Por adriano.araujo
Na Cinerama Brasilis%2C um gato foi adotado%2C há redes para descanso e uma manicure atende na empresa às sextasJosé Pedro Monteiro / Agência O Dia

Rio - Atire a primeira pedra quem, depois de várias horas de expediente, nunca disse aos colegas de trabalho: “Se eu fosse chefe, tudo por aqui seria diferente.” Na empresa dos sonhos, não haveria folha de ponto e, a qualquer instante, seria possível se deitar em uma rede para dormir sem ser incomodado. A cerveja? Seria liberada, geladíssima e paga pelo chefe. Sim, essas empresas já existem.

É pensando justamente no aumento da produtividade que empresários têm investido cada vez mais em espaços de lazer para funcionários e na quebra de regras como escalas de horário e trajes formais. Em meio a dezenas de computadores de vários escritórios do Rio, já se pode ver divãs e redes para descanso. Para os que querem apenas espairecer, mesas de futebol de botão e videogames estão à disposição a qualquer instante.

Para o publicitário Márcio Nakamura, a ideia de criar uma empresa no padrão de despojamento nascido nos Estados Unidos, nos anos 80, veio há 14 anos.

“Quando decidi ter a minha própria produtora de vídeos, pensei naquilo com que sempre havia sonhado. Nunca concordei com o engessamento de horários e metas das empresas”, explica. Hoje, na Cinerama Brasilis, produtora que ele comanda, há espaço para jogos, descanso e um anexo com iluminação de boate e forno à lenha, usado no happy hour. “É a forma que encontramos de compensar as mais de 15 horas de serviço diário”, explica.

No Brasil, há três anos, a americana Huge Design já chegou com o conceito. Por lá, os tradicionais almoços executivos foram substituídos por refeições diárias em grupo, na mesa de reunião, onde se pode, por exemplo, tomar um dos vinhos da adega da empresa. “Não ter rotina é a melhor forma de aproximar os funcionários, explica o funcionário Matheus Oliveira, enquanto disputa torneio de videogame.

Jogo de botão também é comum na Cinerama Brasilis. Serve para descontrair e pesa na hora de estudar as propostas dos concorrentesJosé Pedro Monteiro / Agência O Dia

Além da adega de vinhos, a empresa disponibiliza um freezer com cervejas para que os funcionários se deliciem quando quiserem. Apesar da liberdade, todos garantem que nunca houve problemas com alguém que tenha passado da conta no consumo de álcool.

Funcionários podem até pegar ondas

As estratégias para integrar as equipes são muitas. Na agência Binder Comunicação, por exemplo, a proximidade com a Praia da Barra da Tijuca fez com que o dono Flávio Cordeiro oferecesse pranchas para que, a qualquer instante, seus funcionários ‘pegassem ondas’ e relaxassem antes de voltar ao batente.

“O estresse, por vezes, atrapalha a produtividade. Uma vez por mês, fazemos uma rodada de cervejas artesanais, dentro da empresa para unir a equipe”, conta Flávio.

Na Cinerama Brasilis, em nome da integração, até um gato foi adotado. Cachê, como foi batizado, é criado pelos funcionários, há um ano e meio. “Todos dividem a responsabilidade e têm carinho por ele”, explica Mário. Às sextas-feiras, uma manicure vai ao local e atende as mulheres.

Para a Copa do Mundo, as empresas bolam esquemas diferentes. Na Huge, embora se permita que o trabalho seja interrompido e retomado em seguida, em dias de jogos da Seleção Brasileira, todos terão meio expediente. “É Copa do Mundo. Todos querem o despojamento de um bar”, afirma Matheus.

Na Huge Design pode-se degustar vinhos nas refeições na empresaJosé Pedro Monteiro / Agência O Dia

O foco é a produtividade

Embora não faltem opções de lazer e a liberdade seja grande nessas empresas, os gestores garantem: nada pode atrapalhar a produtividade. Para a coordenadora do MBA em Gestão Empresarial da Fundação Getúlio Vargas Ana Lígia Finamor, o modismo tem o Google como principal representante (a famosa empresa de buscas na internet já foi, por diversas vezes, considerada a melhor do mundo para se trabalhar, por conta das opções de lazer e flexibilidade).

“O conceito é válido, mas depende da empresa e do grau de comprometimento dos funcionários para ter sucesso. De fato, a liberdade motiva mais. No entanto, todos devem estar cientes de que, em uma empresa, o foco é a produtividade e não fazer amigos”, diz.

Segundo ela, empresas como a Google têm sucesso nas empreitadas pois, antes de tudo, as metas são informadas aos funcionários. “As jornadas, muitas vezes, passam de 12 horas por dia. Não se pode pensar na empresa como um paraíso, parque de diversões ou mesa de bar”.

Metas definidas e liberdade

?Redes para descanso e outras soluções que façam com que os trabalhadores de uma empresa atuem como se estivessem em sua própria casa têm ganhado espaço no Rio e empresários não se arrependem. Segundo Mário Nakamura, dono da Cinerama Brasilis, a empresa nunca enfrentou problemas, justamente por ter metas estabelecidas e claras para os trabalhadores.

“O funcionário sabe que, independentemente do tempo que descansa, tem obrigações a cumprir. Já tivemos casos de funcionários que receberam propostas melhores de concorrentes, mas optaram em permanecer por aqui. Temos detalhes que eles nunca encontrariam em um edifício comercial, por exemplo”, diz Nakamura, satisfeito com os resultados de suas ideias.

Você pode gostar