Por adriano.araujo

Rio - O escândalo provocado por denúncia do Ministério Público (MP), que pediu a prisão preventiva de 12 policiais militares acusados de montar esquema de cobrança de propina a motoristas do transporte alternativo dentro do 6º BPM (Tijuca), parece não ter fim. O major Rômulo Oliveira André, apontado pela investigação como um dos principais mandantes da quadrilha fardada, trocou de unidade mesmo após O DIA revelar com exclusividade detalhes da ação do grupo, na edição de 11 de maio. O boletim interno 87 da Polícia Militar, publicado na segunda-feira, divulgou a transferência do oficial, que deixou o 27º BPM (Santa Cruz) para trabalhar no 14º BPM (Bangu).

O major foi citado pelo então sargento Adalci Dias de Carvalho em uma escuta telefônica feita com autorização da Justiça, no dia 6 de junho passado. Numa conversa com o colega Eduardo Carvalho Mendonça, Adalci comentou que iria retirar um carregamento de refrigerantes com funcionários da transportadora Della Volpe, responsável pela distribuição da bebida. De acordo com o Ministério Público, o diálogo mostra indícios de irregularidades.

O major Rômulo André (acima%2C numa foto postada no Facebook) é apontado como um dos chefes da suposta quadrilha de policiais militaresReprodução Internet

Apesar da transferência, a corporação confirmou, por meio de nota, que os ‘policiais investigados estão afastados das ruas e fazem funções administrativas’. Segundo a PM, seis dos indiciados seguem no 6º BPM (Tijuca), onde o grupo atuava quando foi investigado.

O tenente-coronel Márcio de Oliveira Rocha, ex-comandante da unidade, pediu exoneração do Tribunal Regional Eleitoral (TRE) no dia seguinte à publicação da primeira reportagem e voltou a integrar a Diretoria Geral de Pessoal (DGP), a ‘geladeira’ da PM. Em agosto do ano passado, três meses após escutas indicarem a liberação de três motos por determinação do comandante, Rocha deixou o 6º BPM para assumir o Batalhão de Choque.

O deputado estadual Altineu Cortes (PR) criticou a omissão da Polícia Militar no episódio e revelou que irá cobrar providências da Corregedoria Geral Unificada (CGU). “É uma vergonha a omissão da cúpula da PM nesse caso claro de corrupção. Será que é porque envolve oficiais?”, questionou.

O MP indiciou os policiais militares, acusados de arrecadarem mais de R$ 100 mil por mês, por formação de quadrilha, corrupção passiva, organização criminosa e prevaricação.

ESCUTAS

29 DE MAIO DE 2013

Acidentalmente, segundo o MP, Adalci deixa o celular ligado, o que possibilitou o grampo telefônico de uma conversa com os sargentos Marcelo Pereira Mariano e Márcio Luiz Sigolo Bastos sobre cobranças de propina da quadrilha fardada.

Marcelo - “Tem uma obra ali na Jaguari. Pode meter a p..., hein!”
Sigolo - “É na Rua Araxá”.
Adalci - “Não, tava falando com o tal de Marcelo. É o Marcelo lá da...”
Sigolo - “Da Charlie (setor C). É também”.
Marcelo - “Ih, não. Não tem nada com ele. Empurra mesmo, parceiro”.
Sigolo - “Mas tem uma coisa que eu quero te falar. Porra, aquele negócio daquelas van ali do... do Alto da Boa Vista pra Barra. Acabou, né?”
Adalci - “Acabou”.
Sigolo -“Mas à noite tá rodando...”
Adalci - “Que horas?”
Sigolo - “Nós pegamos ali passando. Nem sei que horas que eles saem. Vou apelar com eles”.
Adalci - “Não apela, não. Porque é o seguinte. Eu te falei, filho. Vai ter que depender de sexta-feira. Se eles vão pagar ou não.”
Sigolo - “Falou que não tá pagando...”

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