Rio - Bandidos sequestram um homem na Avenida Brasil. São dois carros e uma moto envolvidos na ação. Uma pessoa anota as placas e avisa à polícia. O número é passado para a equipe de investigação. Em pouco tempo, a rota dos três veículos é conhecida, como também o local por onde eles passaram nos últimos meses.
A investigação que parece futurista começa a virar realidade esta semana no Rio. A cidade será a primeira do estado a implantar câmeras do modelo OCR, que têm uma tecnologia que lê placas e emite alertas quando o veículo está sendo procurado. Os 13 primeiros equipamentos foram comprados por R$ 6,6 milhões pela Prefeitura do Rio com dinheiro do Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania (Pronasci). Mas o projeto é mais amplo. A expectativa é que outras 150 câmeras sejam adquiridas só pelo governo estadual.
“É uma tecnologia de ponta, que vai ajudar a reduzir índices de criminalidade, como roubos de veículos. Mas a atuação poderá ser estendida ao monitoramento, por exemplo, de caminhões que trafegam irregularmente em vias expressas”, explicou o secretário municipal da Casa Civil, Guilherme Schleder.
IPVA fora de controle
Para colocar cada OCR funcionando, é necessário uma semana de trabalho. Por isso, até a Copa, a previsão é que apenas cinco câmeras estejam em operação. O sistema conta com um sensor infravermelho. Quando um carro, caminhão ou moto passam por um local que tem o equipamento, é feito o reconhecimento óptico de caracteres. A leitura da placa é tão detalhada que avisa, inclusive, se ela foi alterada e também qual é a cor do veículo.
Cada imagem capturada será passada em tempo real para os centros de Operações do Rio, que é da prefeitura, e o Integrado de Comando e Controle, do estado. “Mas é possível também você programar o sistema com uma determinada placa. Então, quando ela é lida pelo sensor, soa um alerta que avisa para a polícia onde passou”, afirmou Schleder. De acordo com o secretário, apesar de toda a eficiência do equipamento, ele não será usado para multas de trânsito, nem para denunciar atraso do IPVA.
Zona Sul e Barra serão monitoradas
O município e o estado entraram num acordo para instalar os equipamentos. A Secretaria de Segurança Pública ficará responsável pela cidade, e a prefeitura, pelos arredores, criando um cinturão de proteção com olhos cibernéticos. Os bairros da Zona Sul, Barra da Tijuca e Ilha foram os escolhidos pela secretaria estadual. E, segundo o órgão, o critério foi o alto fluxo de veículos. Na lista do entorno estão Avenida Brasil, Via Dutra, Linha Amarela, Linha Vermelha e rodovias Washington Luís e Rio-Santos.
A colocação das câmeras vem num momento em que batalhões e delegacias tentam reduzir o índice de roubos e furtos de veículos. O último dado do Instituto de Segurança Pública (ISP) mostra que foram registrados 1.943 casos, se forem consideradas estas duas modalidades de crimes em março. No mês anterior, eram 1.889 casos.
Se o levantamento for de todo o estado, o resultado não é diferente. Em março de 2013, ocorreram 2.256 queixas em delegacias de roubos de carros. Um ano depois, essa quantidade aumentou para 2.963, o que revela um salto de 31,3%. No caso de furtos, considerando os mesmos períodos, o número de ocorrências passou de 1.509 para 1.641, um aumento de 8,7 %.
Sistema reduz roubos em outras cidades
Em algumas cidades paulistas, o uso de OCR já deu resultados. Logo quando foi inaugurado o sistema em Indaiatuba, por exemplo, a redução de roubo de carros chegou a 70%. Mas, quando os bandidos descobriram que os equipamentos funcionavam em pórticos recém-colocados nas ruas, o crime voltou a crescer. Por aqui, a prefeitura já decidiu que vai fazer a instalação em pontos que podem confundir os bandidos.
“Acho muito difícil alguém identificar que é uma OCR”, disse o secretário da Casa Civil, Guilherme Schleder. O dinheiro usado pela prefeitura para comprar os equipamentos foi conseguido, em 2011, do governo federal. A verba total era de R$ 16 milhões e foi usada para comprar 400 câmeras de monitoramento para a cidade. Porém, o município conseguiu um preço menor na licitação — o valor pago foi de R$ 12,5 milhões. “A diferença rendeu numa aplicação. Tínhamos duas opções: devolver o que sobrou ou aplicar num projeto que também deveria ser de segurança. Foi, então, que fizemos este planejamento em conjunto com o estado”, disse Schleder.