Rio - O Sindicato dos Policiais Civis do Rio (Sindpol) decidiu, na noite desta quarta-feira, estender a greve da categoria para mais um dia. A continuidade da paralisação foi votada em assembleia no Clube Municipal, na Tijuca, Zona Norte do Rio. Cerca de 2 mil agentes participaram da votação. No entanto, a greve poderá terminar às 12h de quinta, se o governador Pezão atender as reivindicações do movimento, em reunião marcada com o presidente da entidade, Francisco Chao, nesta manhã. Os grevistas vão aguardar pelo resultado do encontro na Cidade da Polícia.
Também ficou definido que os agentes vão se recusar, durante o movimento, a atuar na ação chamada de Repressão Qualificada, uma blitz noturna para coibir crimes. Eles alegam que a ação só pode ser realizada pela Polícia Militar, já que os civis não têm curso de especialização para conduzir viaturas, exigência do Código de Trânsito. Também entraria em votação se os 30% de policiais que trabalhariam, como determina a lei, usariam fitas pretas nas roupas.
'Queremos logo uma decisão', diz líder de entidade
Chao afirmou que os policiais civis em greve querem logo uma decisão 'sobre o aumento para a categoria. O Chefe de Polícia Civil, Fernando Veloso, e o secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, também estarão presentes. Eles esperam que Pezão anuncie ainda nesta quinta a incorporação da gratificação do programa Delegacia Legal.
"A promessa de incorporação da gratificação R$ 850 ao salário foi feita a nós pelo governo há mais de um ano. Foi promessa do governador Sérgio Cabral, que tomaria esta atitude antes de deixar o governo e agora o Pezão tinha pedido um prazo até 10 de julho, mas a Copa do Mundo é em junho e um inspetor de polícia recém-formado ganha R$ 3.500, enquanto um delegado em início de carreira está recebendo R$ 16 mil. É um abismo", disse Chao.
Segundo ele, o prazo de aguardar até 10 de julho não será aguardado pela categoria. "O que ficar decidido na reunião com o governador, vai ser comunicado aos policiais por e-mail ou nas redes sociais", finalizou Chao.
Veloso: 'Movimento é ordeiro'
Em entrevista coletiva, Veloso disse que o governador teria demonstrado disposição de negociar com os policiais em greve. Nesta terça-feira, quando a paralisação de 24 horas foi anunciada, o governador do Rio disse que não poderia conceder reajuste à categoria sob risco de infringir a lei de responsabilidade fiscal.
Veloso também reconheceu o movimento da categoria: segundo o delegado, as reivindicações dos policiais são justas. "É claro que apoio a categoria. Inclusive firmei um compromisso com os policiais, que se o governo não os atendesse, imediatamente eu avisaria cada diretor das delegacias", declarou Veloso,
Além disso, ele considerou o movimento "ordeiro": "Achei válida a manifestação porque foi sem prejuízo para a população". O encontro na Cidade da Polícia mostrou união da categoria. Antes das 14h, horário marcado pelo sindicato, centenas de agentes chegaram ao local e lotaram os corredores do complexo de delegacias. Com a proibição da entrada da imprensa para registrar o ato, os policiais fecharam por cinco minutos as duas pistas da Avenida Dom Hélder Câmara, a mais movimentada da região. Minutos depois, o chefe de Polícia Civil mandou liberar a entrada dos jornalistas, sob aplausos dos agentes, que cantaram o hino da instituição.
Efetivo nas delegacias foi diminuindo ao longo do dia
Durante todo o dia, O DIA percorreu delegacias da Região Metropolitana para verificar o impacto da paralisação. Pela manhã, o movimento foi normal em várias unidades, inclusive no Instituto Médico-Legal, que fez perícias e exames. As unidades distritais registraram apenas ocorrências de crimes violentos (homicídios, estupros, latrocínios e roubos, além das prisões em flagrantes). Para as queixas de outros crimes, a população foi orientada a retornar outro dia ou registrar pelo site da instituição.
À tarde, devido à concentração na Cidade da Polícia, o atendimento diminuiu. Na 5ª DP (Gomes Freire), apenas 30% da equipe estavam trabalhando. A auxiliar de enfermagem Vera Lúcia da Silva, de 64 anos, tentou registrar o furto de seu celular na 12ª DP (Copacabana). “Os policiais foram educados, anotaram meu caso e pediram para eu voltar. Gastei tempo em vão e fico chateada, mas procuro respeitar o lado deles porque todos têm direito de reivindicar, desde que seja dentro da lei”.
Mudança de rotina nas escolas
A simples ameaça de paralisação da Polícia Militar bastou para que alguns colégios particulares do Rio cancelassem aulas e provas. O Colégio Cruzeiro, no Centro, não abriu as portas. Na Tijuca, o Colégio Palas adiou testes. Já na Escola Parque, na Gávea, o temor dos pais fez a taxa de ausência chegar a 50% em algumas turmas. Já a rede pública funcionou normalmente e a frequência dos alunos foi normal, disseram as secretarias estadual e municipal de Educação.
Mãe de aluna do 9º ano do Palas, Diliane Pereira, 44, deixou a filha em casa. Segundo ela, os saques ocorridos em Pernambuco, onde a PM fez greve na semana passada, pesaram na sua decisão. “Achei as imagens horríveis. A gente fica vulnerável sem ninguém para nos defender. Mesmo sem greve, quis mantê-la em casa”.
A negociação de PMs e bombeiros deve começar na próxima semana. Hoje, comissão da Associação de Praças da PM e Corpo de Bombeiros se reúne às 15h para finalizar as reivindicações. O texto será entregue segunda-feira ao presidente da Alerj, deputado Paulo Melo, que vai encaminhar ao governador Pezão. Os principais pedidos são a limitação da jornada em 44 horas semanais e a revisão do regulamento disciplinar, considerado desatualizado.