Rio - O delegado-adjunto da 39ª DP (Pavuna), Felipe Santoro, afirmou na madrugada deste domingo que Paulo Alberto Ferreira da Silva, de 32 anos, que sequestrou o ônibus da linha 732 (Mariópolis-Cascadura) na Avenida Brasil na tarde de ontem, estava tentando chamar atenção. "Ele pegou a menina (Rafaela Lobo, 17 anos) e disse que não ia machucá-la. Ele fez isso pra chamar a atenção da imprensa e da polícia. Durante o depoimento, estava bastante desorientado", afirmou.
Santoro vai ouvir ainda nesta madrugada os PMs envolvidos na ocorrência. A mulher de Paulo Alberto, que se identificou apenas como Rosineia, 19 anos, prestou depoimento na 39ª DP. Segundo ela, os dois estavam separados há cinco dias e têm uma filha de quatro anos. A mulher revelou também que ele não é usuário de crack, confore divulgado pela Polícia Militar, mas fumava maconha eventualmente.
"Ele nunca me agrediu. Terminamos porque eu estava com ciúmes dele. Mas ele estava limpo, nem fumava mais. Trabalhava de carteira assinada fazendo obras em um hotel no Flamengo. É um bom pai e brincava com nossa filha até mais que eu. Quando o Paulo saiu de casa, ela ficou com febre por dois dias. Você acredita em macumba? Dois dias antes alguém roubou uma blusa minha e outra dele. Ele brigou com um pai de santo e disse que estava sendo ameaçado. Várias vezes me ligava, dizendo que estava com saudades da nossa filha. Vou voltar pra ele", disse.
Segundo Santoro, o sequestrador contou que estava sofrendo ameaças para Rafaela e reiterou as queixas na delegacia. Paulo Alberto é da Mangueira mas estava morando no Morro da Formiga, na Tijuca, Zona Norte do Rio, desde a separação. O homem tem quatro passagens pela polícia e um mandado de prisão por roubo, expedido em setembro do ano passado.
O delegado disse que o homem será indiciado por sequestro, sequestro qualificado; já que a jovem ameaçada por ele com uma tesoura é menor; e ameaça. Se condenado, ele pode ficar até oito anos preso. O pai de Rafaela, Cosme Luiz, contou que a filha ligou para seu celular cinco vezes a pedido do sequestrador. "Achei que fosse trote, golpe. Só depois entendi o que estava acontecendo e pedi que ela ficasse calma. Graças a Deus tudo acabou bem".
Ameaça com tesoura
Por volta das 17h, Silva sacou a tesoura, que era nova e ainda estava dentro da embalagem, e rendeu a passageira Rafaela. O motorista do coletivo, Júlio Cesa Pereira, de 29 anos, abriu a porta para liberar os demais passageiros, mas resolveu permanecer dentro do ônibus em solidariedade a Rafaela e para ajudar nas negociações.
A polícia chegou até o ônibus por meio de uma denúncia pelo telefone 190. Militares do Batalhão de Policiamento de Vias Expressas atenderam ao chamado e iniciaram a negociação. O capitão Rodolfo Leitão foi quem iniciou a conversa com o sequestrador, pela janela do coletivo. Às 17h20, o Batalhão de Operações Especiais da Polícia Militar (Bope) foi acionado e enviou 28 militares ao local, dos grupos de negociadores, de atiradores de precisão e de retomada e resgate.
Com 17 anos de experiência na polícia, o sargento Glabson Ferreira, do Bope, assumiu o diálogo com Silva até sua rendição. “Os surtos dele dificultavam a negociação, por isso demorou tanto”, afirmou o major Marcelo Corbage, relações-públicas do Bope. No total, 48 homens foram foram envolvidos na operação.
Segundo Corbage, Silva pediu que uma oração fosse feita antes de sua rendição. O sequestrador tentou fazer contato com alguém de sua família com o telefone da vítima, mas não conseguiu falar com ninguém.
Após a rendição, Rafaela foi atendida pela equipe do Corpo de Bombeiros, que estava no local, e em seguida foi liberada. Ela e os demais envolvidos no sequestro seguiram para a 39ª Delegacia de Polícia, em Pavuna, para prestar depoimento. Durante o sequestro, a pista lateral da Avenida Brasil, no sentido Zona Oeste, foi interditada, complicando o trânsito na região. Logo após a rendição, o ônibus foi retirado da via.
Caso 174 virou filme
O sequestro de ontem trouxe de volta a lembrança do trágico caso do ônibus da linha 174, ocorrido em junho de 2000, quando um homem — Sandro do Nascimento — parou o veículo no Jardim Botânico, rendeu o motorista e manteve dez vítimas reféns por cerca de cinco horas. Tudo acompanhado por câmeras de TV.
O episódio acabou com a morte de uma das reféns, a professora Geísa Firmo Gonçalves, e do sequestrador. Depois que o veículo foi interceptado por policiais, Sandro, que estava armado, decidiu descer do veículo usando o corpo de Geísa como escudo. Um oficial do Bope tentou atirar no criminoso, errou a mira e acabou acertando a refém.
Em seguida, policiais imobilizaram o sequestrador e o colocaram dentro da viatura, onde ele morreu asfixiado, enquanto tentava reagir à prisão. O episódio acabou virando um filme .
Outros dois casos também comoveram a população. O sequestrador do ônibus 499, em Nova Iguaçu, André da Silva, 35, manteve sua ex-mulher sob a mira do revólver. A polícia negociou sua rendição e a liberação da refém. Não houve feridos. Outro sequestro, de frescão na Presidente Vargas, ocorreu no fim de 2011. Houve tiroteio entre bandidos e policiais, e cinco pessoas foram baleadas, mas ninguém morreu.