Por thiago.antunes

Rio - Uma área de lazer digna dos tradicionais clubes cariocas — com churrasqueira, campo de grama sintética e piscina — estava sendo erguida no alto do Morro da Serrinha, em Madureira. A obra, no entanto, não faz parte de nenhum programa social para beneficiar os cerca de 150 mil moradores da região. O projeto foi arquitetado e realizado pelo chefão do pó da favela, Walace de Brito Trindade, o Lacosta, uma mordomia da qual só ele e seus comparsas poderiam usufruir.

A construção da ‘arena VIP’ do tráfico, no entanto, foi interrompida por policiais do 9º BPM (Rocha Miranda), que desde o dia 15 ocupam parcialmente a comunidade para coibir o tráfico e diminuir os constantes tiroteios entre bandidos rivais. Materiais para a obra, como tijolos, areia e pedra, foram deixados pelo bando no local, que agora tem a presença dos militares patrulhando.

Campo já estava com as traves e receberia grama sintética%3A moradores não poderiam aproveitar espaçoDivulgação

De acordo com a polícia, o local era usado antigamente por praticantes de jongo, uma das danças mais tradicionais da cultura africana e que era praticada há décadas na Serrinha. Os policiais afirmam que os jongueiros teriam sido expulsos pelo tráfico, que decidiu tomar a área.

Ainda segundo os militares, moradores eram impedidos de ir para a área de lazer. Além da parte para fazer churrasco, o campo de futebol já estava com as traves e receberia grama sintética. Ainda segundo os agentes do 9º BPM, todo o material foi levado para o alto da comunidade por mototaxistas, obrigados pelo chefão do tráfico a fazer o transporte.

Na Rua Licurgo, na localidade conhecida como Raia, os bandidos também se apossaram de uma antiga quadra de esportes para construir uma piscina. Assim como na parte alta, a área também seria vetada para quem não fosse da quadrilha ou parente dos criminosos.

Condenado a sete anos de prisão por tráfico, Lacosta vem sendo procurado pela polícia desde 2007, quando recebeu o benefício de passar para o regime semiaberto (quando o preso sai durante o dia e dorme na cadeia), mas não retornou. Segundo policiais do 9º BPM, ele foi fotografado recentemente em um baile funk, cercado por comparsas e segurando um fuzil.

Policiais militares apreenderam foto no Morro da Serrinha em que aparecem homens armadosDivulgação

Cabanas e trincheira no meio da mata

Em uma ação do batalhão terça-feira, dois suspeitos de integrar o alto escalão da quadrilha foram presos. Identificados como Capixaba e Bonitão, um seria o terceiro na linha de sucessão na liderança da quadrilha e o outro, gerente do tráfico. Os policiais do Serviço Reservado do batalhão, receberam informações sobre endereço onde a dupla estava escondida na favela.

Ao chegar na casa, conseguiram convencer a família que morava lá a sair do local e, em seguida, os criminosos se entregaram. “Eles não saíram da comunidade e a venda de drogas continua, mas não ostentam mais pela presença da polícia”, contou um PM.

Segundo o batalhão, desde o dia 15, foram feitas 30 prisões, com apreensão de 9 fuzis e 12 pistolas. Eles também localizaram um acampamento utilizado pelo tráfico na mata da Serrinha. No local, havia barracas improvisadas com lonas e até trincheira, usada pelos bandidos para atirar contra a polícia sem serem atingidos. 

A guerra entre criminosos pela Serrinha vinha deixando moradores em pânico, com intensos e constantes confrontos. Em dezembro, O DIA noticiou que parte da quadrilha de Marcelo Santos das Dores, o Menor P, ex-chefe do tráfico de 11 das 15 comunidades do Complexo da Maré, resolveu se abrigar no local e teria levado pelo menos 100 fuzis.

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