Por marlos.mendes

Rio - Morreu nesta sexta-feira, aos 91 anos, a cantora Marlene, uma das 'Rainhas do Rádio' que fez sucesso em todo País com Emilinha Borba e outras vozes na chamada era de ouro da Rádio Nacional. Victória Bonaiutti de Martino, nome de batismo da cantora, estava internada no hospital Casa de Portugal, no Rio Comprido. A causa da morte não foi revelada. O velório de Marlene será neste sábado, no teatro João Caetano, no Centro. 

Jacqueline Laurence e Marlene (à direita). Marlene, uma das Rainhas do Rádio, faleceu nesta sexta-feiraReprodução Internet

De família de origem italiana, a paulistana Victoria Bonaiutti de Martino, nascida em 1924, ingressou no meio artístico contra a vontade dos pais em 1940, na Rádio Tupi de São Paulo. Em 1943, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde passou a atuar nos cassinos Icaraí e da Urca. Com o fechamento dos cassinos, foi trabalhar nas emissoras de rádio da então capital federal.

Foi na Rádio Nacional, onde estreou em 1948, no Programa César de Alencar, que Marlene alcançou imenso sucesso popular e protagonizou uma disputa com a maior estrela da emissora na época, a cantora Emilinha Borba. O auge da disputa, que mobilizava os fãs-clubes das duas cantoras, foi a votação da Rainha do Rádio de 1949, vencida por Marlene de forma espetacular, com o apoio publicitário de uma fábrica de bebidas.

Eleita Rainha do Rádio, Marlene ganhou um programa exclusivo na Nacional, Duas Majestades, e uma participação no Programa Manoel Barcelos. A rival Emilinha, por, sua vez, era a estrela exclusiva do Programa de César de Alencar. Intérprete de sucessos como "Lata d'Água na Cabeça", "Zé Marmita", "Sapato de Pobre", "Que nem Jiló" e "Mora na Filosofia", Marlene ambicionava mais do que ser a cantora de sambas e marchas populares durante o período carnavalesco.

Além dos discos em 78 rotações, gravou, a partir de 1956, mais de 30 LPs, entre eles uma série, em 1968, para o Museu da Imagem e do Som (MIS), em que revivia a história do carnaval. Um de seus últimos trabalhos foi o CD e DVD Marlene, a Rainha e os Artistas do Rádio, gravado no histórico auditório da Rádio Nacional e lançado em 2007.

Com o então marido, o ator Luís Delfino, passou a contracenar na Nacional no programa "Marlene, meu Bem". Atuou também no teatro musical, fazendo turnês por todo o país, no teatro dramático, onde se destacou em 1973 na peça Botequim, de Gianfrancesco Guarnieri, e no cinema, tendo participado de 11 filmes, entre 1944 e 1982.

A carreira internacional também teve destaque nos anos 50, com turnês pela América do Sul, pelos Estados Unidos e na França, onde cumpriu temporada de quatro meses no Teatro Olympia, em Paris, a convite da cantora Edith Piaf, que a conheceu no Rio. Por decisão da família, o corpo de Marlene será velado a partir das 8h de amanhã no Teatro João Caetano, na Praça Tiradentes, Centro do Rio, onde ela atuou em diversos musicais e shows. Ainda não há local e horário marcados para o enterro.

Viva-voz - Leandro Souto Maior - Músico e jornalista, 41 anos

Em março do ano passado, o caderno O DIA D publicou em sua capa uma entrevista com a jornalista Diana Aragão sobre sua recém-lançada biografia de Marlene, ‘A Incomparável’. Sérgio Henrique, filho da cantora, me contactou reclamando que ele e sua mãe não gostaram de uma declaração da autora e gostariam de ser ouvidos.

E foi assim que fui convidado a passar uma emocionante tarde com eles, no apartamento da eterna Rainha do Rádio, na Rua Siqueira Campos, em Copacabana. Eu e o fotógrafo André Luiz Mello encontramos uma senhora de 90 anos cheia de vida e muito divertida, e o papo foi repleto de nostalgia. “Tenho muitas saudades de tudo o que vivi. Foram muitos anos de trabalho, mas minha perna esquerda me obrigou a adiantar meu descanso. Levei um tombo, quebrei o fêmur e sei lá mais o quê”, resignou-se a diva.

Ela morava apenas com o papagaio Rivelino (“Ele é muito afinado, parece um verdadeiro cantor”), companheiro há 40 anos, e tinha a atenção diária da cuidadora Maria e do filho. “Ouço música o dia inteiro. Canto para mim mesma, coisas de tudo quanto é ritmo, até as novidades. Mas a música é em segundo lugar. Em primeiro, vem o amor”, ensinou.

Com informações da Agência Brasil


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