Por bianca.lobianco

Rio - O governo federal pode reexaminar a questão da ocupação de parte da área do Jardim Botânico por famílias que descendem de antigos funcionários da instituição, que tiveram permissão para morar nos limites do parque no início do século passado. O gabinete do secretário-geral da Presidência, Gilberto Carvalho, confirmou ontem que o ministro pretende levar o caso para apreciação da presidenta Dilma Rousseff.

A presidenta da Associação de Moradores e Amigos do Horto, Emilia Maria de Souza, disse que, em encontro do secretário-geral com representantes da comunidade, na semana passada, esta hipótese foi cogitada — e teria sido motivada pela resistência dos moradores.

“O ministro nos disse que o governo pode mudar seu parecer sobre a retirada do Horto”, disse Emilia, que criticou a diretoria do Jardim Botânico: “Mas a presidência da instituição quer acelerar as remoções, indo contra uma decisão de cima”.

Clique na imagem para ver o infográfico completoArte O Dia

Ontem, foi realizada a primeira retomada da área em litígio. Oficiais de justiça e policiais militares realizaram ação de reintegração de posse do Clube Caxinguelê, uma área de lazer construída há quase 60 anos e que era utilizada e administrada pela comunidade que vive nos limites da instituição, inaugurada por Dom João VI, em 1808.

A disputa judicial entre os moradores e o Jardim Botânico, uma instituição federal, vem desde 1990. A área, localizada no atual bairro do Horto, foi cedida a antigos funcionários pela administração do parque no início do século passado. Desde então, 621 famílias fixaram-se na comunidade.

Os moradores do Horto temem que suas casas sejam o próximo alvo das ações. De acordo com Emilia de Souza, 14 processos estão tramitando, e demolições podem ocorrer esta semana.

Durante a ação de ontem, policiais utilizaram armamento não letal e spray de pimenta para retirar moradores e ativistas que resistiam à ação. Na confusão, dois manifestantes acabaram feridos por balas de borracha. “Usaram força sem necessidade, estávamos rendidos”, disse o estudante Leonardo Leal, atingido na axila.

A PM realizou nesta segunda-feira a ação de reintegração do Clube Caxinguelê%2C no Jardim BotânicoFoto%3A Severino Silva / Agência O Dia

A Polícia Militar, em nota, alegou que “foi necessário o uso de armamento não letal para impedir que pessoas invadissem novamente a área”. A presidente do Jardim Botânico, Samyra Crespo, alegou que a decisão judicial já havia sido emitida há um ano. Samyra também informou que na área do clube será instalada uma estufa de orquídeas.

Nascido e criado no Horto, o deputado federal Edson Santos disse que a Associação de Moradores do Alto Jardim Botânico, que representa moradores de renda alta do Horto, quer retirar a população pobre do local.

Procurada, a Associação de Moradores Alto Jardim Botânico não respondeu às solicitações do DIA até o fechamento desta edição.

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