Rio - O padrão Fifa de qualidade não vale para a Polícia Militar. Os alojamentos dos 625 homens, efetivo do Batalhão de Grandes Eventos, que mantém 100 de prontidão por dia, está longe de ser, no mínimo, adequado. A tropa atua em situações de emergência, como manifestações, e recebeu reforço para o período da Copa. Fotos obtidas pelo DIA das instalações do Batalhão de Choque (BP-Choque), que acolhe os PMs, mostram a sujeira, má conservação do teto, lixo no chão, falta de camas, ventiladores e aparelhos de ar-condicionado.
Para escapar do calor, os policiais forram o chão com papelão do lado de fora dos alojamentos. A pedido da reportagem, o deputado estadual Flávio Bolsonaro (PP), vice-presidente da Comissão de Segurança Pública e Assuntos de Polícia da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), constatou, ontem à tarde, a dura realidade dos locais denunciada pelos militares. “Parece que a PM foi surpreendida com a Copa”, criticou Bolsonaro.
O parlamentar anunciou que na segunda-feira vai pedir ao presidente da Alerj, Paulo Melo, do PMDB, para destinar ao BP-Choque, pelo menos, R$ 150 mil dos R$ 70 milhões transferidos da Casa para os cofres do governo, no mês passado. A verba é para a Secretaria de Segurança investir no projeto das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) e foi pedida pelo governador Luiz Fernando Pezão (PMDB).
“O policial já tem uma escala desumana e ainda fica em instalações insalubres. É preciso obras emergenciais nos alojamentos, instalar ar-condicionado e contratar pessoal de limpeza. Os próprios PMs fazem a faxina”, afirmou Bolsonaro. Segundo ele, os 100 militares ficam de prontidão de oito a dez horas por dia. Armários velhos servem como uma espécie de divisória no alojamento. Há 50 camas, mas muitas delas não têm colchões.
PM nega os problemas
A Polícia Militar garantiu ontem, em nota oficial, que os alojamentos têm quantidade suficiente de armários e beliches. No documento, a assessoria de imprensa da corporação informou que o Batalhão de Policiamento de Grandes Eventos (BPGE) funciona nas antigas instalações do extinto 1º BPM (Estácio), dentro do Batalhão de Choque (BP-Choque), no Centro.
Em outro trecho, a PM explica que, como o prédio é centenário, a maioria das obras acontece gradualmente. A corporação explicou ainda que planeja melhorias no local. O comandante da unidade, tenente-coronel Heitor Henrique Pereira, informou que a tropa dispõe de alojamentos com armários e beliches, além de colchões em quantidade satisfatória para atender às escalas de serviço. Há água potável no bebedouro na entrada do alojamento. A PM, no entanto, não deu explicações sobre a sujeira e ainda a falta de ventiladores ou aparelhos de ar-condicionado no local.
Deslocamento também é problema
Deslocamento de policiais convocados para o Comando Especial de Policiamento para a Copa (Cepcopa), que tem 1.900 homens, virou tormento para quem vive no interior do estado. Em levantamento feito pelo deputado estadual Flávio Bolsonaro (PP), 145 militares moram longe do Centro.
Um militar que reside em Santo Antônio de Pádua, Noroeste Fluminense, a 255 quilômetros do Rio, gasta R$ 1.680 de ônibus por mês, quando a ajuda de custo é de apenas R$ 100. “O policial não tem dinheiro para isso. Então, muitos, apesar de trabalhar 12 horas e ter direito a dois dias de folga, preferem ficar no Rio”, disse Bolsonaro. Em nota, o coronel Ezequiel Oliveira de Mendonça, comandante da unidade, informou que os alojamentos têm ar-condicionado e que há beliches e armários novos suficientes para os policiais.
Rodízio para voltar para casa sentado
A Polícia Militar colocou quatro micro-ônibus para transportar o efetivo que vem de Campos e Macaé. Mas quem é do 28º BPM (Volta Redonda) e está temporariamente no Cepcopa diz que está pagando a volta para casa do próprio bolso. “Vou pedir essas informações oficialmente para saber se isso supre a necessidade”, afirmou Flávio Bolsonaro.
Somente de Volta Redonda são 58 PMs. Cada um deles vai desembolsar R$ 500 por mês, caso não sejam escalados para trabalhar na segunda folga. “O ônibus tem 46 assentos e temos que fazer rodízio para que ninguém seja obrigado a viajar em pé. Fazer esse deslocamento por conta própria é inviável, cansativo e acabamos tendo que alugar um ônibus, que cobra R$ 1.300 por viagem”, contou um dos policiais.