Por adriano.araujo

RIo - Pré-candidato ao governo do Rio, o deputado federal Anthony Garotinho (PR), 54 anos, quer todos os candidatos à Presidência em seu palanque, apesar de dar pistas de sua preferência pela dupla Eduardo Campos/Marina Silva.

Em plena campanha, o aspirante a herdeiro do brizolismo sonha em voltar ao comando do estado para ressuscitar programas sociais como cheque-cidadão, farmácia e restaurante popular. Garotinho não poupa críticas aos adversários e diz que “virou uma espécie de Geni” do Rio. “Tudo é culpa minha”, reclama. E ataca as Unidades de Polícia Pacificadoras (UPPs), que, em sua opinião, se resumem a latões instalados nas comunidades.

ODIA: Como estão as alianças em torno de sua candidatura?

GAROTINHO: Por enquanto, só estou com o PT do B, que vai apoiar o Aécio Neves. Vem aí o Aecinho, que é Aécio e Garotinho.

É sério isso?

Não. Vamos fazer uma prévia com 120 mil filiados para decidir quem vamos apoiar. Tenho feito votações informais, e a maioria está dividida entre não apoiar ninguém e apoiar Eduardo Campos e Marina Silva.

Então está mais para Eduardo e Marina?

Está mais para ninguém. Já fizemos um anúncio que ficou muito bom. Pegamos um empresário, que diz: “Olha, acho que o Brasil precisa de mudança. Por isso meu voto é de Aécio Neves. Mas, para governador, o cara que fez pelo interior foi o Garotinho. Então, meu voto é Aécio presidente e Garotinho governador”. Depois, entra uma moradora da Baixada, que diz “Gosto muito dos programas sociais que o Lula fez e a Dilma continuou, mas o cara que fez programa social no estado, o cheque-cidadão e o restaurante popular foi Garotinho. Por isso, voto Dilma presidente e Garotinho governador”.

Depois, aparece um jovem que diz “Meu voto é de princípios, e em política tem que ter princípios como a Marina. Tem que ter valores, defender a família, como o Garotinho. Por isso, eu voto Eduardo e Marina para presidente, e Garotinho governador.” Aí entra um off que diz: “Presidente, cada um tem o seu. Mas governador todo mundo é Garotinho”.

"O governo acabou com a política de segurança e colocou latões nas comunidades. Se tirar o latão%2C não sobra nada "%2C diz Garotinho sobre UPPsMárcio Mercante / Agência O Dia

E se o candidato fosse o Lula?

Me dou bem com a Dilma, mas com Lula não falo há anos, desde que recusei o convite para ser ministro.

E por que recusou?

Eu precisava ficar no Rio para dar uma força para a Rosinha no governo dela. Aí o Zé Dirceu disse, botando pilha, “Ele não quer ser seu ministro porque está torcendo para o seu governo dar errado. Ele quer o seu lugar”. Aquilo ficou na cabeça do Lula, e ele começou a me perseguir: 80% das perseguições ao governo Rosinha foram da Globo e do governo federal em cima de mim.

Que perseguição é essa de que o senhor fala?

Assim que eu assumi o governo, fizemos uma auditoria e descobrimos que todos os seguros eram feitos pela Roma seguradora. É Roma de Roberto Marinho, as iniciais. Cancelamos o contrato, fizemos uma licitação e a empresa que ganhou, ganhou pela metade do preço. As salas de Telecurso no Rio eram colocadas pela Fundação Roberto Marinho. Milhões. Cancelamos o contrato e licitamos. Ganhou o Senai por valor 30% menor. Deu para entender por que me perseguem.

Mas dizem que o senhor briga com todo mundo.

É mentira. A primeira vez que houve alinhamento entre os poderes no Rio foi o meu governo com o Fernando Henrique. Reabri todos os estaleiros que foram fechados, renegociei dívida do estado, fiz o polo gás-químico em Caxias, viabilizei o financiamento do BNDES para a Peugeot/Citröen. Foi só alinhamento. Briga zero.

O descontentamento com os gastos da Copa pode jogar por terra esse discurso de que o entrosamento foi positivo?

O Brasil não poderia ter aceitado fazer essa Copa. Não dá para o Brasil gastar R$ 38 bilhões sem saneamento, hospitais e escolas, e o povo vendo construir estádio em Brasília que, depois da Copa, vai sediar Gama x Sobradinho, clássico que reúne 4 mil pessoas (risos).

O senhor está torcendo para a Copa dar errado?

Não! Quero a Seleção campeã, mas não quero o povo perdedor. Nessa brincadeira toda, só tem três grandes ganhadores: a Globo, que tem o direito de transmissão e já ganhou tudo o que poderia ganhar, recorde histórico de faturamento; a Fifa, que teve lucro quatro vezes maior do que na Alemanha; e os empreiteiros. Estes são os grandes ganhadores. A seleção a gente ainda vai ver se vai ganhar. Tomara. Mas estes três já ganharam.

Caso haja manifestação às vésperas da Olimpíada, qual será sua orientação à Polícia Militar?

Se o povo quiser protestar, gritar contra a Olimpíada, não haverá problema. Mas a polícia deve agir com energia em caso de vandalismo, de depredação de carros, bancas de jornais, mobiliário urbano são coisas inaceitáveis.

E o senhor é acusado pelo governo de estar por trás dos protestos. O que o senhor tem a dizer?

Sou a Geni da vez. Os erros deles agora são culpa minha. Greve de bombeiros? Culpa do Garotinho. Greve de garis? Culpa do Garotinho. Greve de professores? Culpa do Garotinho. Passeata de protesto? Culpa do Garotinho. Incrível, não?

Também o acusam de não ter feito nada pelo Rio de Janeiro.

Então vamos aos números. Cabral e Pezão construíram mil casas. Eu construí 28 mil. Eles fecharam 203 escolas! Hoje são 130 mil alunos a menos que há sete anos. Pega homicídio doloso e junta com desaparecidos. No governo dele dá o dobro do meu governo. Latrocínio dá uns 1000% a mais. Sequestro, cheguei a zerar. Não havia um sequestro no estado, mas semana passada foram três em cativeiro com pagamento de resgate. Tá bom?

O que o senhor faria com as UPPs?

A polícia, em qualquer lugar do mundo, é o último recurso. Quando falham a família, a escola, a igreja, chama a polícia. Mas eles querem colocar como primeiro recurso. Não funciona. Vamos recuperar todos os programas de prevenção que o Cabral acabou. Jovens pela Paz, Reservistas da Paz. Naldo, o MC, foi do Jovens pela Paz. Depois, modernização do aparelho policial. Fiz as delegacias legais, a sede do Bope, laboratório de DNA, primeiro projeto piloto de UPP no morro do Cavalão. A PM usava revólver 38 quando comprei as primeiras pistolas. E, por último, repressão qualificada. Mas como vai ter isso com um policial que treina apenas seis meses? Por isso, eles estão morrendo e matando inocentes. Vou criar companhia legal, com defensor, programas sociais, médicos, dentistas, carteira de trabalho, identidade. Tem que levar cidadania, não só policia.

Mas não teve nada das UPPs que deu certo?

Converse com os policiais civis e militares. Eles são testemunhas. O que o Sérgio Cabral fez foi colocar um latão (contêiner) na comunidade e chamar de UPP. Isso é política de segurança? Se tirar o latão, fica o quê?

E na educação, quais seus planos?

O que fizemos no meu governo e que o Sérgio acabou é com o reforço escolar. O aluno chega da escola da prefeitura despreparado. Então, tem que haver na parte da tarde o reforço escolar. E aí acaba sendo escola de tempo integral porque estuda regularmente pela manhã e à tarde tem o que o filho do rico tem, o professor particular. É isso o que queremos: implementar para caminhar em direção ao ensino em tempo integral. Mas, nesse governo, foram fechadas 203 escolas públicas. Se a turma tem 20 alunos, eles acham que é pouco e fecham a escola. Pode isso?

O senhor cortaria o ponto dos professores?

O governo tem que dialogar e não dialoga. Depois de um longo diálogo, se não chegar a acordo nenhum é preciso tomar uma posição. Mas sem dialogar, como neste caso, fica difícil. Um governo que coloca um economista com nome de pastel para ser secretário de Educação (Wilson Risolia) é brincadeira. Se a sala de aula tiver 20 alunos, ele fecha a escola. Este é governo Cabral. O programa é colocar ar-condicionado na escola — e alugado, para ganhar comissão. Porque comprado não tem graça.

O debate sobre a legalização da maconha está de volta à pauta. O Uruguai decidiu legalizar e estatizar a produção. O que o senhor pensa a respeito?

Sou contra. As experiências mais avançadas do mundo foram na Holanda e retrocederam. Foi um equívoco. O gasto com saúde na Holanda aumentou em 800%, e o sistema de saúde foi à bancarrota. E todo mundo dos países vizinhos foi para lá se drogar. Foi uma loucura. Fazer no Uruguai, com 1/4 da população do Rio, é uma coisa, mas para o Brasil é outra.

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