nova Holanda, quando negociava carga de drogas. Na sexta, Amabílio Gomes Filho, o MB, foi capturado pela Delegacia de Roubos e Furtos de Cargas, na mesma comunidade.
E neste domingo, foi a vez de Fabiano Santos de Jesus, o Zangado, ser capturado. O traficante é irmão de Menor P, chefão do crime em 11 das 15 comunidades da Maré. A prisão de Zangado começou a ser desenhada sábado à noite, quando a Coordenadoria de Inteligência (CI) da PM passou a monitorar endereço na Vila do João, onde a quadrilha dele estava escondida.
Já no domingo pela manhã, a CI soube que o criminoso foi para o Conjunto Esperança e avisou ao Exército. Os combatentes localizaram o criminoso em um apartamento na Rua Dois e cercaram o quarteirão, por volta das 14h. Agentes federais conseguiram mandado de busca e apreensão para o imóvel.
O traficante não reagiu à prisão. Ele estava com duas menores, que foram liberadas, além de dois comparsas também presos: Franklin Paes Miranda, o Tininin, e Ericson Leandro da Silva. Os presos foram levados para a sede da Polícia Federal, na Praça Mauá. Com o trio, havia duas pistolas (com calibres de uso exclusivo da Polícia e Forças Armadas), um carregador, 11 cartuchos e R$ 2.051 em dinheiro, além de uma moto.
Zangado era visto como o lado mau do irmão Menor P. Integrante da Constelação do Astro, o criminoso era conhecido no Complexo da Maré como cruel e impiedoso. Mas, apesar de suas atitudes serem tidas como impulsivas e autoritárias pela população e pelos próprios integrantes da facção criminosa Terceiro Comando Puro (TCP), o traficante teria herdado a sucessão do tráfico de drogas junto de Paulo Sérgio Medeiros da Cunha, o PL, e de outro criminoso conhecido como TH. Ambos continuam foragidos.
Após debandar do complexo com a chegada dos militares, recentemente Zangado teria adotado uma rotina de visitas à favela para repassar ordens do irmão e acompanhar a venda de drogas. Contra o traficante existiam três mandados de prisão, um deles por homicídio qualificado. O suspeito já havia sido preso no dia 6 de setembro de 2006. Em 2009, ele foi transferido para o regime semi-aberto (quando o preso sai durante o dia e dorme na cadeia). Mas em janeiro do mesmo ano, saiu e não retornou mais ao presídio.