Rio - A maior baixaria da história da Assembleia Legislativa. Esta era a frase mais ouvida nos corredores do Palácio Tiradentes no fim da tarde de ontem, após uma discussão mais do que áspera entre os colegas Domingos Brazão (PMDB) e Cidinha Campos (PDT). O bate-boca começou na reunião do Colégio de Líderes, que revê o Código de Ética da Alerj. Cidinha quis apresentar duas emendas ao novo código quando foi questionada por Brazão, que ironizou a preocupação da deputada com a ética parlamentar com palavrões e ofensas.
O deputado acusou a colega de “estar no bolso do Cabral”. Indignada, Cidinha rebateu dizendo que nunca tinha sido presa, a exemplo do que aconteceu com Brazão, que reagiu chamando a deputada de vagabunda e puta aos gritos. “É melhor ser puta do que ser matador e ladrão”, rebateu a deputada.
Neste momento, foi preciso que deputados apartassem a discussão, mas Brazão continuou em tom ameaçador. “Mando matar vagabundo mesmo. Sempre mandei. Mas vagabundo. Vagabunda eu ainda não mandei matar”, teria berrado o deputado, de acordo com o relato de vários parlamentares e funcionários da Alerj.
“Por sorte, não havia ninguém armado na casa. Se houvesse, certamente eles teriam se matado e ferido alguns colegas. Nunca ninguém viu nada parecido aqui”, disse um dos presentes à reunião. A confusão continuou no plenário da Assembleia. Tão logo foi aberta a sessão, Cidinha pediu a palavra para relatar o ocorrido e criticou os colegas por não terem prestado solidariedade a ela.
“Não tem mais homem nesta casa que seja digno de usar calça comprida, porque, se houvesse algum homem aqui, teria me defendido e dado um soco na cara dele”, protestou Cidinha. Brazão voltou à carga e alfinetou: “A nobre deputada vem falar de ética, mas está na lista do jogo do bicho, nobre deputada.” Cidinha deu troco em plenário revelando o que havia acontecido na reunião do Colégio de Líderes.
“Não venha aqui, agora, me chamar de nobre deputada se há cinco minutos me chamou de puta e vagabunda”, protestou. No início da noite, Cidinha Campos foi à Delegacia de Atendimento e Proteção à Mulher (Deam) registrar queixa contra Domingos Brazão. A deputada estava muito abalada. “Trabalho desde os 7 anos de idade. Já fui de tudo na vida. Sou casada há 41 anos com o mesmo marido. Se tem uma coisa que eu nunca fui na vida é puta. Vim à delegacia para poder ir para casa e ter coragem de olhar para os meus filhos”, disse.
TV Alerj sai do ar e nada é registrado
O bate-boca no plenário da Assembleia Legislativa fez o presidente Paulo Melo (PMDB) pedir a retirada do ar do sinal da TV Alerj. As notas taquigráficas, que registram os discursos dos deputados, também foram apagadas.
“Pior do que os discursos no plenário foram as ofensas no Colégio de Líderes. Brazão e Cidinha não se bicam há muitos anos, mas ver um parlamentar que almeja ser presidente da Casa falar que mata e manda matar, assim, na frente de todo mundo, gerou um constrangimento em todos”, contou um funcionário da Casa. O deputado Jânio Mendes (PDT) disse que vai abrir uma representação contra Cidinha e Brazão no Conselho de Ética. Clarissa Garotinho (PR) e Marcelo Freixo (PSOL) manifestaram solidariedade à Cidinha.